CAPITULO 1- DOR IMENSURAVEL

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Eu abro a porta de meu quarto, que sempre foi grande demais para mim, com aquelas paredes claras a ponto de cegar e vou andando até a cama com lençóis brancos e um grande travesseiro bege prestes a chorar como sempre. Afinal, minha vida estava fadada ao fracasso. Não me sentia eu mesma desde os vinte e três anos, quando fui diagnosticada com uma doença rara que não tinha cura até o momento. isso me machucava por dentro, como uma agulha presa na pele, e quanto mais eu cavava mais ela parecia doer. Debrucei-me na cama e comecei a chorar enquanto imaginava o que seria de mim daqui a meio ano. Estaria toda atrofiada e torta, talvez? Ainda chorando, ajeitei meu longo cabelo castanho escuro que estava atrapalhando minha visão e andei até minha mesa de estudos que estava organizada e sombria como sempre. Livros e mais livros de medicina e até mesmo contos nos quais nunca havia acreditado, porém, em meu atual estado, eles pareciam tão reais.— Talvez você esteja ficando louca. — falei em voz alta olhando para o espelho pendurado na parede.— E bem possível Lea. — Respondi com uma careta macabra.Assustei-me com minha própria voz, ela estava tremida e sem humanidade, totalmente sem esperanças, então eu repeti sussurrando para mim mesma uma centena de vezes, decidida a buscar uma cura, seja ela qual for.— Vamos novamente... Talvez hoje seja o dia.Caros leitores ela não sabia, mas estava prestes a realizar aquilo que desejava e talvez, por isso mesmo, como quem quisesse se convencer a acordar e lutar, bateu em suas bochechas com ambas as mãos e começou a ler novamente os livros de medicina e os de contos de criaturas que curavam pessoas entre outras coisas fora do normal. Entre eles tinha um livro do qual ela não se lembrava de ter lido, com certa curiosidade, suas mãos pálidas foram atraídas a aquele livro com capa de couro marrom. Parecia tão velho, mas mesmo assim conservado. Logo começou a ler as páginas uma atrás da outra, com tamanha vontade, até chegar na página que tratava sobre pactos de humanos com criaturas sobrenaturais, não humanas, por assim dizer. Para ela aquilo parecia um conto de fadas para assustar crianças, mas mesmo assim ela continuou lendo. Entendeu o que precisava ser feito para ''invocar'' tal criatura. Viu que os pactos eram severos e sem chance de serem desfeitos, mas na sua atual situação aquilo pouco importava. Estava disposta a tudo para poder viver ''normalmente'', como todas as pessoas. Com suas mãos tremendo. Seguiu todas as instruções do livro, passo a passo, como uma receita de bolo, primeiro ela cortou sua mão direita com uma faca qualquer que pegou em sua cozinha e começou a falar meio tremidamente e erroneamente as falas que ali estavam —Veni ad me bono pacto, te voco—Ela repetiu aquilo três vezes enquanto pingava sangue no chão de seu quarto onde ela havia desenhado um círculo, e de momento não aconteceu nada.—Como imaginei, apenas uma história boba para assustar crianças—De repente sentiu uma presença atrás de si, perto o suficiente para que sentisse a respiração. Não ousou se mexer ou virar para trás, estava com medo do que veria. —Seu cheiro e muito bom, sabia? O ser desconhecido falou de forma calma e normal enquanto inspirava profundamente.Mesmo com medo, ela se virou para trás e viu uma forma humanóide com grandes asas pretas, chifres um tanto grandes, olhos vermelhos e uma pele pálida .Sua boca tinha presas medianas, cabelo preto e curto. Suas mãos, por incrível que parecesse, lhes eram, de certa forma, normais. Porém tirando essas coisas medonhas e nada normais, algo nele a acalmava, e ela logo o olhou e fechou os punhos enquanto falava:— Se gosta tanto do meu cheiro deveríamos fazer um acordo, não acha?

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