Na vastidão silente da floresta que abraça os limites de Alto da Serra, o detetive Sérgio Mendes se viu diante de uma visão perturbadora. O verde era ofuscado pela cruel presença de dois corpos carbonizados, a morte traçando uma mancha contra o tapete. Mendes fora conduzido até a cena por um informante local, um homem que vivia na periferia da comunidade e notara movimentações suspeitas na região após avistar fumaça no céu.
Próximo a cena de crime ele agachou-se ao lado do corpo de menor porte. Parcialmente preservado pelas chamas, jazia um fragmento de tecido com a estampa de uma roupa feminina. O tecido delicado, apesar de manchado e queimado, ostentava detalhes finos e uma trama complexa.
A poucos metros dali, outro corpo repousava. Ao lado dele, Mendes notou um pedaço de tecido mais robusto e resistente ao fogo. O tecido grosso, de padrão sóbrio, parecia resistir ao tempo e à chama que consumira o resto.
O contraste entre os dois fragmentos deixou Mendes inquieto. Quem eram essas pessoas e que circunstâncias tão terríveis as uniram neste fim trágico? Seus pensamentos se desviaram para outro detalhe. Gravado na terra úmida ao lado dos corpos, um símbolo estranho. Era uma espiral cuidadosamente desenhada, e um risco formando um raio no centro do desenho.
O detetive se ajoelhou, examinando o símbolo mais de perto. Os detalhes eram fascinantes e alguém o havia desenhado com clara intenção. Ele não sabia o que significava, mas não ignoraria aquela pista.
O homem sacou sua câmera analógica, ajustando o foco antes de clicar no botão do obturador. Guardando-a novamente, Mendes Caminhou perscrutando os detalhes que a natureza poderia revelar. Acreditava que a floresta, observadora, guardava segredos e pistas que o levariam ao culpado.
Sendo assim, no canto da mata, algo chamou sua atenção: um animal jazia imóvel, vítima de alguma brutalidade. Mendes se aproximou cautelosamente. O animal, um coelho selvagem, ostentava um corte profundo e limpo. Não era obra de um predador, mas de uma lâmina afiada, provavelmente uma faca.
Logo atrás do coelho caído, havia um rastro sutil de sangue manchando a folhagem do chão, indicando um caminho que se embrenhava ainda mais nas profundezas verdes. Era como se o animal tivesse sido ferido em algum lugar distante e, em seu tormento, tivesse se arrastado até aquele ponto, abandonando um rastro macabro.
Sem perder tempo, ele seguiu as gotas vermelhas que se espalhavam na vegetação. Seu instinto investigativo estava a pleno vapor, conectando as peças deste quebra-cabeça.
Apenas alguns metros adiante, seu olhar atento se deparou com algo inusitado: uma flecha solitária jazia na grama rasteira, a ponta ainda manchada com o sangue fresco do animal. Nisso, ficou claro que o coelho não foi vítima de um predador natural, ou de uma faca e sim de um arqueiro.
A flecha parecia ter sido deslocada, provavelmente durante a fuga desesperada do coelho. Ele pode ter corrido, a flecha roçando a vegetação e eventualmente sendo arrancada por algum obstáculo ou pelo próprio movimento frenético do animal.
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O relógio de areia
Teen Fiction"O Relógio de Areia" é uma obra de fantasia dramática que conta, de forma linear, a história de Arthur Menezes, um protagonista que cresceu aprendendo a viver da pesca e da carpintaria naval em uma cidade pequena e culturalmente rica. Embora Arthur...