09|Porto Seguro

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Acordar na manhã seguinte abraçada com o Giovani despertou coisas das quais eu não queria ter que lidar. É muito mais fácil odiar alguém do que ter sentimentos confusos. E se eu já estava confusa antes. Ele ter cuidado de mim depois de uma crise não ajudou em nada.

Eu não sou boa com sentimentos. Ou eu sou intensa demais. Ou intensa de menos. Não tem meio termo. É oito ou oitenta. E não é justo fazer as pessoas terem que lidar com isso. Não julgo Kaiky por terminar comigo. Ele gostava de mim. Mas eu amava ele. Ele foi justo em não manter um relacionamento onde não correspondia os sentimentos na mesma intensidade. Ele é um cara bacana. Só não é o meu cara bacana. Confesso que acho que meu cara bacana nem existe.

Às vezes quando estou com Kevin e Ana ou Pedro e Pietra sinto vontade de ter um namorado. Mas meu receio é muito maior que a vontade. E Mariana e eu temos nosso combinado de que se nada der certo pra gente até os trinta anos, a gente se casa e foge pra fora do país.

— Tá em Nárnia? — Ana pergunta estalando os dedos na frente do meu rosto.

Estamos esperando começar o jogo entre Brasil e Nigéria. Acabei me perdendo na minha própria cabeça e não prestando atenção no que ela estava falando.

— Desculpa. Tava pensando em outra coisa.

— A senhorita tá bem reflexiva nos últimos dias né? Principalmente depois que andou dormindo com um certo atacante de dezenove anos — estreita os olhos olhando para mim.

— Como você sabe? — pergunta arregalando os olhos.

Até onde eu sabia, só Giovani e eu sabíamos que dormimos juntos.

— Acha mesmo que o Giovani ia conseguir ficar quieto sobre isso? Ele tá pilhado igual você! E o Kevin não esconde nada de mim — da de ombros.

Reviro os olhos. É obvio que Giovani contaria. E é mais óbvio ainda que o Kevin não guardaria segredo.

— Que bom pra você, Ana! Chance zero do Kevin te trair. Ele não consegue guardar segredo — falo rindo e ela me fuzila com o olhar — O quê? Você sabe muito bem a fama de jogador de futebol!

— Não mude de assunto!

Odeio a forma como sou extremamente transparente. Todo mundo sabe quando não tô bem. Se tô escondendo algo. Se quero mudar de assunto. É um saco.

— Eu tive um desentendimento com meu pai naquela noite. Minhas reflexões não tem nada haver com o Giovani! — tento soar o mais sincera possível.

Ela me olha por alguns instantes mas acaba se dando por vencida. Sabe que não vou falar mais nada.

O jogo começou eletrizante, apesar do gramado sofrível do estádio Diego Armando Maradona, em La Plata. Logos aos 7 minutos, a Nigéria quase abre o placar após cruzamento de Emanuel pela direita, na medida para Sal Fago chutar de primeira, mas a bola estourou no travessão e depois quicou em cima da linha, a tempo do goleiro Mycael afastar. O Brasil respondeu logo depois dois contra-ataques pela esquerda. No segundo deles, o camisa 20 levantou na área e Marquinhos bateu forte uma bola venenosa que o goleiro Aniagboso afastou com o pé. O jogo seguiu intenso, com ambos os times se lançando ao ataque. De tanto insistir, o Brasil abriu o placar aos 42 minutos, após escanteio pela esquerda, batido com precisão por Marquinhos para Jean testar para o fundo da rede. E ainda deu tempo da seleção marcar mais um, após lindo contra-ataque de Leonardo: ele tabelou com Savinho, que tocou para Marquinhos fazer o dele, o segundo do Brasil. 

Após o intervalo, o Brasil desperdiçou boas oportunidades de ampliar o marcador. Aos 11 minutos, Savinho disparou pela direita, se livrou da marcação e já dentro da área bateu colocado, mas Aniagboso evitou o gol. Já a Nigéria quase descontou aos 27 minutos,após jogada em velocidade e boa troca de passes, Sarki recebeu e mandou uma bomba, que só não entrou porque Mycael saltou e desviou com a mão. A bola ainda balançou o travessão antes de sair. Apesar das tentativas de lado a lado, o Brasil administrou a vitória até o fim.

I Hate You - Giovani Henrique Onde histórias criam vida. Descubra agora