XIX

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Eu tinha alianças.

Tinha uma roupa bonita.

Tinha reserva num restaurante incrível.

Tinha tudo.

Menos o principal:

Coragem.

Eu ouvia Roseanne contar sobre sua nova música, mas por mais que eu quisesse muito prestar atenção, minha mente estava presa em como eu pediria ela em namoro.

Estava apreensiva, chegava até a suar frio, mas ela não havia percebido graças à distância.

— Lisa, você está bem? — Ouvi sua voz distante e acordei do transe.

— Estou — fui breve para não dar pinta, mas não a convenci.

— Acho que já podemos ir embora, já terminamos nossa sobremesa há quinze minutos.

Suspirei derrotada.

Eu era uma fracote.

Sem dizer nada, apenas pedi a conta ao garçom e fomos até o meu carro.

Eu estava pronta para abrir a porta, mas Roseanne me impediu, me puxando para a praia que tinha ali.

Ela segurou minha mão e eu obviamente não recusei, visto que eu pularia de um penhasco se ela me pedisse.

Quando chegamos na areia, ela tirou seu sapato e me olhou antes de dizer:

— Você está triste, acho que um banho de mar te ajudaria.

— Quer que eu entre nessa água gelada? — Perguntei assustada e ela assentiu. — Eu não estou triste.

— Porque está assim então?

— Assim como?

— Apreensiva, eu conheço você, você está pensando demais e agindo de menos — fiquei em silêncio, ela tinha razão. — Viu, está pensando de novo. Vamos entrar na água.

— Roseanne, está fazendo sete graus, vamos congelar.

— Então pare de pensar e comece a agir — ela tirou sua meia.

— Isso é loucura! — a vi ameaçar tirar a calça e não aguentei. — Tá! Eu estava com medo. Medo de ser demais, medo de gostar demais, medo de ser melosa ou carente demais, medo de te amar de mais e descobrir que você me ama de menos.

Ela parou onde estava para me olhar atentamente.

Respirei fundo e continuei, agora que eu comecei tinha que terminar.

— Eu quero estar com você a toda hora, a todo instante, a todo segundo, quero estar tipo estar mesmo, do tipo de casal que não se desgruda. Mas tenho medo de ser demais pra você, de você acabar entendendo como carência. Mas a verdade é...

Travei.

Travei me perdendo nos pensamentos.

Travei pois não sabia se tinha coragem de dar um passo à frente e arriscar perder tudo.

E ela percebeu.

Tanto que ameaçou tirar sua calça novamente para entrar naquele maldito mar gelado.

Então eu continuei, tomei coragem pois a última coisa que queria era vê-la congelar naquelas águas, nem que isso custasse minha zona de conforto.

— A verdade é que eu não consigo mais viver sem você. Não consigo mais dormir sem você no lado esquerdo da cama, ou levantar pra tomar café e não te ver na cozinha com um sorriso, dizendo "bom dia dorminhoca". Não consigo ler um livro sem pensar no que você acharia sobre ele e não consigo ver nada de morango sem cogitar levar pra você. Não consigo passar um dia sem pensar em você, não consigo mais viver sem você! E não é carência, é amor, eu amo você. Amo você mais do que amo café, ou livros, ou a cafeteria que nos conhecemos, amo você mais do que eu posso descrever. E amo você tanto, ao ponto de passar por cima de todas as minhas inseguranças sobre você achar que eu estou sendo demais, só pra não te ver congelando nessa água.

Me aproximei dela e segurei sua mão, a trazendo até meu peito.

— Meu coração só bate assim quando estou com você, acho que ele te ama também, mas eu amo mais — contei como se fosse um segredo. — Sei que sou devagar e paranoica, sei que demoro pra agir e sempre penso um milhão de vezes antes de falar as coisas, sei que nossos mundos são diferentes assim como nossa visão sobre eles, e sei também que eu amo muito você pra te deixar ir pra longe.

Tateei meu bolso pegando a caixinha preta do bolso.

E, mesmo com muito medo de ser rejeitada e levar um não, eu abri a caixa mostrando a ela os dois pares de aliança rosadas. Era ouro rose.

— Você quer namorar comigo?

Eu vi um sorriso sair de seus lábios, mas ela não me respondeu.

Pelo contrário, ela colocou seu sapato de volta e correu até o carro.

Ela estava brincando comigo?

Que tipo de brincadeira era essa?

— Roseanne? — aumentei um pouco o tom de voz para ela me ouvir, enquanto eu corria atrás dela. — Se for dizer não é só dizer, não é legal ficar em silêncio e correr pra longe de mim — disse o que sentia enquanto ela abria a porta do carro. — É sério, você está me fazendo me sentir uma idiota e-

Calei a boca assim que ela bateu a porta e me mostrou um origami de papel.

Era um anel de papel amarelo.

Tinha um R desenhado junto a uma cara fofa de pato.

Eu sorri ao ver, mas ainda não tinha entendido o que ela queria dizer.

— Não ia conseguir comprar um anel tão legal quanto o seu, então tava juntando coragem pra te pedir em namoro com isso — ela riu um pouco envergonhada. — É amarelo porque você gosta...

Eu a olhei incrédula.

Ela era tão...

Perfeita.

— Isso é um sim? — perguntei só pra ter certeza.

— Sim Lili, eu quero namorar você — sorriu com os olhos fechados, me arrancando um sorriso também.

— Eu gostei do meu anel — peguei o origami o colocando no meu dedo. — Vou usar ele pro resto da vida. Gostei do R de Rosé também.

— É pra clamar posse — arqueei a sobrancelha, vendo-a chegar perto de mim. — Você é só minha agora.

— Eu sempre fui só sua — disse entrelaçando sua cintura. — Obrigada pelo anel amarelo, eu abri mão do nosso ser pra poder ser rose igual o seu nome — ela riu.

— Eu amei — enroscou seus braços no meu pescoço.

— Os do nosso casamento serão amarelos.

Falei sem pensar, gelando logo em seguida.

Eu havia sido emocionada.

Havia dito cedo demais.

Quem acaba de pedir em namoro e já fala sobre casamento?

Eu era um desastre.

— Certo — ela disse me puxando de volta para a realidade. — Alianças estilo Rosé para o namoro, e alianças estilo Lisa para o casamento.

Nem perdi tempo para respirar aliviada, apenas a beijei querendo de alguma forma mostrá-la o quão bem ela havia me feito com uma simples frase.

Eu namoro Roseanne Park.

Eu era a mulher mais sortuda do mundo.


Acho que ninguém vai perceber esse paralelo, mas o restaurante e a praia que elas foram é o mesmo que a Lisa de forward pediu a Rosé em casamento... 

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde histórias criam vida. Descubra agora