AQUILES

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Por um momento, Vanessa pensou ter entendido errado, então o homem repetiu o nome e ela não conteve uma risada de descrença.

— É a coisa mais estúpida que já ouvi! — Declarou. — Diana morreu há mais de dez anos. Essa mulher, seja lá qual for o seu nome, não é ela. Você cometeu um erro!

Na tela, a sombra de Aquiles acendeu um cigarro, deixando seu rosto à vista por um breve momento. Cicatrizes profundas o marcavam; uma delas traçava caminho sobre o olho direito, que permaneceu fechado. Os lábios dele se curvaram em um sorriso de desprezo e chegou mais perto da câmera.

— Você tem um túmulo para provar isso, não é mesmo? — Disse ele, destilando seu sarcasmo.

Os lábios dela tremeram, adivinhando o que diria depois e sentindo o peso doloroso daquela verdade.

— Tudo o que você tem é um túmulo com um caixão vazio, que já deve ter virado pó. — Ele continuou, soltando uma lufada de fumaça entre os lábios.

— Ela morreu — Vanessa afirmou, indignada e incapaz de acreditar no absurdo que estavam vivendo. Tinham sido sequestradas por um louco.

Seu olhar encontrou a face alva e confusa de Cristina, cujos olhos castanhos tinham um brilho inquieto, ora fixando o rosto marcado de seu sequestrador, ora fitando a namorada. Havia dúvida naquele olhar e Vanessa compreendia o motivo, afinal, nunca lhe contou sobre Diana.

Vanessa lhe falou sobre relacionamentos anteriores, até mesmo sobre Mariana, porém nunca mencionou o nome de Diana. Não porque tivesse decidido guardar a memória da namorada morta ou tivesse receio que Cristina percebesse que ela ainda amava um fantasma, mas sim, porque era doloroso. A morte dela permanecia uma ferida aberta no seu peito.

Vanessa ergueu o queixo, tornando a encarar o homem na tela. Declarou:

— Seja lá quem for esse fantasma que está perseguindo, não o encontrará através de mim.

O sorriso de Aquiles aumentou. Aquela conversa começava a se tornar divertida.

— Ah, você tem a mesma paixão no olhar que ela. Tão intensa, tão cheia de vida — ele riu, alisando a gravata cinza que contrastava com a camisa preta. — Toda essa vontade de manter a imagem dela imaculada, de negar a possibilidade de ter sido enganada e abandonada é, no mínimo, bonito e estúpido também.

Ele fez uma pausa, colocando o cigarro nos lábios, escondendo, por um segundo, o sorriso cínico.

— Pessoalmente, não compreendo essa chama que as pessoas nomeiam de amor. Para mim, não passa de fraqueza e distração. E é isso que você é: a fraqueza dela.

— Mas que droga, Diana está morta! — Vanessa repetiu, os punhos cerrados.

— Com certeza, você prefere que seja assim. É mais fácil do que aceitar que ela partiu e a abandonou com uma mentira tão cruel. — Aquiles alfinetou.

Ela apoiou as mãos na mesa, ficando mais próxima do computador e Aquiles admirou as esmeraldas em seus olhos, recordando as inúmeras vezes em que flagrou Diana fazendo o mesmo com uma fotografia velha e amassada dela, no primeiro ano de sua parceria.

Ele fingia não notar, desde que Diana permanecesse concentrada em suas missões, todavia não perdia a oportunidade de recordá-la de que o passado deveria ser apenas isso: passado. Apegar-se a ele prejudicaria seu caminho e acabaria por lhe tomar a liberdade e a vida. E, aos poucos, ele a moldou, trouxe à tona sua frieza e desejos mais sombrios. No fim, Vanessa ficou no esquecimento quando Diana passou a desfrutar do lucro do seu trabalho.

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