DIANA

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Max soprou a fumaça do cigarro, observando o vento carregá-la. Era o seu último. Tinha fumado uma carteira inteira, sentado naquele banco de praça. Estava faminto e louco para ir ao banheiro, mas principalmente, estava muito ansioso e preocupado.

Ele não conseguia dormir desde que Vanessa sumiu, três dias antes, e vinha se empenhando para encontrar qualquer pista que pudesse levar ao seu paradeiro. Havia conseguido algumas, entretanto sabia que havia chegado ao seu limite. Agora, precisava de ajuda, todavia considerava a polícia daquela cidade dona de uma incompetência sublime. Então, procurou a única pessoa que, sabia, não mediria esforços para trazer Vanessa para casa.

Quanto tempo fazia que não a via? Ele se perguntou em silêncio.

— Onze anos! — Respondeu em voz alta e sorriu para o vento, que bagunçava seus cabelos longos e rebeldes. Coçou o queixo, coberto por fios negros de um cavanhaque ralo, recordando aquele último e triste encontro.

"Eu te odeio", foram as últimas palavras que disse para ela. Ainda se lembrava da sensação que lhe tomou o corpo ao pronunciá-las. Assim que findou a frase, soube que era mentira.

Era apenas um garoto, jovem demais para entender as escolhas dela. Estava de coração partido por perder alguém que admirava e em quem se espelhava. No fundo, queria segui-la, queria fazer parte das aventuras que a aguardavam, mas ela o atirou de volta à realidade. Não havia espaço para ele em sua nova vida, nem para Vanessa.

— Ei, moleque!

Max se empertigou, saltou do banco e atirou o baseado no chão. Já que a praça estava deserta e seus cigarros tinham acabado, não viu problema em acender um. Tossiu uma vez, sentindo o rosto afogueado, diante do olhar de reprovação da mulher à sua frente.

— É isso que anda fazendo com os seus neurônios? — A mulher perguntou, com um sotaque suave, oriundo do sul do país.

O rapaz reparou que ela não devia ter mais que quarenta anos. Os cabelos eram negros, com algumas mechas loiras. O rosto era bonito, mas comum; o queixo era um pouco quadrado e o nariz levemente arrebitado, porém, os olhos eram impressionantemente verdes e o mediram de alto a baixo, minuciosamente.

Durante aquele exame, ele não conseguiu deixar de notar que havia algo de familiar naquelas feições, mas ignorou a impressão. Encheu os pulmões de ar e disse, com seu jeito de moleque rebelde:

— Não enche! Vai tomar conta da sua vida! — Apanhou o baseado, mas antes de voltar a colocá-lo nos lábios, a mulher o jogou de volta ao banco.

— Você era mais educado e fofo quando criança — ela tomou o baseado e esmagou com a sola do sapato. — E era mais inteligente, também.

Os olhos de Max se arregalaram percorrendo a face alva em busca do reconhecimento, que não veio.

— Di-Diana?! — Ele perguntou, descrente.

Em resposta, recebeu um peteleco na testa e um sorriso de aprovação. O silêncio que se seguiu era cortado apenas pelo vento que anunciava a aproximação de nuvens chuvosas. Fitaram-se, por algum tempo, até que Max fugiu daquele olhar estranho e afastou-se para que ela sentasse ao seu lado.

— Ninguém me chama assim há muito tempo — Ela disse, cruzando as pernas. Um meio sorriso desenhava os lábios vermelhos. — Que permaneça assim, por enquanto.

O sotaque havia desaparecido completamente e dado lugar à voz macia, de tom alegre, da qual Max se recordava. Ele alisou os cabelos, nervoso. Se sentia incapaz de aceitar aquela mudança radical.

— C-como devo te chamar, então?

Ela deu de ombros.

— Do que quiser, não faz diferença — Afastou o olhar para a rua, então sorriu, retornando para ele. — Ana. Era assim que você costumava me chamar, não é mesmo? Me chame de Ana, então.

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