Invisible String

Pensando bem alto

Logo pela manhã, Clara despertou primeiro, sentindo os braços de Helena a envolverem. Uma perna estava jogada por cima da personal e as mãos dela abraçavam seu corpo com força. Clara sorriu, vendo Helena ressoar tranquila em seu sono e por um instante se pegou imaginando como seria ver aquela cena todos os dias. Mesmo com poucos meses de uma amizade com algo a mais, ela sentia que Helena era seu ponto de paz.

Se Clara pegasse tudo que Theo representava e a fazia sentir e colocasse do outro lado tudo que Helena a fazia sentir e tudo que ela representava, Helena era o completo e absoluto oposto de Theo. E tudo com ela era mais leve, era animado. Fazia Clara sentir-se capaz de realizar qualquer coisa. Era como se criasse super poderes ao lado dela.

"Bom dia, tá a quanto tempo aí me olhando?" Helena disse com os olhos fechados. E Clara ficou tímida, se perguntando a quanto tempo Helena estaria acordada.

"Bom dia, Lena." ela sentiu as mãos de Helena acariciando seu rosto e os olhos dela se fixando nos seus, com a luminosidade do sol deixando-os claros, de modo que era possível enxergar as pupilas quase totalmente dilatadas. "Eu posso te pedir uma coisa?"

"Qualquer coisa" sorriu.

"Me da um beijo?"

Helena aumentou seu sorriso, com o coração aquecido depois daquele pedido. A cada batida acelerada dentro do peito, tinha mais noção do quão rendida estava à Clara.

Segurando o rosto de Clara com suavidade, aproximou seus lábios abertos e encaixo-se em um beijo com a aluna, que se entregou totalmente ao momento, com uma mão apertando sua cintura. A língua de Helena entrou na boca de Clara tocando a dela, intensificando o beijo, que ainda conseguia expressar certa delicadeza. Helena parou o beijo dando vários selinhos em Clara.

"Pronto." sussurrou, com o rosto bem pertinho ao da mulher.

"Agora eu posso ter coragem de começar o dia" Clara se levantou, procurando por suas roupas para sair. Logo substituiu o pijama de Helena que usava, por suas roupas da noite anterior.

Quando as duas chegaram à cozinha, Rafael tinha feito café e estava colocando alguns pãeszinhos de queijo em uma cesta sobre a mesa. Havia Nutella, geleia de morango e pão francês.

"A padaria da esquina abre bem cedo, né?" disse ele. Helena assentiu. "Eu comprei pão e assei esses pães de queijo congelados que você tinha, Helena, tudo bem?"

"Claro Rafa. Aliás, obrigada por ter feito café."

"Eu confesso que não esperava ter que moer grãos naquela sua máquina chique, nem em casa nós temos isso." ele riu, mas recebeu um cutucão da mãe em repreensão. "É que a Helena tem um jeito despojado, e isso pra mim é coisa de gente meio fresca."

Helena jogou a cabeça para trás, soltando uma gargalhada.

"O Rafa tem razão. Essa máquina foi presente da minha ex-sogra" Clara mudou sua expressão para algo sério e até mesmo insatisfeita.

"A mãe da Paula e do Ben ou outra?"

"Ela mesma, Clara."

"Acho que vou beber suco" Helena e Rafael começaram a rir.

Mais tarde, ao passar no escritório de Lumiar e Ben, Clara encontrou a amiga chorando. E foi abraçada por ela, logo que se viram. Lumiar ficou alguns minutos chorando e sem dizer uma única palavra, até finalmente se separar de Clara.

"Acabou mesmo. Assinei os papéis do divórcio hoje" disse, finalmente.

"Eu sinto muito, Lu." Clara não sabia o que dizer, havia tempo que não passava por um término. E ninguém nunca realmente a teria deixado tão devastada quanto Lumiar naquele momento.