Capítulo VI

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Athenry, Irlanda 1870

  Logo após passar pelo episódio do espartilho foi a vez de Brendon tomar um banho e minha vez de descer até o saguão. Dei algumas voltas, assisti a algumas partidas de jogos de tabuleiro e por fim decidi sair da pousada. A rua estava tomada por pessoas e mais pessoas, fui caminhando por entre as danças e as saias das mulheres que giravam freneticamente conforme dançavam. Até que fui pega de supetão por um grupo de mulheres que me pegaram pelo braço e me envolveram nas danças, aleguei que não sabia dançar (o que era uma mentira se considerarmos que sou uma ótima dançarina). Por fim me levaram a um pub cheio de mulheres, aquilo muito me surpreendeu. Minhas novas "amigas" estavam realmente animadas, acredito que pelo efeito do álcool. Uma delas, a morena de cabelos longos e lisos, me disse:
- Não pode sair de Athenry sem experimentar nossa cerveja, ela é uma iguaria. - disse enquanto me entregava uma caneca transbordando. Muitas coisas se passaram pela minha mente naquele momento. Lembrei-me de minha mãe me dizendo que mulheres não podem se dar a certos prazeres aos quais os homens podiam, e que isso era como uma regra a ser seguida. Foi então que levei a caneca até os lábios e um gosto muito atípico tomou-me por completo. Descobri que se tratava da cerveja preta, tinha um sabor forte e com certeza um alto teor alcoólico. Logo comecei a me sentir zonza porém animada, adrenalina corria pelas minhas veias acelerando meus batimentos cardíacos. Não sei como, mas bebi até a metade, depois disso a morena que me serviu a cerveja disse que estava bom para uma primeira vez, mas que não é recomendado exagerar.

Sai do pub ainda mais zonza, fui em direção a pousada caminhando o mais firmemente que pude. Ao adentrar o local sorri para algumas pessoas educadamente e segui até o quarto. Bati na porta e Brendon a abriu imediatamente. Sem pestanejar entrei no quarto e me joguei na primeira poltrona que vi, ele me encarava com uma expressão divertida e ao mesmo tempo curiosa. Foi então que disse:
- Vamos diga, o que você bebeu? - disse ele cruzando os braços e mantendo uma pode que não dava a opção de não responder.
- Como sabe que bebi algo? - disse enquanto tentava inutilmente fazer meus olhos fofarem na figura alta a minha frente.
- Sou dono de uma taverna, convivo diariamente com todos os níveis do álcool.
- É, faz sentido. Pois bem, experimentei a cerveja preta, mas juro que não foi muito. - disse em minha defesa, mas minha cabeça girava cada vez mais e meu estômago começou a dar voltas.
- Você já bebeu alguma vez antes dessa? -
- Não... - e graças aos céus fui salva por uma batida na porta que muito provavelmente era o nosso jantar. Brendon foi até a porta e a abriu dando a camareira um sorriso simpático. Logo que ela saiu Brendon se virou para mim e disse:
- Ah como gostaria de ver a cena de Annelise Grace Calaham bebendo sua primeira cerveja - disse ele caindo no riso. - Ah perdoe-me foi um tanto indelicado da minha parte, mas então, acho melhor você comer alguma coisa se não quiser passar mal. - ah tarde de mais, assim que me levantei e cheguei até onde Brendon estava meu estômago deu suas últimas voltas e por fim acabei vomitando nos sapatos dele.
- Ah meu Deus, me desculpe! - se antes eu já estava vermelha, agora então parecia um pimentão.
- Por sorte não eram os meus favoritos - disse sorrindo com uma cara de nojo ao olhar para o meu almoço agora nos seus sapatos. - Sério quanto você bebeu?
- Só meia caneca! - meu Deus, minha voz estava ficando cada vez mais arrastada.
- Espere aí, vou trocar esses sapatos ou queimá-los. - realmente voltou com novos sapatos, me levou um suco e um prato com sopa e disse que não estava disposto a perder mais nenhum sapato por isso eu deveria comer e assim me sentiria melhor.
- Desculpa pelos sapatos...prometo que quando chegarmos em Dublin eu lhe comprarei sapatos novos... - não tive muito tempo de me desculpar, minhas pálpebras foram ficando cada vez mais pesadas e meus pensamentos cada mais confusos, a última coisa da qual me lembro é de ir até a cama auxiliada por Brendon e me deitar, de resto não me recordo de nada.

Uma Jornada em Busca da Liberdade por Milena Milão Onde histórias criam vida. Descubra agora