Projeto EGR Kalium

VIII - Semi-Interlúdio: Emergindo dos Mortos

Este início de capítulo é um interlúdio, ou seja, a narrativa de Kalium é quebrada para apresentarmos uma história importante acontecendo em paralelo.

Comoção pelas ruas, todos os olhares e canais de TV estão voltados para o incidente dentro da S.H.A.R.K. Não houveram vítimas graves, um dos culpados foi preso, o famoso ladrão da língua incandescente, preso e mantido em uma mordaça especial que dissipa o calor rapidamente, impedido de usar sua lava para escapar.

Quando a tecnologia da polícia foi tão específica para pegar um bandido super poderoso que eles mal entendem? Só podia ser a S.H.A.R.K. mais uma vez manipulando as forças armadas.

É uma manchete tentadora... Mas melhor não. A repórter Lana pensou assim, depois de preferir sucumbir ao suborno para lutar mais um dia.

Lá estava ela, naquele dia da invasão à S.H.A.R.K e com sua câmera analógica, esperava pegar algo tão revelador quanto a identidade do herói secreto, mas ele não foi visto pelo público, não foi anunciado, nem sequer mencionado...

Como meros empresários conseguiriam capturar aquele ladrão? Ao que tudo indica foi trabalho da polícia, mas há tantos escombros e nenhum oficial sequer sujo, nem um único fio de cabelo fora do lugar... Então não foram eles. O que mais a S.H.A.R.K esconde?

A única pista estranha que ela encontrou, foi o desaparecimento de uma polícia chamada Liz... E Lana iria até os confins da Terra para arranjar respostas.

Mas o que Lana e nem ninguém sabia, é que na rua de trás, nos becos escuros, Eivor se escondia, carregando a policial em seus ombros.

Eivor mal tinha como sustentar o próprio peso de seu corpo, um pouco de sangue se misturava na água de sua máscara que aos poucos se esvazia, um vazamento que acontece por seus tubos terem se estourado.

Suas pernas tremem, e a mulher que ele carrega está com a pulsação cada vez mais fraca. O corpo de Eivor dói muito pelo choque, pela briga, pelas queimaduras de frio, os cortes de vidro que adquiriu ao sair do prédio, pulando da janela numa sala aberta e ninguém foi capaz de perceber... As chances de sobreviver são poucas, mas ele persiste. Não importa se serão pegos no caminho, ele precisa alcançar um lugar que tenha água para ela. Essa situação toda lhe dá gatilhos, lhe desespera.

- Droga... Aguenta firme... Não morra, desgraçada! - Eivor lançava a frustração de si mesmo em suas palavras, para a policial que nem sequer o ouve - Eu vou conseguir... Dessa vez, eu vou conseguir!...

Mesmo sabendo que colocou uma pessoa inocente nessa situação, entra em conflito com seu passado, relembra a garota ao qual ele gostaria muito de ter salvado mas não conseguiu.

Estava tentando ir em direção a um parque por lá, grande, que continha um lago artificial, seria perfeito pra se esconderem. Eivor praticamente se arrasta se mantendo nas sombras o tempo todo, quanto mais se afastava da região, menos movimento havia nas ruas, o caminho começou a ser livre, mas as forças minguavam a cada passo.

A entrada do parque estava à vista, mas reparou em um silêncio muito profundo, vindo da vítima que carrega. Parecia que a policial já havia parado de respirar.

- Ainda não... Ainda não...! - Eivor suplicou sem voz, mas também sem tirar os olhos do seu objetivo em frente.

Um passo em falso o lança de joelhos no chão, e se já não havia forças para caminhar, muito menos há o suficiente para se levantar novamente. Mas ele ainda tenta. Com um pé no chão ele lentamente se ergue, é como se fosse o peso de um mundo inteiro nas costas. É um peso que ele acha bem familiar, o peso de uma vida.

Eivor não queria se tornar um assassino, ele tinha o controle da situação, poderia ter dado conta se não fosse o projeto de herói. Estaria preparado para um ataque surpresa como aquele taser, se não tivesse que ouvir o doutor se explicar para o maldito projeto dele, e jogar na cara a verdade de que aquele infeliz acidente foi causado pelo espírito mesquinho de um cientista corrupto.