Depois da leve troca de farpas com Giovani, jantei tranquilamente com meu pai e depois voltei para o quarto para deixar tudo pronto para viajar para a Argentina na manhã seguinte.
— Bom dia flor do dia! — Kevin me cumprimenta sorrindo assim que chego onde estavam todos reunidos para ir pro aeroporto.
— Cara, dá um tempo! Acabei de acordar. Não tomei nem café! — resmungo me jogando em uma poltrona.
— Que bom que você tem amigos né dona Maria! — Andrey fala me estendendo um copo de café — Puro sem açúcar pra você acordar.
— Amargo igual a alma dela — Giovani zomba me fazendo notar a presença dele.
Usando o uniforme padrão de viagens. Com um sorriso de orelha a orelha. E a cara de quem teve a melhor noite da vida dele. Sinto vontade de me esconder ainda mais em meu moletom.
— Você está irritantemente bem demais pra quem acordou às seis da manhã — murmuro tomando um gole do café.
— E você está péssima! — fala rindo.
Antes que eu tenha tempo de falar os vários insultos que vieram à minha mente. Meu pai aparece entre os jogadores e membros da comissão técnica chamando meu nome.
— To aqui pai! — levanto tomando o resto do café em um gole.
— Filha, essa é a Jennifer — aponta para uma garota ao seu lado — Ela ficará de olha em você durante o mundial. Se precisar de algo fale com ela!
— Pai eu não preciso de babá! — falo mas ele já está indo até o ônibus que nos levará ao aeroporto.
— Seu pai é bem protetor, né? — ouço a voz da garota e finalmente olho para ela.
É uma garota linda de pele negra e cabelos cacheados com alguns fios descoloridos. A mesma garota que me recepcionou ontem. Foi super simpática. Mas ainda assim não me deixa feliz saber que ela ficará no meu pé durante a viagem inteira.
— Protetor até de mais — falo revirando os olhos.
— E com razão né gatinha? Qualquer dia desses você vai acabar matando alguém — Giovani ironiza.
— Eu já falei pra você me chamar de Maria Fernanda! — exclamo dando um soco no peito dele — E se você não tomar cuidado vai ser você quem irá morrer!
— Ta vendo Jenny! Vai ser babá de uma louca psicótica! Dorme de olho aberto — debocha passando a mão no lugar onde eu havia batido — Caralho garota! Mó socão!
Fuzilo ele com o olhar. O que só faz com que ele ria. Giovani é a pessoa mais sadomasoquista que eu conheço. Quanto mais eu me estresso com ele. Mais ele ri e provoca.
— Sinto muito Maria, mas infelizmente eu ainda não aprendi a desovar corpos — Jennifer põe a mão no meu ombro — Se não te ajudava a matar ele.
— Conhece a peça? — pergunto curiosa, encaixando meu braço no dela e puxo minha mala enquanto começamos a caminhar em direção ao ônibus.
— Sou amiga da irmã dele.
— A Bia? — pergunto e ela concorda — Ela é uma fofa. Completamente diferente do idiota do irmão dela.
— Eu tô ouvindo! — Giovani resmunga atrás de nós fazendo Kevin e Andrey rirem.
— Sim! Conheci ela quando me mudei para o Brasil. Uma fofa! — Jenny continua ignorando Giovani.
Jennifer e eu vamos conversando durante todo o caminho até o aeroporto. Descobri que ela nasceu nos Estados Unidos, mas se mudou para o Brasil com a mãe, que é brasileira, quando tinha quinze anos em 2014. Ela é formanda em educação física e está se especializando para ser preparadora física. Fabio Mahseredjian, preparador físico da seleção principal, é amigo da mãe dela e conseguiu um estágio para ela na seleção.
— Não acredito que você largou a faculdade por causa de um garoto! — exclama indignada.
— Não foi qualquer garoto. Foi o meu primeiro amor. E eu não ia ficar em São Paulo sofrendo por ele!
— Se você tivesse feito em São Paulo o que você foi pra lá fazer, não teria passado por isso — fala prendendo o riso.
— Provavelmente eu acabaria voltando pro Rio de qualquer forma. Meu pai não consegue ficar muito tempo longe de mim. Ele tem uma certa necessidade em estar sempre vigiando o que acontece na minha vida — conto sentando em uma das poltronas do avião.
— Ele sempre foi assim? — pergunta sentando há uma poltrona de distância da minha.
A pergunta dela me leva diretamente para as lembranças da minha infância que sempre tento ignorar. Me leva diretamente para o dia em que tudo mudou. O dia em que meu pai se tornou pai e mãe. E o dia em que eu vi minha inocência escapar pelos meus dedos depois da minha mãe ser assassinada na minha frente.
— Não. Ele era o tranquilo da relação antes da minha mãe morrer — forço um sorriso.
— Sinto muito. Eu não vejo meu pai desde que vim pro Brasil. Não é fácil, mas ele escolheu isso. Ninguém tirou ele de mim.
— Aprendi a conviver com isso. Acho que da mesma forma que você aprendeu a conviver com a ausência do seu pai — dou de ombros.
— Minha mãe é boa demais para eu sentir falta daquele lunático — afirma sorrindo.
Uma das coisas que mais me cativou na Jennifer é isso. A forma como ela encara os próprios problemas de forma tão leve. Talvez para uma psicóloga isso seria preocupante. Mas para mim, que larguei a faculdade de fisioterapia no segundo período, isso é incrivelmente confortável.
— Eu juro que se vocês passarem o voo inteiro falando eu vou coringar — Kaique, goleiro da base do palmeiras, levanta do banco da frente e se vira para nós.
— Bom te ver também Kaique! — afirmo sarcástica — Fica tranquilo que eu pretendo dormir até chegar lá!
— Obrigada! É sempre bom te ver! — sorri olhando para mim e volta a sentar
— Deixa o professor te ouvir dando em cima da filha dele pra você ver o que é bom! — Giovani fala passando ao nosso lado no corredor.
— Ele namora seu imbecil! — exclamo jogando minha almofada de pescoço nele.
— Valeu Nandinha! Esqueci a minha em casa! — sorri atentado indo para a parte de trás do avião.
— Nandinha é? — Jen debocha me fazendo revirar os olhos.
— Cala a boca! — falo tentando não sorrir.
Logo depois a aeromoça começa a passar as instruções pré-voo e eu me ajeito para dormir e acordar somente em solo m argentino.
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Se odeiam mas não conseguem ficar longe um do outro.
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I Hate You - Giovani Henrique
RomansMaria Fernanda é uma garota de personalidade forte que não abaixa a cabeça pra ninguém. Muito menos se esse alguém for Giovani Henrique. Os dois se conheceram quando Nanda começou a namorar Kaiky, amigo de Giovani. A falta de simpatia um pelo outro...