BENTO

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I

Carla tomou o celular das mãos de Diana e, sem cerimônias, o atirou no chão e esmagou até que restasse um amontoado de cacos de vidro e peças quebradas. Uma frieza quase marmórea dominava a face alva, que ainda continha respingos do sangue de Miles, Juan e companhia.

A camiseta que usava estava rasgada onde alguns arranhões vertiam sangue. O pior dos seus ferimentos era um corte profundo no braço, no qual Cristina enrolou um lenço sob protesto dela. Por sua vez, a própria Cristina também não se encontrava com a melhor das aparências. Assim como a loira, tinha hematomas e cortes pelo rosto e braços.

As duas trocaram um olhar cúmplice, que não escapou de Vanessa.

Não havia nada amoroso no beijo que trocaram. Ele não passou de um subterfúgio que lhes permitiu tomar um bom posicionamento para observarem os inimigos que as espreitavam sem levantar suspeitas por parte destes e, assim, partirem para o ataque.

— Não me olhe assim — Diana pediu a amiga. — Precisava ser feito.

Deu alguns passos para longe dela, esfregando o queixo, onde um hematoma começava a adquirir uma tonalidade arroxeada. Em um tom sabichão, explicou:

— Ele ficará à minha espera e isso o deixará ocupado por algum tempo.

Baixou o olhar para o chão, varrendo-o com o pé, enquanto se abraçava. Estava cansada de fugir e perseguir o tio, ao mesmo tempo. Era irritante ter de admitir que cometeu muitos erros ao longo daquele ano.

— Fiz uma promessa a mim mesma, Loira. Não voltarei a permitir que Aquiles me tire alguém outra vez.

— Só existe um meio disso acabar — Carla declarou, sombria.

Um suspiro resignado acompanhou o inclinar de cabeça positivo de Diana. A ideia não lhe agradava, mas estava certa de que a sua mão não tremeria outra vez. Não se agarraria a princípios que Aquiles sempre fez questão de rejeitar.

— Tudo bem. — Carla falou, prendendo os cabelos que o vento assanhava, atrás das orelhas. — No fim, você não pode se esconder para sempre e, depois do que me contou, entendo seu desejo de vingança.

Diana voltou a erguer a face para encará-la e principiou um sorriso, enquanto ela continuava:

— Entretanto, só fará isso quando estiver completamente recuperada.

— É justo. — Concordou a ladra.

— E eu irei com você. — A amiga concluiu.

A gatuna deixou os ombros se curvarem, fazendo uma pequena careta, enquanto argumentava:

— Você não precisa fazer isso. O que houve hoje... você fugiu disso e acabei te arrastando de volta para a lama.

Carla ajustou o lenço que envolvia seu braço e já estava completamente encharcado de sangue. Era certo de que precisaria de alguns pontos, todavia isso poderia esperar um pouco mais.

— Sim, eu preciso. — Assegurou, vendo Diana franzir o cenho em preparação para uma discussão.

Fato era que não havia nada que a ladra pudesse lhe dizer para que mudasse de ideia. Além disso, Diana bem sabia que a sua lábia não tinha efeito sobre ela.

— Não é só por você, Diana; é por mim também. Eu fiz uma promessa, lembra?

Como Diana poderia esquecer? Aquiles tinha regras muito rígidas sobre envolvimentos amorosos com clientes, entretanto, fora difícil resistir ao fascínio que Carla Maciel, braço direito do narcotraficante Marcos Alvarenga, lhe instigara. Diana cruzou uma barreira perigosa e foi punida por isso. Entretanto, Aquiles cometera grave de erro de fazê-lo diante de Carla.

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