TITO

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— Já faz muito tempo.

Diana sorriu, exibindo uma confiança que não sentia naquele momento. Porém, não deixaria que Vanessa percebesse o quanto a abalava, afinal não estava ali para romance e, sim, para protegê-la. Contudo, era inevitável não sentir um palpitar forte no peito, já que era a primeira vez que se viam e conversavam em onze anos.

Vanessa permaneceu com a mão erguida, o metal do gancho refletindo a luz da lua, fracamente. De repente, tinha perdido o poder de se manter de pé e buscou algo em que se apoiar, mas tirando o caixote sobre o qual Diana sentava, não havia nada próximo.

Notando o descontrole do seu corpo, Diana avançou para ampará-la, entretanto ela deu passos arrastados para trás, desejando poder estar a quilômetros dali.

— Fique longe de mim! — Exigiu, num fio de voz.

Durante aqueles dias, após a conversa com o mentor do seu sequestro, desejou que tudo não passasse de um terrível pesadelo. Então, olhava a fotografia que Gillian tinha lhe dado e desejava que aquela fosse apenas uma estranha, muito parecida com a falecida namorada. Colocava o dedo sobre a imagem da tatuagem nas costelas dela e ficava mais fácil, a ideia lhe parecia plausível.

Mas agora que estava diante dela e tinha certeza de que tudo era real, seu corpo não conseguia sustentar tantas emoções. O ar lhe faltou e o mundo girou diante de seus olhos. Curvou-se, uma das mãos no joelho, e, aos poucos, recuperou o oxigênio que a emoção lhe tomou.

Devagar, endireitou o corpo, obrigando-o a obedecê-la, e a encarou novamente. Uma parte sua queria correr para abraçá-la, sentir seu cheiro, seu calor e esquecer todo o passado. A outra, desejava poder ecá-la, despejando sua raiva e dor para que ela sentisse, fisicamente, o que ia em sua alma e soubesse quão devastada a deixou.

— Mesmo com tudo que ele disse, — uma lágrima escapou de seus olhos e sentiu-se grata pela pouca luz que privava Diana de vê-la — mesmo com esta foto... — puxou um papel amassado do bolso e o atirou aos pés dela. — Mesmo assim, quis acreditar que era mentira, que tudo não passava de um terrível engano. Uma parte de mim se apegou à lembrança da mulher que amei e que nunca me faria sofrer assim.

Avançou alguns passos, ficando a poucos centímetros daquele fantasma que tanto amou e, agora, só desejava odiar com todas as suas forças. O vento lhe trouxe o aroma do perfume dela, atormentando-a com a saudade que sentiu. No entanto, afastou aquela sensação e agarrou-se à raiva que revolvia em seu interior.

— Há uma explicação? — Perguntou.

— Não sei o que Aquiles lhe disse, Van. Mas sim, há uma explicação.

A voz dela era apenas um sussurro, mas a forma como a chamou de "Van", abriu, um pouco mais, a ferida em seu peito. Somente Diana a chamava assim.

Vanessa esperou que ela continuasse, ansiosa pela verdade e desejosa de encerrar esse capítulo da sua vida, arrancando, de vez, aquela mulher do seu coração. Mas, em vez disso, Diana recuou, buscando manter uma distância segura e lutando contra o desejo de abraçá-la forte.

— Mas não agora, não aqui. E, com certeza, não com você segurando isso.

A morena olhou para a mão que segurava o gancho, percorrendo as linhas que moldavam sua forma ameaçadora. Não tinha percebido que a erguera novamente. Indecisa, a desceu, contudo não largou o gancho, cujo frio do metal parecia estar lhe dando forças para se manter firme, diante daquela estranha conhecida.

— Até o momento, percebo que ele só me disse verdades. — Vanessa declarou.

O som de vozes chegou até elas, carregado pelo vento frio que anunciava a aproximação de nuvens chuvosas. Vanessa se voltou para a direção de onde os sons vinham.

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