15|Contando histórias

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Assim como tínhamos combinado. Mariana e eu fomos até a casa de Zé Rafael para tomar café com Sthe e as crianças. Adoro a forma como Zé está sempre incluindo a irmã na vida da família dele.

— Tia Mari, é verdade que você está mais namorando? — Heitor pergunta.

Mariana dá uma leve engasgada com o café. Crianças têm o dom de perceber tudo que acontece ao redor delas. Seja algo explícito ou escondido a sete chaves. Tenho certeza que agora a mente dela deve estar repassando inúmeros acontecimentos que podem ter feito Heitor perceber algo.

— Oxi menino tirou isso de onde? No meu coração só tem lugar pra vocês!

Prendo o riso e ela me fuzila com o olhar. Ela sabe que não adianta mentir pra ele. A forma como Sthefany está olhando para a cunhada indica que ela também desconfia de algo. Zé provavelmente deve ter percebido algo entre ela e Kaiky e contou pra esposa. O que não falta no Palmeiras são jogadores fofocando com as esposas e namoradas.

— É que o Mulilo disse te viu você beijando o tio Kaiky na boca! — Helena responde pelo irmão, adoro essa garota, três anos e muito apocalíptica.

Me viro para Mariana, tendo a visão dela totalmente pálida com os olhos arregalados em completo choque. Ela certamente não esperava por isso. Sthefany parece quase tão chocada quanto ela.

— Mari cê tá bem? — pergunto preocupada.

— E-Eu n-não sei do que vocês estão falando. Murilo deve ter me confundido com outra pessoa — fala para as crianças.

Os dois irmãos se olham e dão de ombros voltando a comer. Como se não tivessem acabado de soltar uma informação que pode fazer a tia deles surtar em quinze línguas diferentes, e ela nem fala quinze línguas diferentes.

— Quer falar sobre isso? — Sthe pergunta.

— Não. Mas eu acho que preciso, né Nanda? — me olha com uma expressão culpada.

— No seu tempo, Mari. Não se preocupe comigo. Eu estou bem — sorrio para ela.

Mariana força um sorriso e eu logo mudo de assunto. O clima logo melhora. Aproveitamos para atualizar Sthe das nossas fofocas e ela nos atualizou das que sabia. E mais uma vez eu me senti em casa. Como em todo lugar que eu vou em São Paulo.

Eu espero algum dia entender porque me sinto tão acolhida em São Paulo. Nasci e cresci no Rio. Vivi momentos incríveis lá. Meu pai e meus avós moram lá. Mas ainda.  assim sinto que não é meu lugar. Me sinto presa quando estou lá. Como se não pudesse ser eu mesma. E a forma como todos que e conheço em São Paulo me tratam faz com que eu ame ainda mais esse lugar.

— Nanda — Mari chama enquanto lavamos a louça.

— Fala coração.

— Por que você está tão tranquila com o que a Helena falou? E se for verdade? — pergunta sem olhar para mim.

— Se for verdade, eu vou deixar você falar antes de tirar alguma conclusão. Não me importo com isso desde que você esteja feliz — dou de ombros e ela olha para mim desconfiada.

— Você sabe não é? Por isso está tão tranquila!

— Eu desconfiava. Kaiky confirmou ontem — conto secando minhas mãos.

— Eu vou matar ele! Ele não tinha esse direito! Eu disse que queria que você soubesse por mim! — exclama irritada.

É engraçado ver ela irritada com ele. Lembro de como ela dizia odiar ele depois que terminamos. Era quase certo que todo esse ódio poderia se tornar outra coisa.

I Hate You - Giovani Henrique Onde histórias criam vida. Descubra agora