Jorge estava confiante. Aquele era o seu dia de sorte.
Olhou-se no espelho retrovisor do carro, enquanto dirigia. Seu reflexo exibiu um sorriso vitorioso. Ao seu lado, Damião tamborilava os dedos no painel, acompanhando a música que tocava no rádio. Assim como ele, tinha um sorriso largo, um sorriso que valia dois milhões de dólares.
Passou a mão na fotografia pregada no painel e teve vontade de rir. Dez minutos antes, seu celular tinha tocado e ouviu, com prazer, a voz rouca de Túlio lhe informar que o seu alvo estava no local esperado. Coçou o nariz, já sentindo o cheiro do dinheiro.
Trabalhava para Marcos Alvarenga há quase dez anos e teve poucas oportunidades de crescer dentro da sua organização. As coisas melhoraram quando Tito assumiu a função de braço direito dele, mas ainda assim, era apenas um capanga. Alguém descartável.
Ganhava bem, porém não era rico e, apesar de ter tido inúmeras oportunidades de roubar alguns quilos de cocaína e iniciar seu próprio negócio, não se atrevia a fazê-lo. Desde que tentaram tirar Marcos do poder, três anos antes, a punição para roubo e traição era pior que a morte e o próprio Tito se encarregava da tarefa.
Alguns diziam que ele chegava a ser mais cruel que sua antecessora e não estava disposto a descobrir se era verdade. Por isso, mantinha-se na linha. No entanto, naquele dia a sorte lhe sorriu.
Aquiles era um nome importante no mundo do crime e estava pagando uma boa quantia para quem lhe entregasse a mulher que chamavam de Malena Villalobos. O nome nada lhe dizia, mas quando viu uma foto dela ao lado de sua ex-chefe, soube exatamente de quem se tratava. Diana, era assim que a finada associada de Marcos a chamava e, pelo que se lembrava, dos tempos em que fora apenas um segurança na residência dela, elas eram amantes.
Por isso, quando ouviu a conversa de Tito com ela, pelo telefone, soube de imediato com quem falava. Mal podia acreditar na oportunidade que o destino lhe apresentou.
O próprio Tito lhe ordenou que preparasse o veículo que deixou estacionado na esquina daquela cafeteria. Suas ordens eram claras: deixar o carro e partir, contudo ele tinha outros planos. Dois milhões era muito dinheiro para que não se sentisse tentado. Então, deixou Túlio de vigília à espera da chegada dela.
Assim que estacionou, Túlio se juntou a ele e Damião, apontando discretamente para uma mulher dentro da cafeteria. Jorge sorriu ao reconhecê-la. Ela usava um corte de cabelo diferente, além de ter uma palidez excessiva na pele que, outrora, exibia um encantador bronzeado.
— Senhorita Diana — Jorge chamou, quando ela cruzou a porta com fingido ar distraído.
Ela se voltou para fitá-lo, exibindo uma expressão confusa. O avaliou, de alto a baixo, como se estivesse diante de eletrodoméstico estranho, então perguntou:
— Desculpe, nos conhecemos?
Jorge sorriu, tentando parecer gentil. Um grande esforço da sua parte, visto que permanecer em silêncio era a coisa mais delicada que conseguia fazer.
— Trabalhamos para... — ele inclinou-se na direção dela, diminuindo o tom da voz — Marcos Alvarenga.
Os olhos dela tornaram a percorrer os traços dele devagar, como alguém que busca o reconhecimento em um rosto vagamente familiar. Impaciente, Jorge continuou com seu plano:
— Tito pediu para buscá-la. — Informou, apontando para a porta traseira do carro, que Túlio mantinha aberta.
Diana exalou forte, arqueando uma sobrancelha, enquanto enfiava uma das mãos no bolso do jeans.
— Rapazes, meus negócios com seu patrão estão finalizados. Sinto muito.
Jorge engoliu em seco. Sabia que tinha um aspecto ameaçador, perfeito para a profissão a que se dedicava, mas usou de uma voz tão macia para lhe falar, que até os companheiros o estranharam.

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Caçadora
ActionQuando Diana morreu, Vanessa enterrou seu coração junto com ela. Dez anos se passaram, desde então e, entre altos e baixos, encontrou conforto nos braços de Cristina. A vida parecia estar voltando aos eixos, até que, como uma fênix ressurgindo das c...