II - Ganância Ardente (Parte 2)

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É, eu fiquei frustrado. Preso no banco com civis, dois deles feridos precisando de cuidados médicos, uma platéia que me viu perder meu segundo inimigo de vista, e pra piorar quebrei o taser que a Denise teve tanto apreço por fazer pra mim. Sinceramente eu não ligo se o Kaio ou o chefe dele desaprovam meus erros, o que me irrita é EU não me sentir um bom herói.

Mesmo sabendo que era inútil eu fiquei chutando aquele vidro no intuito de quebrar o selo que Goldschmidt fez, enquanto isso informei Kaio pelo comunicador.

- Ele fugiu, e nos trancou no banco! Manda trazerem maçarico ou algo assim, ele derreteu a fechadura!

Eu estava muito aguardando uma bronca, mas ele usou seu tom monótono.

- Puts...

- Não vai falar nada??

- ... É foda...

- SÓ ISSO?!? E AQUELE DISCURSO DE TER QUE ELIMINAR ELE??

- Ah... Você não tentou pegar ele?

- Lógico que tentei!

- Então é isso, pô! Qualquer coisa ponho a culpa em você e tu vira descarte, aí eu faço outra EGR mais competente.

- Não tô com graça... - Falei bem sério pra ele, sabendo que tem vezes que Kaio fala essas coisas mais pra me tirar um sarro do que se fosse verdade, se bem que a cada dia que passa fica mais difícil distinguir o sarcasmo da realidade dele.

Foi então que reparei a criança me observando de perto, aquela que Goldschmidt usou como refém. Parei de ser agressivo com a porta e com o doutor no mesmo instante, nisso dei um passo em falso, senti uma ligeira deformação que causei no meu tornozelo de tanto me forçar, mesmo que não tenha sido o suficiente danificar a blindagem da porta.

Ela ficava encarando minha perna torta com muita curiosidade e receio, tentei não amedrontá-la.

- Hã... Tá tudo bem! Não dói! É meu "super-poder", viu? - Escorei na porta com uma mão e arrumei a minha perna com a outra. Até testei a firmeza dando umas pisadas no chão.

Daí me toquei que desentortar uma perna quebrada podia ser uma cena bem feia para uma criança ver, até porque um senhor dentre os reféns por lá que estava nos olhando quase deu uma vomitada, mas apesar disso aquele olhar grande da garota pareceu brilhar.

- Moço, você é um robô?

De imediato veio a mãe dela intervir, parecia bem preocupada, ainda mais pelo risco que acabou de vê-la passar.

- Filha, não incomoda o herói...

Como eu poderia explicar tamanha complexidade existencial e dar aulas de química pra uma garota tão novinha? Só entrei na onda.

- Er... - Chamei a atenção delas antes que saíssem de perto, me ajoelhei pra ficar na altura da criança - ... Sim, eu sou robô!

- AHA SABIA!! MINHAS AMIGAS DISSERAM QUE VOCÊ É UM ALIENÍGENA, MAS EU DISSE QUE ERA UM ROBÔ!! EU ACERTEI!! ELAS VÃO VER SÓ!! - A garotinha saltitou empolgada. Quem diria, eu mal fiz alguma coisa significativa e eu já tenho fãs - EU QUERO SER UM ROBÔ TAMBÉM!

- Qual seu nome?

- Nicole!

- Quer ter poderes?

- Uhum! - Sacudiu a cabeça.

Olhei pra ela e pra mãe, que por sinal sorria feliz pela filha estar bem. Mais do que bem. Daí tive a ideia de falar pra Nicole.

- Ah, mas você não precisa, você já tem um!

Projeto EGR KaliumOnde histórias criam vida. Descubra agora