MALENA

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(Madri, 2015)


A música, embora agradável, o incomodava. A multidão também. Aleksey preferia as horas solitárias no laboratório, ouvindo jazz, enquanto trabalhava. Porém, não era sempre que tinha a oportunidade de visitar os amigos. E passar a noite em uma festa cheia de possíveis patrocinadores para sua pesquisa, também não era de todo mal.

Uma brisa suave bagunçou seus cabelos e ele fechou os olhos curtindo aquela carícia inesperada. Então, apagou o cigarro e recuperou a taça que estava largada sobre a balaustrada, voltando para o interior da mansão.

Foi recebido com um esbarrão de um garçom apressado, mas nada poderia apagar seu bom humor naquela noite. Estava feliz. Não sabia a razão e nem interessava, só queria sentir.

Sorriu e ergueu a taça, fazendo um brinde silencioso e foi correspondido da mesma forma pela moça do outro lado do salão. Estavam naquela troca de olhares e sorrisos havia quase uma hora e ele já se encontrava prestes a ir conversar com ela. No entanto, era dotado de uma timidez embaraçosa para um homem com uma inteligência ímpar.

— Como sou seu amigo, me sinto na obrigação de alertar — Oliver se empertigou ao seu lado, enviando um sorriso malandro, após tomar todo o conteúdo da própria taça de um gole só.

— Como assim?

— Malena Villalobos não é flor que se cheire — escorregou a mão pelos cabelos longos e negros com um sorriso sarcástico.

- Pequeno?

Oliver ergueu o queixo e fez um movimento à frente, apontando para a moça que o amigo cortejava desde que chegaram a festa. Aleksey bebericou um pouco do champanhe em sua taça, escondendo um sorriso.

— É um bonito nome — disse ele, após um minuto de contemplação da jovem. — Mas o que quer dizer com "não é flor que se cheire"?

— Exatamente isso, meu amigo — colocou a taça vazia na bandeja do garçom que se aproximava. Pegou uma cheia, a qual esvaziou de um gole antes que o garçom se afastasse e se apossou de outra.

Aleksey arqueou uma sobrancelha muito loura e enfiou a mão livre no bolso do paletó. Oliver costumava beber com exagero, mas o estava fazendo rápido demais até para ele.

— É impressão minha ou você está pretendendo tomar todo o champanhe da festa?

Oliver riu, jogando a cabeça para trás e atraiu alguns olhares femininos. Era um homem bonito, de fala macia e sua presença sempre se fazia notar, mesmo quando não tinha a intenção de fazê-lo.

— Pretendo me embriagar nesta noite chata, para a qual minha irmã nos arrastou. Odeio estes eventos, você sabe.

Aleksey concordou com um dar de ombros. Eram amigos desde a infância e havia muito pouco sobre Oliver que desconhecesse, mesmo tendo se afastado por alguns anos, para concluir seus estudos e avançar em suas pesquisas. O amigo apreciava festas menos formais, de preferência, com mulheres dispostas a se despirem por alguns trocados e bebidas baratas.

— Enfim, voltando ao assunto, a sua bela é uma destruidora de corações.

— Devo supor que o seu foi destruído por ela?

— Você me conhece bem. Sabe que não me prendo a um rabo de saia — revirou os olhos, com um sorriso metido. — Mas a beleza dessa mulher me fascinou no instante em que a vi. Seus estudos em Moscou o mantiveram longe por quase dez anos e você não viu a chegada dessa bela e misteriosa criatura à nossa sociedade. Muitos dos nossos amigos ainda não se recuperaram de suas recusas.

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