Prólogo ✨

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Por volta das 19h00 começo a preparar o jantar. Logo escuto o barulho do portão, são eles: Ana e meu pai.

Humberto: O rango tá pronto? - entra  caindo de bêbado.
Renatinha: A-ainda não, - gaguejo - mas já tá quase pronto.
Ana: Mas é uma vagabunda mesmo. - murmura enquanto se aproxima.
Renatinha: Desculpa. Eu me atrasei porque estava terminando de limpar o quarto de vocês!
Ana: Como disse? - parou atrás de mim e puxou meu cabelo.
Renatinha: Eu limpei o quarto de vocês e por isso atrasei o jantar.

Fecho os olhos e me preparo para sentir a surra.

Ana: Eu não acredito que você mexeu nas minhas coisas, sua vagabunda de merda. - falou enquanto puxava mais meu cabelo. - você por a caso mexeu nos pacotes que estavam na mesinha de cabeceira?
Renatinha: Aqueles pacotes imundos? - falei e fiz uma careta - joguei fora! Estavam deixando o quarto fedido.
Ana: Eu não acredito - pressionou a mão sobre meu pescoço - eu vou te matar!

Percebi, enquanto era enforcada na cozinha por Ana, que meu pai levantou do sofá e veio em nossa direção.

Humberto: Deixa comigo.

Ana me soltou e nesse momento, apenas senti o ardor em meu rosto. Aquele lixo, que nem posso chamar de pai, me deu um tapa bem forte. Perdi o sentido por alguns segundos mas logo voltei, e percebi que os dois estavam brigando.

Ana: Eu preciso do pó, caralho! E essa vagabunda jogou tudo fora - disse enquanto saia do quarto.
Humberto: Você não tem nenhum tostão?
Ana: Não. Vo ter que pedir pros caras do Carioca vender fiado, de novo. - ela parecia estar bem apreensiva.

Os dois vão embora, me levanto e vou para meu quarto, e sem me dar conta adormeci em meio às lágrimas.

Já era de manhã, olho no celular e marcava 8h00. Me levanto e vou tomar um banho, para relaxar. Precisava ir até a vendinha do Manuel para comprar pão, porque os dois nojentos gostavam de comer pão fresco pela manhã.

Coloco um cropped, shorts, havaianas, penteio  o cabelo e vou. No meio do caminho, sempre tem os "caras" do chefe parados vigiando o movimento. Desde que cheguei de São Paulo, sempre fiquei amedrontada com esses caras com fuzil na mão, mesmo eu vindo de favela.

(...)

*Carioca narrando*

8h00 chego na boca e logo já aparece o Alemão enchendo minha oreia logo cedo.

Alemão: Eai chefe. Vô logo passa a visão, ontem a noite depois que você saiu, veio dois malucos de caô pra cima de nois, fala que precisavam de mais pó.
Carioca: Ih, qual foi? Não vendeu?  - falei bravo.
Alemão: Eles tão devendo mais de 15 conto.
Carioca: Então cobra essa fita.
Alemão: Eu dei até hoje pra desenrolar, falei que tu queria a porra do dinheiro logo.
Carioca: Belê, então bora lá!
Alemão: Pode deixa que eu e o Vitinho vamo lá cobra aquele cara e a vagabunda da mulher dele.
Carioca: Eu quero ir pessoalmente. - dei dois tapinhas no braço do Alemão e entrei pra bolar um baseado.

Fomos até a casa do mané, chegando lá deixo dois vapores no portão e entro.

Carioca: Eai, qual foi seus bostas? - entro e vejo os dois deitados no chão da sala.
Ana: Satisfação Carioca. - levantou e foi até mim - o que devo a hon...
Carioca: Já vô passar a visão. Quero meu dinheiro porra.
Humberto: Então, Carioca nois não tem o dinheiro agora... e nem nada...
Alemão: Ela e tu vão na porra da boca pra pedir mais droga sendo que nem pagaram as dívidas? Nois tem cara de trouxa?

Nesse instante um dos vapores me passa a visão pelo rádio, que tem uma piranha no portão querendo entrar, dizendo que mora ali.

Humberto: Deve ser a Renata, minha filha. - interrompeu e então eu autorizei que ela entrasse.

*Renatinha narrando*

Chego na rua de casa e me deparo com 2 menor parados no portão de casa. Algumas vizinhas passa por mim me encarando.

Renatinha: Qual foi? - falei pros dois parados no meu portão.
Xxx: Eai piranha, Tá malucona? Vai entrar não.
Renatinha: Eu moro aqui...
Xxx: O chefe ta lá dentro fazendo a cobrança, não pode entrar. - me interrompe.
Renatinha: Me deixa entra - tentei entrar, mas fui empedida pelos vapores do tal "Carioca".

Um deles fala no rádio, enquanto eu espero pra poder entrar na MINHA casa, era só o que faltava.

Xxx: O chefe autorizou sua entrada. - sorriu forçado pra mim, o que me irritou.
Renatinha: Tá vendo seu lixo! - falei enquanto o olhava com ódio.
Xxx: Respeito comigo hein, piranha. Se não eu acabo com tu aqui mesmo tá?
Renatinha: Tá tá, sai...
Xxx: Vulgo Ph - interrompeu.
Renatinho: Tanto faz...
Ph: Vai vai logo, antes que eu perca mais minha paciência.

Entrei, olhei e tinha três caras parados na sala, cada um com um fuzil, olhando para Ana e meu pai ajoelhados. Confesso que achei graça em vê-los sofrendo.

Xxx: Então você... é filha desse lixo? - olhou pra mim com jeito admirado.
Renatinha: Infelizmente. E moço, o que tá acontecendo?
Xxx: Moço não, vulgo Alemão. - falou sorrindo.
Renatinha: Desculpa.
Alemão: Os dois - disse enquanto apontava o fuzil na cara do meu pai - tá devendo uma graninha pra nois, né Carioca?
Carioca: Eu quero meu dinheiro agora, porra. - olhei com medo, então ele era o famoso "Carioca".
Humberto: Eu tô sem dinheiro agora... m-mas você pode levar...
Ana: A Renata, ela sabe cozinhar, passar, limpar e pode ser útil, não? - perguntou em tom de dúvida pro meu pai.
Humberto: Ela não é grande coisa mas acho que pode servir de pagamento da dívida, hein Carioca. - sorriu.

O chefe olha pra mim com jeito de quem gostou da ideia.

Renatinha: E-eu?... mas - gaguejei por estar nervosa.

Ele me rodeou enquanto me analisava de cima a baixo, me deixando apreensiva. Nunca tinha visto um homem com um FUZIL tão de perto. Eu só queria fugir, mas não podia, era certo que eles atirariam em mim.

Carioca: Acho que pode - olhou pra mim com olhar malicioso.  - deve servir pro puteiro.
Renatinha: Q-que? - não estava acreditando que lixo estava tendo a coragem de me vender pra sustentar seu vício e outro de me comprar.
Alemão: Tá louco Carioca? A menina é di menó, ela não tem nada haver com as paradas do pai dela. - falou incrédulo.
Carioca: Foda-se Alemão, peguem ela.

Então o Alemão e o outro cara, que não tinha aberto a boca até então, vem em minha direção.

Xxx: Bora? - olhou sorrindo pra mim e me puxou pelo braço, enquanto Alemão me puxava pelo outro.

(...)

Me digam se gostaram?

VENDIDA AO DONO DO MORROOnde histórias criam vida. Descubra agora