Bom comportamento

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"É verdade, mãe? A Helena matou o Theo?!" Rafael ainda estava esbaforido da correria pelo corredor do prédio, Clara se encontrava abatida e era consolada por Lumiar no sofá da sala.

"Sim, filho." respondeu em um fio de voz.

"Eu preciso falar com ela, onde ela tá?!"

Lumiar tomou a frente, deixando Clara descansar, se aproximou do afilhado.

"Na delegacia, vai passar essa noite lá."

"Me leva até lá, por favor. Eu sei que você consegue com quem eles me deixem ver ela"

Clara se levantou de onde estava, repentinamente aflita. Não havia como não estar, e seu instinto materno a dizia que Rafael não estaria indo ver a madrasta com boas intenções.

"Por que você quer ver a Helena?!"

"Eu preciso, mãe!"

"Eu vou com você e nem adianta dizer que não."

Lumiar soltou um suspiro pesado, cansada da situação. Era óbvio que haveria um conflito ali ou na delegacia, no entanto, pensava ser um direito de Helena ver Clara e Rafa.

"Eu vou dar um jeito de vocês conseguirem vê-la ainda hoje. Mas já vou avisando, se vocês começarem a gritar uns com os outros, vão ser retirados a força. Me ouviram?" Clara e Rafael concordaram com um aceno de cabeça.

***

Rafael estava a frente da mãe e avistou Helena primeiro. A mulher usava uma calça jeans e uma blusa branca decotada, trazendo em seu rosto uma expressão cansada e triste. Helena tinha a cabeça apoiada em uma das paredes da cela, enquanto algumas lágrimas desciam dos olhos.

"Rafa, por favor, eu tô te pedindo, meu filho..." Clara embargou a voz. "Não seja duro com ela, por favor."

Rafael deu seus três últimos passos, ficando encostado na grade da cela, Helena o olhou com os olhos marejados imediatamente.

"Rafa, Clara" sua namorada se afastou, deixando apenas o filho próximo o suficiente para ser tocado.

Helena tentou buscar a mão de Rafa, que rejeitou o toque.

"Helena, eu nunca pensei que te veria na cadeia um dia. Sempre imaginei isso para o meu pai." suspirou, sentindo lágrimas arderem também em seus olhos. "Por que você fez isso?" Clara fez um sinal claro e negativo para Helena. Ela não queria que seu filho soubesse a profundidade do mau caratismo do pai. "Eu estou tão chateado, aqui dentro de mim tudo mudou. Eu sinto que não te reconheço."

"Rafa, por favor, não fala isso. Eu..."

"Me deixa terminar." nesse momento, Rafael foi quem buscou a mão da personal. "Eu sempre senti um vazio muito grande aqui dentro" colocou a mão da mulher sobre seu coração. "A forma como o Theo sempre me tratou, o tipo de pai que ele foi pra mim, isso me deixou um buraco enorme. Mas quando você conheceu minha mãe e vocês ficaram juntas, eu te coloquei nesse espaço do meu coração. Você sempre foi muito melhor que um pai, você era incrível, de verdade. As vezes em que você me levou até a terapia, nossas conversas sobre garotas e o dia que você tentou me arrastar pra um treino na academia." riram juntos, ainda fungando pelas lágrimas. "Tudo isso foi muito especial pra mim. Mas eu sinto que estou meio vazio de novo, não porque você vai ficar um tempo na cadeia, mas porque eu imaginei que você nunca fosse capaz de matar nem uma mosca. Pra mim, matar o Theo te torna como ele. Eu prometo continuar te respeitando, já que minha mãe parece querer continuar ao seu lado, mas não espere mais do que respeito. Eu não tenho mais admiração por você." Rafael não deu espaço para que Helena dissesse algo em sua defesa, apenas soltou sua mão e deu um toque gentil no ombro da mãe antes de sair.

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