50

376 48 51
                                    

Ele ainda demorou algum tempo até conseguir se mover. A barriga se revirava em um medo genuíno, porque ele sabia que o que tinha acontecido há algum tempo havia, sem querer, definido muitas coisas no relacionamento dos dois.

E ainda que ele dissesse que não se importava em ser deixado para trás, o amor que sentia pelos pais fazia com que tudo doesse muito. Todos os anos de julgamento da mãe haviam aberto um buraco enorme e ele não queria perder o pai também, embora sentisse que o havia perdido de qualquer forma.

Mas tê-lo ali era assustador porque talvez fosse a confirmação de tudo.

— Você vai falar com ele? — Seonghwa perguntou, olhando-o de forma preocupada. Jake apenas o olhou, os olhos brilhantes pelo choro que ele sabia que iria vir. — Você... quer que eu fique aqui? Por que eu posso.

— Não... — Ele negou, mas olhou o amigo de forma nervosa. O rosto de Seonghwa era preocupado, então ele segurou suas duas mãos e apertou. — Eu sabia que ia acontecer, mas estou com medo.

— Tudo bem ter medo. — Os polegares longos acariciaram as costas das mãos. — Você tem certeza que não quer que eu fique?

Jake o olhou.

— Tenho. — Assentiu, embora as mãos tremessem. O pai o havia encontrado com os olhos e ficou fixo onde os dois estavam. Sentia tanto medo... — Mas você pode ir comigo até lá fora?

Seonghwa riu a apertou as mãos dele com as suas.

— Quando você estiver pronto. — Assentiu.

Então Jake caminhou para fora dos dormitórios até que estivesse cara à cara com o homem mais velho. Muita coisa se passava por sua cabeça, e ele até mesmo repensou a ideia e quis pedir para que Seonghwa ficasse ali consigo.

Mas ele compreendia que aquele era um momento só dele e do pai.

Por isso, quando o amigo se despediu, deixando os dois sozinhos, Jake finalmente olhou o outro homem diretamente nos olhos. Ele provavelmente estava à alguns dias sem ir para nenhuma viagem, já que a barba estava feita, mas ele continuava o olhando da mesma forma preocupada e gentil de sempre.

— Oi, pai. — Disse, baixinho, os braços abraçando o próprio corpo enquanto ele tentava acalmar o nervosismo e o frio na barriga.

Ele acabava ficando bastante na defensiva sempre que se sentia daquele jeito, mas não queria de jeito nenhum acabar soando desrespeitoso com o pai só por que estava morrendo de medo. Ele sabia que aquela seria uma conversa importante e ele queria se mostrar totalmente disposto a tê-la, ainda que tremesse inteiro.

O homem sorriu, mas parecia nervoso também. As mãos nos bolsos tornavam tudo ainda mais tenso.

— Filho. — Ele acenou levemente com a cabeça. Ouvir-se ser chamado "filho" de filho o fez ter vontade de chorar. — Eu queria... conversar com você.

— Ah... — Ele assentiu. — Aconteceu alguma coisa? Você quer ir para outro lugar?

— Eu acho que nós poderíamos sentar. — Disse, então coçou a nuca. — Sabe... para... ficarmos mais confortáveis. Eu acho.

E foi desse jeito que eles terminaram sentados na cama do dormitório de Jake. Ele perderia a primeira aula, mas sequer se importava de verdade com aquilo enquanto ambos estavam parados na mesma posição à quase cinco minutos.

As mãos estavam suando e aquela era a terceira vez que Jake as enxugava nas calças. Havia até se esquecido de oferecer um café.

— Pai...

— Jake...

Eles se encararam. O mais novo se remexeu de forma inquieta e segurou uma mão na outra mais uma vez.

bring the heaven | jakehoonOnde histórias criam vida. Descubra agora