04|Esclarecendo fatos

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Assim que chegamos no meu quarto Giovani senta na poltrona e fica encarando o chão. Enquanto eu pego uma garrafa de Ice no frigobar, preciso de algo pra conseguir encarar essa conversa. O olhar perdido dele dói em mim. E eu nem gosto dele. Agradeço por Kevin não ter percebido e Jennifer estar com a comissão técnica. Sei o quanto os dois se importam com ele.

— Como você está? Sei que não está bem. Mas preciso que diga o que está sentindo — falo sentando na cama de Jen virada para ele.

— Vai querer ter um papo cabeça bebendo?

— Sou sequelada Giovani. Me ajuda a manter o foco da conversa — respondo tomando um gole generoso da bebida — Mas o foco aqui não sou eu. Sem fugir do assunto gatinho!

Ele sorri ao ouvir o apelido e eu reviro os olhos. Não pensei antes de falar.

— Eu tô puto. Comigo. Com minha vida. Até com o seu pai — me olha esperando um xingamento mas apenas faço sinal para ele continuar — Eu sei do meu potencial. Eu sei que sou capaz de fazer um jogo muito melhor do que eu fiz hoje. Mas eu simplesmente não conseguia acertar nada! E isso me deixa muito bravo. Porque parece que todos os torcedores que dizem que o Abel está certo em me usar pouco porque e não sou um bom jogador, estão certos!

— Então não é só o jogo de hoje que tá te deixando assim, né? — pergunto só pra ter certeza.

— Não. É tudo. Desde não ser relacionado nos primeiros jogos do paulista. Até fazer um jogo bosta quando tenho a chance de mostrar que mereço jogar no maior time do Brasil! Eu sei do meu potencial. Sei do meu foco. Sei o quanto batalhei pra chegar até aqui — suspira passando as mãos pelo rosto.

Giovani está cansado. A torcida do palmeiras cobra muito de seus jogadores. E assim como a maioria das torcidas. Às vezes esquecem que os jogadores são pessoas e não máquinas. E acho que meu pai errou em usá-lo como titular já no primeiro jogo. Apesar de ter ido bem nos jogos treino, Giovani está sem ritmo de jogo. E está mentalmente sobrecarregado.

— Eu sei o quão esforçado e dedicado você é. Mas você precisa entender que existem dias ruins. Dias em que não importa o quanto você tente, nada dá certo. Você não é uma máquina. E está sobrecarregado — caminho até ele e me abaixo para olhar nos olhos dele — Você está aqui porque é um bom jogador. Não são os dias ruins que definem teu potencial. São os dias bons. Quem fez uma ótima partida contra a Tombense com direito a assistência pro Breno? Quem deu um novo ritmo pro Palmeiras no jogo contra o Santos no Morumbi? Deu duas assistências contra o Mirassol?

— Eu. Mas isso não muda o quão mal eu estava hoje. Ou o quão mal eu fui quando joguei de titular no paulista contra o Guarani — responde sem olhar para mim.

— Eu sei. E não estou dizendo pra você esquecer desses dias. Pelo contrário. Quero que você lembre desses dias. Mas também quero que não esqueça dos dias bons. Porque a vida é assim. Repleta de dias bons e ruins. E depende de você decidir se vai se deixar abalar pelos dias ruins ou vai deixar os dias bons te motivarem para os dias ruins serem menos frequentes.

— Por que você está me ajudando? — pergunta finalmente olhando para mim.

— Porque apesar de não suportar você. Eu não sou uma vadia insensível! — respondo voltando a sentar na cama — E aí, vai querer continuar com essa cara de cachorro que caiu da mudança ou vai mostrar pra todo mundo que tá falando merda sobre você quem é o Giovani Henrique de verdade?

— Eu não sou um cachorro que caiu da mudança! — afirma sério.

— Boa garoto! Apesar de passar noventa porcento do tempo querendo arrastar sua cara no asfalto. Detestaria ver você deixar os comentários de pessoas que mal te conhece te abalar! — sorrio virando o resto da Ice.

I Hate You - Giovani Henrique Onde histórias criam vida. Descubra agora