Vanessa mirava a estrada deixando, vez ou outra, que o olhar encontrasse as mãos de Diana no volante. Encolhia-se sempre que ela trocava a marcha, deixando os dedos resvalarem em sua perna com um sorrisinho debochado.
Ela não cansava de provocá-la.
Por alguns instantes, deixou a raiva de lado e se permitiu observá-la. Diana escondia as olheiras profundas por trás de lentes escuras, mas a palidez da pele era evidente e não lhe escapou os tremores nas mãos e o suor que escorria pela face, apesar do ar-condicionado do carro estar ligado no máximo.
Fora do veículo, a chuva caía serena, permitindo o avanço pela estrada sem problemas. Estavam viajando há pouco mais de uma hora e, mesmo chovendo forte no início da viagem, Diana não poupou o veículo. Ela pressionava o pedal até o fim; por vezes, obrigando Vanessa e Cristina a fecharem os olhos nas curvas com o coração apertado de medo e uma sucessão de palavrões revoltosos que respondia com um sorriso traquina.
— Você sabe que está dirigindo um carro comum, não é? Isso é uma estrada e não uma pista de corrida! — Vanessa berrou para ela em determinada altura.
— Só estou curtindo a estrada, Van. Ela é deliciosamente sinuosa! É praticamente um convite à aventura. — Diana retrucou, desviando de um buraco. — Entretanto, este carro não é lá essas coisas, é lento demais!
Fez um biquinho decepcionado e depois soltou uma risada cristalina, que inflamou os ânimos da ex-namorada.
— Para onde estamos indo, afinal?! — Vanessa perguntou, diminuindo o volume do rádio que estava excessivamente alto, todavia não incomodava-a tanto quanto a velocidade. Na maior parte do tempo o "barulho" que Diana escolheu para ouvir, evitava travar conversa com ela e, assim, impedia discussões desnecessárias e desgastantes.
No banco de trás, uma desanimada Cristina prestava atenção ao caminho. A moça se questionava se havia feito a escolha certa ao convencer Vanessa de que acompanhar Diana era o mais seguro, naquele momento. Estava muito consciente de que isso colocava em risco seu namoro, mas, também, seria um bom teste para ele.
Imaginava que mesmo que tivessem optado por partir e deixá-la para trás, seguindo com a vida normalmente, o fantasma de Diana estaria sempre entre elas. Previa o desmoronamento lento e angustiante do seu relacionamento, se fosse o caso.
Entretanto, Vanessa necessitava viver aquilo e ela, Cristina, também.
Se o relacionamento que tinham fosse realmente forte, como acreditava que era, sairiam daquela história mais unidas que antes e, talvez, pudessem fazer planos para um futuro juntas. Embora soubesse que se encontrava em desvantagem naquele triângulo. Afinal, a história daquelas era antiga e muito forte, mesmo que Vanessa continuasse se esforçando por negar o que seus olhos não eram capazes de esconder.
O que era mais estranho é que começava a perceber que Diana também exercia um certo fascínio sobre si. Contudo, por motivos bem distintos dos de Vanessa. Claro que a achava bonita e atraente, mas era aquela personalidade pitoresca que a fascinava. E, depois do que houve naquela cafeteria e a breve conversa que tiveram no banheiro do posto de gasolina, começava a confiar nela. Achava o fato engraçado por se tratar de alguém cuja profissão era mentir e roubar.
Também era algo raro, visto que Cristina não costumava acreditar nas pessoas facilmente. Era necessário muito tempo e esforço para conseguir algum crédito consigo.
Ela balançou a cabeça, descrente consigo mesma. Ocultou um sorriso incomodado, escorregando os dedos pelo nariz. Apertou a ponta deste por um segundo, então desviou a atenção para o zíper da jaqueta.
![](https://img.wattpad.com/cover/342903095-288-k341776.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caçadora
ActionQuando Diana morreu, Vanessa enterrou seu coração junto com ela. Dez anos se passaram, desde então e, entre altos e baixos, encontrou conforto nos braços de Cristina. A vida parecia estar voltando aos eixos, até que, como uma fênix ressurgindo das c...