Projeto EGR Kalium

I - A Voz Dos Afogados (Parte 1)

- Hm... Um bioterrorista? - Questiona o doutor Kaio sobre o vídeo que acabamos de ver.

É de manhã cedo e estamos em sigilo numa das dezenas de salas de reunião na sede principal S.H.A.R.K., a multinacional especializada em alta tecnologia e inovação biotécnica. Lá sentados ao redor daquela mesa retangular estamos eu, doutor Kaio e o próprio CEO recebendo nosso visitante, um agente de Segurança Nacional.

Estou totalmente uniformizado e de capacete, pois minha identidade é restrita apenas para funcionários autorizados, e o visitante não é um deles. Sentado ao meu lado se encontra o doutor com seu jaleco em desleixo como sua postura, ousando fumar na presença de seu superior que está na cabeça da mesa. O agente está de frente para mim.

E como eu disse antes, todos nós assistimos juntos á um vídeo nesta sala pelo monitor de apresentações. Parece que é sobre uma ameaça à empresa e a cidade. Não foi possível identificar o autor do vídeo que nos foi enviado anonimamente, estava bem escuro na filmagem e a voz dele passou por uma espécie de filtro, vibrava abafada apesar de estar com áudio inteligível. O tal terrorista se escondia no breu do seu capuz e o máximo que deu pra ver um pouco foi algo em seu rosto como uma máscara azulada, e ele dizia:

- Saudações, empresários de merda... Eu tenho exigências a fazer com a empresa que acabou de lançar seu novo "brinquedinho", o tal do Projeto Kalium. É o seguinte! Eu sei da sujeira que vocês escondem debaixo do tapete do "progresso"... Corrupções, crimes, e morte de inocentes! E pra provar que não estou brincando eu vou usar um de seus descartes ilegais, uma arma biológica sua que fizeram o favor de jogar no mar, aquela que acharam que era uma falha, de cinco anos atrás, lembram? Agora imaginem, se continuarem negligenciando a sua responsabilidade com as vidas que devastaram, eu vou fazer cada cidadão experimentar o seu lixo! Vou jogá-lo no abastecimento da cidade e destruir a represa! Todos vocês estarão submersos, e se vocês sabem do que estou falando, entendem que inundar a cidade vai ser um ato de piedade que faço depois de infectar todos! Essa aqui vai ser a "Nova Atlantis", a não ser que admitam sua culpa em público!! Vocês tem até às cinco da tarde, e eu serei a Voz dos Afogados!

O agente e o CEO passam a discutir como proceder quanto a esse depoimento. Eu apenas ouço calado, não pretendo opinar a respeito, apenas servir ao meu propósito.

- Haha! Falou tanto mas não tem prova nenhuma! É blefe - Disse o chefe rindo. Seu ar era arrogante como de costume, era um homem vaidoso e bronzeado em seu terno de luxo, com abotoaduras tão reluzentes quanto sua orgulhosa careca. A conversa teria ficado por isso mesmo se o visitante não o estivesse encarando, incisivo - O que?

- Descartaram algo no mar há cinco anos? - O agente era centrado em sua conversa, um homem forte de corte militar apesar de falar como um burocrata.

- Está insinuando que essa empresa é criminosa?

- Estou insinuando que investiguemos. Preciso dos registros de projetos e funcionários de cinco anos para trás. Qualquer coisa que pareça bater com o que o bioterrorista diz.

Esfrega a própria cabeça lisa, estressado.

- Eu não sou obrigado a liberar informações de propriedade da S.H.A.R.K. só por causa de uma especulação.

- Não é só uma especulação, senhor, é uma ameaça à esta cidade. Pode ser algum ex-funcionário rancoroso, ou algo do tipo. Ou pode ser apenas um blefe, mas temos que ter certeza de que ele está mentindo. E pra isso você precisa liberar essas informações - Um breve silêncio - Se ele coagisse só a sua empresa, é claro que o problema ia ser apenas seu, mas nós da Segurança Nacional temos que intervir quando se trata de uma escala maior, como é o caso.

Aquele chefe pomposo bufa sem olhar nos olhos do agente, até que tem uma ideia.

- O Kalium cuida disso.