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- Eu não acredito!

- Acredita, Michael, estás despedido.

- Mas eu nem sequer...

- Vai embora, por favor.

Com um revirar de olhos, Michael pegou nas suas coisas e saiu, dando de ombros a John.

Antes de fechar a porta, pode ouvir o patrão gritar:

- O teu salário será depositado para a semana.

Era a... Terceira vez neste mês que era despedido.

Mas qual é a cena desta gente? Será que tenho alguma placa na testa a dizer: 'Despeça-me antes que estrague alguma coisa'?

Despachou-se em ir para casa. Ir lamentar-se para casa.

Assim que entrou, sacudiu o saco para um canto e atirou-se para o sofá.

- O que fazes aqui a estas horas?

Michael levantou um pouco a cabeça e viu Robert fazer caretas para o espelho.

Murmurou alguns palavrões desnecessários e decidiu falar. - Imagina...

Rob soltou uma gargalhada. - Despedido?

- Yup...

- Nem sei como não ganho a lotaria... - Com um encolher de ombros, afastou-se do seu reflexo e dirigiu-se até à entrada. - Vou sair. - Anunciou. - Não sei se janto.

- Okay.

Ouviu a porta fechar.

Ficou a choramingar durante meia hora e, apesar de já o saber, chegou à conclusão que a sua vida era uma treta.

Como vou ajudar Robert a pagar a renda? Não vou ajudar, não é? Porque sou um idiota que nem um emprego consegue arranjar!

Lá se pôs de pé, cambaleando como um desgraçado até à cozinha.

Aqueceu a piza do dia anterior e comeu-a, em segundos.

Depois de satisfeito, tomou a iniciativa de ir ver um filme.

E comer gelado.

E deprimir outra vez.

E fazer disto uma rotina.

Sim, ia ser fantástico.

Mas não podia. E nem sequer queria imaginar o aconteceria se se atrasasse a pagar a renda. Provavelmente iria ser atirado a pontapé de casa.

A minha vida é mesmo uma grande porcaria.

Deixou um bilhete a Robert, caso ele chegasse mais cedo.

O mesmo de sempre. Saí; não faço ideia a que horas volto; liga se engravidares alguma; eu não pago o aborto.

Colou o papel no espelho, onde sabia que Rob iria ver, e saiu sem destino.

Agora, vou a pé ou gasto o resto da gasolina? Carro.

Mas já estava a dois metros de casa.

Lembrou-se de Peter. O barmen atraente da discoteca.

Ele havia lhe dito que, sempre que Michael aparecesse, as bebidas seriam à borla.

Sim, uma boa ideia.

Chegou à tão 'famosa' discoteca e apressou-se em se dirigir para o apinhado balcão.

- Desculpe... - Falou Michael para um rapaz bastante alto. - O Peter está?

- Oh, hoje é o meu turno. - Serviu uma cerveja a uma rapariga. - Mas, talvez, o encontres amanhã.

Amanhã? Boa, hoje o dia está mesmo a ser perfeito.

Michael acabou por assentir e sair para a noite fria.

Sentou-se numa das cadeiras vazias.

Viam-se casais que entravam alegremente nos seus carros.

Pessoas bêbedas, encostadas à parede a falar sozinhas.

E um rapaz. Não seria mais velho que Michael.

Estava concentrado a escrever algo num caderno.

Como se tivesse reparado no seu olhar, o rapaz levantou os olhos, cruzando-os com os de Michael.

Este, assustado, foi obrigado a desviar a sua atenção para um vaso vazio, mas, no momento em que voltou a olhar para a mesa onde o rapaz estava, ele já tinha desaparecido.

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