XXIII

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Os dias ficavam mais tediosos quando Roseanne não estava comigo, consequentemente eles passavam mais devagar.

Era uma sexta, devia ser dia de sair, dia de ver filme, ou dia de não trabalhar.

Sexta é o dia perfeito pra sair de noite, pois sábado a maioria das pessoas não trabalham, quer dizer, pessoas como eu.

Mas hoje não era sábado. Era sexta, e sexta se trabalha de manhã para sair à noite.

Eu tinha coisas pra fazer, mas não queria.

Tinha relatórios pra entregar, mas nem os comecei.

Tinha que ir a uma reunião, mas não iria.

Tinha até que sair mais tarde com alguns acionistas da minha empresa, ams eu não ia.

Meu assistente ia.

Acho que nunca falei dele aqui.

Harry.

O gentil rapaz de cabelo lambido que cursava relações internacionais.

Ele falava poucas línguas, mas isso não impedia seu sonho.

Não perguntava muito sobre sua vida, mas sabia que ele não tinha carro, nem moto, vinha de bicicleta e tomava banho na empresa pra não trabalhar suado.

Ele tinha uma irmã pequena, sei disso porque vira e mexe ela aparecia aqui com a mãe, aparentemente viciada.

Ele gostava de fazer meu trabalho, e foi exatamente por isso que eu o contratei, pra fazer o que eu não tô a fim.

Confio nele, mais do que deveria, talvez, mas o garoto nunca me deixou na mão, talvez seja um dos meus poucos amigos, mesmo eu não o nomeando como tal, afinal, não sei ao menos seu sobrenome.

Estava com ele a... a...

— Harry! — o chamei intrigada.

Eu tinha meus pés em cima da mesa de vidro enquanto ele sentava em sua mesinha própria no canto da minha sala, esta que era envolvida por uma vidraça enorme com a cidade aos nossos pés.

— Sim? — ele respondeu, sem se desconcentrar do notebook na sua mesinha de vidro circular.

— Há quanto tempo você trabalha pra mim?

— Desde que você entrou na empresa, senhora Manoban — coloquei a mão no queixo, então já fazem alguns anos...

— Quantos anos?

— Oito anos e sete meses.

— Nossa... É tempo à beça né?

— É sim, senhora — parou de olhar para o notebook ao perceber que eu queria papo,

— E quantos anos você tem, Harry?

— Vinte e três.

— Nossa... Você é jovem.

— A senhora também — sorriu gentil.

— Vinte e sete não é ser jovem.

— É sim, não está nem na metade da sua vida.

— Você tem um ponto — dei razão a ele. — Harry, pode desmarcar meus compromissos mais tarde por gentileza?

— Mas e a reunião?

— Estou com saudade da minha namorada, prefiro ela do que aqueles acionistas sem graça e o pessoal da montadora. Vá à reunião sem mim e faça um resumo por favor.

Ah, acho que eu havia esquecido de mencionar, eu era dona da Rolls Royce.

— Quero um novo modelo de suv, já mandei como quero o interior e o design, o resto é com vocês — disse me levantando da mesa, eu ia almoçar com meu pai hoje.

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde histórias criam vida. Descubra agora