XV

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O sol já ia se por.

Faltava pouco.

E eu queria que Roseanne fosse mais rápida se não iríamos perdê-lo.

Mas ela inventou de ir de bicicleta.

O que estava estragando meus planos de ver o pôr do sol no lago.

Estávamos em uma bicicleta dupla.

A, agora loira, havia me obrigado a alugá-la.

E o que eu não fazia por ela?

Nada.

A resposta é: nada.

Ela tinha um bom condicionamento físico, eu já não podia dizer o mesmo.

Qualquer morrinho avantajado que nós passávamos minha perna pedia socorro.

Mas finalmente havíamos chegado.

Paramos as bicicletas.

Pegamos as coisas na sua mochila, já que não tínhamos cesta.

E montamos nosso piquenique improvisado.

Roseanne me fez comprar algumas coisas no mercado e ela preparou ali na hora.

— Está muito bom, certamente — disse assim que terminei de mastigar o pãozinho com patê que ela havia feito na hora.

— Eu disse que você iria gostar.

— É, estou começando a acreditar que você sempre tem razão — ela sorriu e se aproximou mais de mim.

Estávamos sentadas na grama, assistindo o pôr do sol no lago.

Seria idiota eu dizer que queria beijá-la ali pois acho que seria um lindo ósculo?

Bom, brega ou não, eu não me importava.

Eu estava ansiosa.

O momento vai chegar. Eu tenho certeza.

— Hm. Olha o que eu trouxe — mexeu em sua mochila até tirar um livro de lá. — O Pinóquio do nariz curto — leu o título.

— Significa que ele não mentia? — Ela sorriu e se levantou, tirando um pouco das migalhas de pão que haviam grudado em sua calça.

— Vai ter que ler pra descobrir — Esticou a mão e eu logo a peguei para levantar.

Com as mãos entrelaçadas, ela me levou até uma árvore próxima e se sentou ali apoiando suas costas no tronco, e eu logo fiz o mesmo.

— "Numa vila distante, na menor casa no final da rua G, o menino de madeira olhava todos os dias para as estrelas, perguntando-as qual o sentido de ter vida quando não podia ser humano, quando não podia ir a escola sem receber olhares tortos, ou sangrar ao machucar o dedo brincando na rua com as crianças, qual o sentido de estar vivo se não podia desfrutar do lado bom da humanidade, como um simples chá de ervas ou uma comida preparada na hora?"

Ela lia com calma, e eu apenas aproveitava a oportunidade de apreciá-la fazer algo tão banal como ler em voz alta.

Ela tinha sua cabeça encostada no meu ombro, quase se jogando em cima de mim.

Suas mãos se encontravam com o livro, mas as minhas se perdiam na barra de minha calça, sem saber muito o que deviam fazer.

Confesso ter me perdido no meio da história.

Olhar para seus lábios parecia-me ser mais interessante do que ouvir suas palavras.

Eu as ouvia, na verdade, só não deixava meu cérebro raciociná-las.

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde histórias criam vida. Descubra agora