Capítulo Quinze

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— Alô?— Atendo o celular ainda encarando os diferentes tipos de chantilly pelo refrigerador do mercado.

— Cadê você? Já está quase na hora de eu ir para minha yoga e você não apareceu ainda! Aish!— Nuri reclama.

— Desculpe, estou procurando o melhor recheio para nosso café!— Me justifico na defensiva.— Qual você acha melhor, chantilly desnatado ou com caramelo?

— O quê? Eu sei lá, Yura.

— Minha mãe já se arrumou?

— Que tempo...— Ela desdenha.

— Certo, certo! Eu vou me apresentar.— Reviro os olhos com sua pressa.

— Acho bom fazer isso mesmo!

— Até daqui a pouco!— Desligo pegando no final a mesma marca que havia escolhido de começo. Corri com a pequena cesta, para pagar no caixa e poder ir embora do mercadinho.

[...]

— Podemos tomar café, finalmente!— Lina reclama ainda de pijama também, assim como eu. Diferente de Nuri e minha mãe que estavam com as roupas de ginástica e alongamentos em dia.

Hoje era final de semana, o quê significa que é dia de yoga dessa dupla.

— Seja louvada, santa Yura.— Meu pai diz me fazendo rir e arrumar a cafeteira enfim.

A semana em que voltei para o trabalho se manteu como boa parte da minha vida tem sido até agora, agitada e monótona.

Aos poucos as coisas parecem se ajustar no que deviam ser os seus devidos lugares. Não há mais visitas, presentes, conversas em qualquer hora. É como se eu fosse esquecendo dele, dia após dia. Seu cheiro é menos evidente em minha mente, e com um pouco de esforço poderia talvez até alucinar toda nossa convivência. Mas sempre há um empecilho nas coisas... E o meu é a maldita forma como seus olhos de ressaca me observaram durante todo momento em que passamos juntos, me fazendo arder em pura brasa. Isso jamais seria esquecido, mesmo que eu quisesse, mas não é esse o caso. Me falta o ar só de pensar no homem pálido.

Já faz um semana completa desde que ele voltou de viagem, e mais outra desde que ele já partiu novamente para Indonésia... E mais outra desde que voltou. Até agora tudo que tenho é seu silêncio. Talvez agora eu saiba como ele se sentiu quando eu também sumi... Sua agonia foi tanta como a minha está sendo?

E eu sei que parece meio dramático da minha parte, mas é como me sinto, está é a primeira vez que lido com esse sentimento, com esse tipo de experiência.

Eu não sei bem o quê fazer...

É por isso que eu decidi lhe deixar em paz, e foquei durante essas semanas em me convercer sobre seu pouco tempo e extremo cansaço. Bom... Pelo menos ele voltou seguro e parece estar feliz. Isso é o que me conforta de certo modo.

— Café pronto! Vamos comer!— Meu pai termina de arrumar a mesa com os alimentos da padaria que eu trouxe.

— Você trouxe meu iogurte? Por favor diz que sim!— Lina choraminga e eu faço uma caretinha lhe dando o tubo.— Você é a melhor!— Ela abre a garrafinha apressada e animada, me dando um joinha.

— Como pode só tomar isso no café? Aigoo.— Minha mãe reclama pegando um salgado e sua caneca de café com leite.

— Eu passo mal só de olhar.— Nuri fala.— Isso deve ser de profissão, Yura se alimenta tão mal quanto.— A mulher acusa.

— Não me metam nessa história.— Beberico meu café quieta.

— Eu tenho que estar em forma para aparecer na frente das câmeras!— Lina se defende.

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