Tá pequeno, mas pelo menos eu voltei. Então, vamos por partes u.u
Durante o percurso até o shopping, Sol pensou a respeito da possível estranheza de sair com a ex de seu ex para ver um filme. Se caso tornassem-se amigas com o tempo, poderia haver desconforto? Talvez não, afinal nenhuma delas estava em um relacionamento atual com Benjamin. No entanto, em que mundo aquilo era normal?
Lumiar estacionou em uma vaga um tanto apertada e Sol abriu a porta com cautela, com medo de atingir o carro ao lado. Elas caminharam para dentro, empolgadas para ver o filme, os saltos de ambas ecoando pelo piso, até que subiram pela escada rolante e fizeram a primeira parada, para a compra dos ingressos.
"Estão falando muito mal do filme, tô com medo de não gostar" Lumiar sorriu nervosa.
"Eu sou meio do contra, então acho que vou gostar" Sol sorriu, tentando amenizar a tensão estranha que parecia haver entre elas.
"Ah por favor, se for ruim, me fala, podemos sair no meio da exibição!"
"E fazer o que? Eu acho que seria um desperdício de viagem não passar essas duas horas com você"
Lumiar corou, vendo Solange sorrir após dizer tais palavras.
"Quer dizer, você despencou até piedade pra me buscar, não quero que seja viagem perdida. Eu não...Não quero que você pense que sou chata a ponto de sair no meio da sessão assim" Sol sentia um certo desconforto e nervosismo, como se estivesse em um encontro, apesar de não ser o caso.
O telefone da loira começou a tocar e Sol fez um sinal, indicando que ela deveria atender. Lumiar viu Clara no visor e deslizou o dedo pela tela, atendendo a chamada.
"Alguma notícia sobre o dia da audiência? Foi marcada?" a voz urgente da mulher atingiu sua advogada e amiga em cheio.
"Ainda não, Clara. Eu sinto muito." respondeu com serenidade.
"Ai Lu, eu não sei quando esse pesadelo vai terminar, não aguento mais."
"Assim que o juiz marcar, eu aviso você. Vai dar tudo certo, amiga."
"Eu espero que sim. Vou desligar, não quero atrapalhar você."
"Você não atrapalha, Clara." Lumiar sorriu. "Eu só preciso desligar porque estamos na fila e está quase na nossa vez"
"Que fila? E com quem você está?"
"Estou no cinema com a Sol."
Clara sorriu, se lembrando instantaneamente de todas as vezes em que Lumiar havia a convidado para ver o filme e ela não aceitou, porque queria estar com Helena.
"Divirta-se. Estou feliz que você finalmente vai ver esse filme"
***
Clara abriu uma garrafa de vinho, encheu uma taça e se sentou no sofá com um álbum de fotografias em mãos. Apesar de toda tecnologia do mundo atual, havia algo sobre fotos impressas, que se pode segurar em mãos, beijar e abraçar, sentir o cheiro, usar o sensorial para reviver os sentimentos. Era literalmente palpável.
Ao virar uma página, deparou-se com a foto de Helena sorrindo enquanto a segurava pela cintura em um dia cotidiano qualquer, na cozinha. Olhando para a imagem, de felicidade explícita, Clara sentiu o coração apertado, imaginando como faria para lidar com a ausência da namorada, talvez por anos. Ela estaria presente em cada metro quadrado daquele apartamento, mas apenas quando Clara se lembrasse dela e de seus momentos. Poderia sobreviver de memórias?
E agora, antes mesmo de uma sentença, Clara lamentava cada minuto não aproveitado ao lado de Helena. Cada abraço, cada beijo, cada toque que poderia ter durado mais. Cada pequeno momento que poderia ter sido prolongado.
Ela sentia falta do sexo, dos momentos de carinho, e até mesmo das brigas. As pequenas discussões que sempre terminavam em mais sexo, ou em momentos de romantismo com desculpas exageradas.Era raro ser amada com tamanha devoção? Porque, antes de Helena, o único amor genuíno que conheceu, fora materno.
Clara a queria de volta amanhã. No entanto, esperaria por anos.
Ela ouviu o barulho das chaves e ajeitou a postura no sofá, esperando que fosse o filho e provavelmente acompanhado da namorada.
"O Rafa disse que você não se importaria se eu passasse pra pegar a câmera que ele esqueceu. Ele tá com a Kate lá no Simas, ficou com preguiça de voltar."
"Ah, oi Jeni. Não, não me importo." Clara secou as lágrimas com as mãos, levantando do sofá. "Você quer alguma coisa? Uma água, um suco?"
Jennifer negou com a cabeça.
"Licença, vou lá pegar a câmera."
"A vontade."
Jeni voltou dois minutos depois com a câmera em mãos, Clara continuava na sala. A garota olhou para a forma como a mãe de seu irmão parecia abatida e pensou que deveria dizer alguma coisa.
"Vai dar tudo certo, a Lumiar é uma das melhores." disse, chamando a atenção de Clara, que parecia estar em outro planeta.
"Eu espero que sim, mas nós sabemos que crimes hediondos são complicados..."
Clara expressou certa confusão, curiosidade, disse:
"Você não sente raiva dela por ter matado o Theo? Mesmo que ele fosse péssimo, era pai de vocês.""Assim como o Rafa, eu tenho muito mais carinho pela Helena." Jeni sorriu, sentindo-se nostálgica. "Ela me conhece desde os meus dez anos de idade. Era a tia legal e descolada no meio de todos os crentes da família."
Clara riu e acrescentou "e sapatão"
"Hã?" Jennifer gargalhou em seguida.
"A tia legal, descolada e sapatão" Clara soltou um riso frouxo e melancólico. "A Helena me ensinou que eu posso falar assim, porque sou da comunidade."
"Claro, eu só achei engraçado"
"Você realmente não tem raiva dela?"
"Não. E eu não quero que ela fique muito tempo presa por isso. O Theo fez muitas pessoas sofrerem, não era um exemplo pra ninguém. Não fico feliz pela morte dele, mas não consigo sofrer como sofri pelo Carlão, que sempre vai ser o meu pai verdadeiro."
Clara entendeu, a convivência e o amor verdadeiro falavam mais alto que qualquer laço sanguíneo.
"Fico feliz em saber que você e o Rafa não guardam mágoa da Helena." sua expressão demonstrava cansaço, e ela estava, fisicamente e mentalmente. "Eu acho que vou tirar um cochilo"
"Tá bem, bom descanso."
Clara viu o celular tocar em cima da mesa de centro e logo atendeu.
"Clara, acabei de receber uma boa notícia!" sem oi, sem olá e sem cerimônia alguma, Lumiar fora direto ao ponto.
A curiosidade de Jennifer a fez ficar e ouvir a conversa.
"Fala logo, Lumiar Lorenzo!!" Clara gritou.
"A audiência foi marcada, próximo dia 13"
Ao fundo, era possível ouvir a voz de Solange comemorando e dizendo "aleluia, finalmente!"
"Daqui 10 dias começa nossa luta?"
"Sim. E eu desejo a você toda força do mundo, porque vamos precisar."
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Invisible String
FanfictionClara havia se esquecido de como era ser cuidada por alguém, há muito tempo não haviam borboletas em seu estômago e menos ainda, entusiasmo para estar em casa. Poderia Helena a lembrar de como era? Como era estar apaixonada e totalmente rendida por...