I Hate You - Giovani Henrique

00|Prólogo

— Pai, eu juro pra você que vou me comportar! — junto as duas mãos e faço minha melhor expressão angelical.

— Fernanda, eu já te disse que não vou mudar de ideia! — meu pai desvia o olhar e eu sei que estou perto de conseguir o que eu quero.

— Eu não quero passar minhas férias trancada em um apartamento! — ele me olha cético — Se você deixar eu volto pra faculdade!

— Promete? — pergunta sério.

— De dedinho! — ergo meu mindinho na direção dele que balança a cabeça negativamente antes de entrelaçar o mindinho dele com o meu.

— Aí de você se eu descobrir que tem garoto envolvido nessa tua insistência! Não quero jogador desconcentrado por causa da minha filha!

— Já te falei que jogadores de futebol não fazem mais o meu tipo! — afirmo fazendo ele sorrir.

Eu sei que vocês devem estar se perguntando quem é essa doida, então vou me apresentar. Prazer, me chamo Maria Fernanda Menezes, tenho dezenove anos e sou filha do técnico da seleção sub-20 Ramon Menezes. Muita gente me conhece como a filha mimada do Ramon. Ou como a ex-namorada do Kaiky Naves. Acho uma tremenda palhaçada as pessoas me resumirem ao meu pai e meu ex-namorado.  Mas infelizmente não posso mudar a opinião alheia, e eu realmente sou mimada e ex do Kaiky. Mas sou uma ótima cozinheira e trabalho para me sustentar. Tudo bem que meu pai deposita todo mês uma certa quantia na minha conta. Mas aluguel, água, luz e internet quem paga sou eu.

A Copa do Mundo sub-20 começa realmente no dia vinte de maio. Mas a preparação dos atletas inicia dia oito. Eu contei os dias até quinze de maio, que é quando minhas férias começaram e eu finalmente pude ir para a Granja Comary. Logo que cheguei lá já fui muito bem recepcionada e levada até o meu quarto.

— Seu pai está terminando o treino de hoje. Mas já avisamos ele que você chegou. Sinta-se a vontade. O janta será servido às 18 horas! — a moça simpática da recepção termina de falar e se retira me deixando sozinha.

Vejo no relógio da parede que não são nem quatro horas. O jantar vai demorar ainda, então tenho tempo para descansar um pouco. Ou melhor, mexer no celular até perder a noção do tempo.

— Nanda... Acorda meu bem... — ouço meu pai sussurrando e demoro alguns segundos para perceber que havia dormido.

— Oi pai! — abraço ele.

— Oi minha princesa! — se afasta e tira uma mecha de cabelo da frente do meu rosto — Se arruma que o jantar já está pronto!

— Me arrumar? Por quê?

— Vai querer jantar com a cara amassada de tanto dormir? — pergunta prendendo o riso.

Vou até o espelho do banheiro e constato o completo caos que estou. Cabelo desgrenhado. Rosto marcado. Rímel borrado. Roupa amassada...

— Me espera lá em baixo que já já eu desço! — afirmo e meu pai concorda saíndo do quarto em seguida.

Depois de alguns minutos. Muitos lenços demaquilantes. Minha rotina de skin care. Várias roupas trocadas. Finalmente estou pronta para jantar.

Saio do quarto apressada sem nem olhar se tinha mais alguém no corredor. Resultado? Meu lindo corpo indo de encontro ao chão da forma menos graciosa possível depois de se chocar com alguém.

— QUE MERDA! — exclamo irritada.

— Desculpa, estava distraído! — ouço uma voz masculina e uma mão aparece na minha frente se oferecendo para me ajudar a levantar.

Reúno o toda minha coragem e o resto de dignidade que ainda tenho para olhar para o dono da voz. Paro minha mão que estava indo até a dele na metade do caminho.

— Eu posso levantar sozinha — afirmo e em alguns segundos já estou em pé na frente do dono da voz.

— Tinha que ser você — fala descrente.

— Esperava que fosse quem? O Neymar?

— Qualquer pessoa é melhor que você, nepobaby! — retruca revirando os olhos.

— Olha quem fala, jogadorzinho! — cruzo os braços irritada.

Giovani Henrique Amorim da Silva, conhecido também como o ser humano mais insuportável que eu já conheci na minha vida. Tinhamos tudo para ser ótimos amigos, ele é amigo do Kaiky, adora futebol, ambos temos um amor muito grande pelo Palmeiras. Mas por algum motivo que nem nós entendemos, não conseguimos passar cinco minutos juntos sem acabar nos desentendendo.

— Ainda espero pelo dia em que vocês dois vão aceitar que essa raiva toda é amor incubado — ouço uma terceira voz vindo da porta do quarto ao lado.

Kevin e Andrey estavam parados olhando para nós dois com um sorriso de canto. Reviro os olhos antes de abraçar Andrey.

— Odeio você! — afirmo quando nos afastamos.

— Me ame menos Maria! — responde enquanto faço meu toque com Kevin.

— Bom te ver nanica! — Kevin zoa e eu reviro os olhos novamente.

Andrey é meu amigo a anos. E Kevin acabou se tornando durante o tempo em que morei em São Paulo. A princípio era para fazer faculdade. Mas tranquei no segundo semestre e me apaixonei por um jogador de futebol. No fim acabei voltando pra São Paulo sem diploma e com mais uma decepção amorosa.

— Vou jantar antes que vocês acabem com o meu bom humor! — exclamo indo até o elevador.

Não me surpreende nenhum pouco quando os três jogadores correm para dentro do elevador antes da porta fechar.

— Por que vocês dois se odeiam? — Kevin pergunta se referindo a Giovani e eu.

— Não odeio ninguém. Ela que odeia o fato de eu não comer na palma da mão dela assim como todo mundo da vida dela — Giovani responde olhando no fundo dos meus olhos.

Cravo minhas unhas nas palmas da mão tentando manter a calma. É incrível a forma como esse garoto consegue me desestabilizar em questão de minutos.

— Teu amigo não aceita o fato de que é obcecado por mim. Aí fica dando patada e sendo escroto.

— Obcecado por você? Não viaja Fernanda! — se aproxima de mim.

— Completamente obcecado. E pra você é Maria Fernanda! — olho no fundo dos olhos dele antes de continuar a falar — Já contou pro seu amigo que você é obcecado pela ex dele?

— Deu né Maria? Seu pai não vai gostar de ver você brigando com um dos jogadores dele — Andrey põe uma mão na minha barriga e me empurra levemente para trás.

Vejo Kevin afastando Giovani de mim. Os dias formam quase uma barreira entre nós dois. Dou graças a Deus quando o elevador finalmente abre as portas.

— Vou procurar meu pai! — quase corro para fora do elevador.

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Maria Fernanda sabe muito bem como ser insuportável kkkkk