4. A Herança Misteriosa

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As marcas do tempo tinham uma maneira enigmática de se manifestar em Orla dos Ventos

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As marcas do tempo tinham uma maneira enigmática de se manifestar em Orla dos Ventos. Elas não se refletiam apenas nos calendários, mas nos barcos que chegavam ao estaleiro de Seu José. Cada embarcação trazia consigo histórias de mares bravios, tempestades e sol ardente. E, à medida que Arthur e seu pai trabalhavam juntos, consertando e restaurando esses barcos, o jovem via, nas madeiras desgastadas e nas velas remendadas, metáforas da própria vida — sempre em reconstrução, sempre navegando entre a calmaria e a tormenta. E assim, a ausência de Antônio e Helena foi sendo tecida na tapeçaria do cotidiano de Arthur.

A despedida de Helena ocorreu no píer, logo após as últimas homenagens de Antônio. Seu carro partiu, e sua silhueta se desvaneceu no horizonte, quase que simultaneamente com as memórias recentes de Antônio. Gradualmente, a frequência das mensagens e ligações entre os dois amigos diminuiu e, naquele dia em particular, Helena ainda não havia respondido à sua mensagem. Essa falta de resposta deixou Arthur inquieto, fazendo-o vaguear pelos corredores de sua casa.

Distante de Helena e de qualquer senso de normalidade, ele se encontrou parado diante da porta do quarto de seu avô. O cômodo, se tornara um santuário que Arthur evitava desde sua partida. A porta de madeira parecia marcar uma fronteira entre a realidade e um reino de lembranças pertencentes somente a Antônio. Com um suspiro suave, ele tocou a maçaneta e a girou, sentindo a nostalgia inundar seu ser.

O quarto de Antônio era um reflexo de sua personalidade - humilde, caloroso, simples, mas cheio de significado. Móveis de madeira resistente, cada peça marcada pelo tempo e uso, preenchiam o espaço, contando sua própria história de anos ao lado de um marinheiro. A cama, a mesa, a cadeira, cada objeto parecia ter sido tocado por Antônio, carregando consigo a essência de sua existência.

No centro do quarto, pendurado na parede, estava um retrato em preto e branco de Antônio em sua juventude. Seus olhos, mesmo naquela foto desbotada, brilhavam com a expectativa de aventura e seu jeito de ser. Arthur não conseguia evitar, mas cada vez que olhava para aquele retrato do velho marinheiro, sentia uma pontada de saudade, como uma âncora puxando seu coração.

Arthur se sentou na borda da cama e pegou uma foto amarelada de seu avô segurando-o quando era apenas um bebê. Ele estudou os traços do rosto de Antônio na foto - o sorriso fácil, a alegria irradiando de seus olhos, a barba áspera que Arthur se lembrava tão bem. A nostalgia se intensificou, fazendo seus olhos lacrimejarem. Arthur limpou as lágrimas rapidamente, respirando fundo, tentando controlar a emoção.

Justo quando o jovem estava prestes a sair do quarto, algo chamou sua atenção. Um brilho fraco e dourado, quase imperceptível, surgiu das sombras debaixo da cama. Ele se aproximou, a curiosidade vencendo a hesitação. Agachando-se, estendeu a mão para o objeto que emitia aquela luz enigmática.

Lá estava, quase escondida na escuridão: uma ampulheta. Não era um simples objeto; era um artefato esplêndido em aparência. Cada detalhe do relógio parecia ter sido cuidadosamente trabalhado, desde a estrutura de ouro envelhecido até os intricados padrões que adornavam as bordas. Dentro, a areia dourada cintilava, cada grão parecendo capturar a luz do ambiente e refleti-la de volta, criando uma aura mágica ao redor do objeto.

O relógio de areiaOnde histórias criam vida. Descubra agora