VI

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Ela tateava a mão pelo bolso de forma esquisita.

Tirava algumas moedas de lá e contava, depois foleava algumas notas em sua carteira também as contando.

Em seguida a vi pegar seu celular e abrir o aplicativo de seu banco.

Era fofo.

Ela achava que iria pagar.

Quando o garçom nos entregou o cardápio, percebi seus olhos arregalarem e ela discretamente pegou seu celular, calculando alguma coisa.

Eu já sabia o que iríamos pedir.

Por isso tomei a frente ao falar com o garçom.

— Nós vamos querer a tábua de frutos do mar por favor — a vi arregalar os olhos ao provavelmente achar o preço no cardápio. Sutilmente levou um copo d'água até a boca e eu completei: — a completa.

Ela engasgou.

O garçom perguntou qual vinho seria e assim que eu escolhi mais um engasgasgo veio dela.

Quando ele foi embora notei sua cara de pânico.

Eu deveria dizer que eu pagaria a conta?

— Você está bem? — perguntei tentando decifra-la.

— Eu? Estou, claro, por que não estaria? — coçou a garganta bebendo mais água. — mas então... É... Por que escolheu esse restaurante? — tentou soar casual, provavelmente pra descontrair.

— Meu pai sempre me levou aqui — expliquei. — É tipo nosso lance.

— Me trouxe num lugar importante pra você e pro seu pai? — arregalei os olhos, corando fortemente logo em seguida.

Desviei o olhar torcendo pra que ela não tivesse visto minha reação.

Eu não tinha parado pra pensar por esse lado.

Será que meu pai ficaria magoado por ter trazido outra pessoa pro nosso lugar?

Roseanne notou que eu havia ficado sem jeito e contornou a situação mudando drasticamente de assunto. Ela era boa nisso.

Ela estava tentando se acalmar e ao mesmo tempo me fazer ficar à vontade.

Eu admirava isso nela.

Digo, era perceptível que ela estava nervosa. Eu percebia isso por seu sorriso.

Estava vacilando.

Com certeza em sua mente a frase "meu cartão não vai passar" ecoava várias vezes.

Mas mesmo assim ela se preocupava mais em conversar e passar tempo comigo.

Como ela conseguia?

Digo, eu ficaria a noite toda me martirizando.

Pensando na pior das hipóteses.

Pensando que tudo ia dar errado.

Provavelmente nem ia conseguir comer direito.

Talvez até passasse mal.

Suasse frio.

Me tremesse...

Mas ela não.

Ela estava... Calma.

Na medida do possível.

Eu acho que deveria perguntar como ela fazia.

Como conseguia vencer a ansiedade.

Seria indelicado?

É

Acho que seria.

— Vou no banheiro, só um instante — ela anunciou, se levantando um pouco rápido demais.

Ela fugiria?

Estávamos aqui há umas horas, acho que podíamos encerrar a noite.

Chamei o garçom e finalmente paguei a conta.

Ele retirou nossos pratos com a sobremesa da mesa e foi embora em silêncio.

Roseanne não havia comido muito.

Será que estava passando bem?

Arrumei minha bolsa e me levantei.

Agora a ansiedade tomava conta de mim.

Será que ela tinha fugido?

Será que ficaria brava por eu ter pagado a conta?

Peguei sua bolsa e seu casaco e fui até a porta do banheiro, por sorte nos esbarramos na metade do caminho.

Ela não tinha fugido.

— Já vamos? — perguntou com um sorriso forçado, ela não estava nada bem.

— Vamos — a chamei para a porta de saída, mas ela foi na direção oposta. — Aonde você vai?

— Pagar a conta — arqueou a sobrancelha como se fosse óbvio e eu apenas ri. Ela caminhou na minha direção encucada e sussurrou para que só eu ouvisse: — Estamos saindo de fininho para não pagar?

Dessa vez não contive minha gargalhada.

Roseanne era... Diferente.

Ao perceber os olhares sobre nós, automaticamente me enrijeci.

Eu odiava pensar que as pessoas estavam me observando.

Meu coração apertava.

Batia mais forte.

O que será que eles estavam pensando de mim?

Uma maluca mal educada.

Definitivamente.

— Acho que seu plano de sair de fininho sem ser percebida foi por água baixo — brincou fazendo meu sorriso voltar a aparecer.

Ela não ligava.

Não ligava para os olhares.

Nem os comentários.

Nem para o que os outros poderiam pensar.

Ela era incrível.

— Quem convida paga, certo? — seu sorriso vacilou, provavelmente se lembrando que ela que havia dado a ideia de sairmos. — Eu escolhi o restaurante, eu que pago a conta — expliquei e a vi respirar aliviado discretamente. — Já está tudo certo. Vamos?

Não sei por quê.

Mas o que ela fez a seguir me deu uma reação estranha.

Ela segurou minha mão.

Senti algo em mim esquentar.

Como se nem precisasse de casaco para andar na neve.

Senti uma sensação esquisita no estômago.

Como se ele tivesse parado de funcionar.

Será que era o que eles diziam nos filmes?

As tais borboletas?

Eu nunca havia sentido isso.

Ela não soltou minha mão até que chegassemos no carro. E eu admito sentir muita falta do contato quando ela o fez.

Nossa

como eu sentia.

Queria entrelaçar nossas mãos para sempre!

Acho que estava sendo exagerada demais.

Mas eu queria.

Queria mesmo.

Será que ela faria de novo?

Eu precisava que fizesse.

Não mais te amo tanto                          📚Chaelisa☕Onde histórias criam vida. Descubra agora