Invisible String

Imagine eu e você

Helena escolheu uma sorveteria próxima ao condomínio. Assim que chegaram ao lugar, Laura correu até as opções de sorvete. Antes de escolher qualquer um dos sabores, ela se virou para a tia.

"Titia, posso me servir sozinha?" Helena sorriu e assentiu. Incentivava uma educação mais independente na sobrinha, que estava acostumada a ser tratada como um bebê pela mãe e o pai. "Oba!" Laura deu pulinhos de alegria e pegou um pote pra pegar seus sabores favoritos.

"Eu não sei se posso furar a dieta assim" Clara comentou atrás delas.

"Ah para com isso, Clara, você tá ótima!" Helena sorriu admirando a mulher.

" Eu voltei aos treinos ontem, mas tá bom, acho que posso me dar ao luxo."

Clara acabou escolhendo apenas duas bolas de sorvete e quando todas haviam pegado os seus, foram se sentar em uma mesa no cantinho do estabelecimento. Laura tomava o sorvete com uma calma admirável, dividindo sua atenção entre isso e o jogo no tablet. Não demorou para que a menina ficasse alheia à conversa da tia com a amiga.

"Eu não fazia ideia de que você tinha uma sobrinha, você não me conta nada da sua vida. Sinto como se não soubesse quase nada de você." Helena riu, de fato falava bem pouco sobre si. Era costume. "Se eu não soubesse que isso é impossível, diria até que você mora na academia do meu prédio."

Helena soltou uma gargalhada.
"Eu moro num prédio de um condomínio um pouco mais longe, bem mais em conta que o seu. Tenho um irmão, o Fernando, e a Laura de sobrinha. Tenho algumas plantas e gosto de ler. Melhorou?" Clara sorriu de lado, satisfeita por saber um pouco mais sobre Helena. Sentia como se fosse ser interessante descobrir o resto por si só.

"E como é sua relação com seu irmão? Vocês são muito amigos?"

Laura descansou os fones nos ombros por um momento, soltando a cabeça trás e rindo, uma risada que lembrou Clara da risada de Helena.
"Eles vivem implicando um com o outro, acho que amigos não seria bem o caso"

"Laura, você sabe que eu amo o seu pai. Mas ele é imaturo pra idade, um pouco desleixado com as suas coisas. Minha implicância tem motivo." Helena se justificou. Fernando realmente era imaturo para um homem de 32 anos e o mesmo sabia disso. Helena não tirava a razão de leitica em pedir o divórcio depois de dez anos de casamento com um menino preso ao corpo de um homem.

"O papai é bagunceiro mesmo. Hoje cedo ele só foi enfiando minhas coisas na mochila, sem organizar nadinha" Laura fez uma careta.

"Sim, eu arrumei tudo de novo, dobrei suas roupas, coloquei as vitaminas na ordem dentro da bolsinha." Helena sorriu para a criança, vendo a boquinha da menina suja de sorvete de chocolate. Pegou um guardanapo e limpou.

"Obrigada, tia Helena." os pés de Laura balançavam da cadeira alta, de onde não alcançava o chão. Era um pouco baixa pra idade, como a mãe era na idade dela.

"Família tem dessas coisas. Acho que é coisa de homem. O Theo nunca nem trocou uma fralda, que dirá organizar mochila. Mas e seus pais?" Clara perguntou à Helena.

"Prefiro não falar do meu pai. Minha mãe é meio naturalista. Foi passar um tempo no recanto paz de Lumiar."

Clara não podia acreditar na coincidência.
"Os donos desse lugar são pais da minha amiga. Ela não parece nada com eles, detesta o estilo de vida."

"Eu conheço a Lumiar. Namorei a cunhada dela."

Clara até tentou se aprofundar no assunto, mas foi cortada por Helena que mudou o rumo da conversa e em seguida por Laura.
"Você tem filho?"

"Tenho, mas ele já é um homem, tem 20 anos."

"Nossa, você é muito bonita pra alguém que tem um filho dessa idade" Laura sorriu. "Não, é, tia?"