IV

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Os dias se passaram como carros em uma avenida.

Eu gostava de fazer tais comparações esquisitas.

Como dizer: hoje o céu está branco como um algodão doce.

Ou, estou me sentindo amarela.

Amarelo não era bege.

Amarelo era feliz.

Eu amava amarelo.

Então por que me considero bege?

A menina sorrisos falava algo na minha frente, mas eu havia me distraído.

Distraído com o tempo. Ele passava rápido demais.

Quando olhei pra janela o sol já dizia adeus.

Eu amava o sol. Ele era amarelo.

— E então, o que está pensando? — a olhei com os olhos arregalados. Ela sabia que eu tinha me destraído?

Ela nunca mais iria querer falar comigo

Iria pensar que não ligo pra ela

Ou pra seus pensamentos mirabolantes

Eu ligo.

Queria muito ouvir sua história sobre... Sobre...

Acho que era sobre a infância.

Droga, eu havia me perdido há muito mais tempo do que pensei.

— Não precisa ficar com essa carinha — Seu sorriso foi substituído por um bico nos lábios e ela se curvou sobre a mesa para apertar minhas bochechas. — E então? O que tanto olha? — voltou para seu assento.

— Você não está brava? — como ela não está? Todos ficavam.

— Por que estaria? Minha história sobre como rolei de um penhasco é mesmo entediante — Ela riu e eu arregalei os olhos.

— Você rolou de um penhasco?! — meu deus!

Por que ela estava gargalhando?

— Não boba, estou só brincando com você — lentamente tirou uma lágrima que havia escorrido de seu olho pelo riso intenso. — Quando percebi que você tinha se distraído comecei a inventar histórias fictícias, foi engraçado.

— Você não está brava? — tornei a perguntar.

— Não, está tudo bem — sugurou minha mão por cima da mesa. Aquilo estranhamente tinha me acalmado. — Nossa hora acabou, tenho que voltar pro trabalho — olhou para seu relógio dourado no pulso esquerdo.

Era disso que eu falava.

O tempo passava rápido demais.

E eu não havia aproveitado o suficiente.

— Mesmo horário amanhã? — balancei a cabeça sem conseguir formular uma frase decente. — Certo. Termine logo de ler esse livro, tenho alguns novos para te apresentar.

Ela ia embora

Já tinha me dado as costas

Eu precisava falar

Precisava perguntar

Já fazia uma semana que nos encontravamos

Era a hora

Não era?

— Espera! — corajosamente a chamei, vendo-a parar no mesmo segundo e me olhar

Com um sorriso.

Aquele sorriso.

— Não quero mais pensar que você é a menina sorriso — ela sorriu de novo. — Me diz seu nome?

Mais um sorriso. Dessa vez um de lado. Galanteador. Como se achasse que nunca fosse ouvir esta pergunta, mas agora tinha sentido o gostinho, e talvez até gostado disso.

— Pensei que nunca fosse perguntar — foi minha vez de sorrir, mas, diferente dela, eu sorria tímida. — Roseanne. Park Roseanne.

— Lalisa — estendi minha mão para cumprimenta-la, e ela logo a apertou. — Mas não Manoban Lalisa, sim Lalisa Manoban.

— Prazer te conhecer não Manoban Lalisa, sim Lalisa Manoban — brincou deixando escapar uma risada, e eu acabei por embarcar na dela.

Ela estava me fazendo sorrir.

— Prazer te conhecer Park Roseanne.

Agora eu sabia seu nome.

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde histórias criam vida. Descubra agora