Capitulo 18

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                                     Seis anos

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                                     Seis anos





Faz um mês desde que Saint veio morar aqui e eu não me sinto mais sozinho, pelo menos não fisicamente. Ele ainda não fala comigo e às vezes ele se recusa a brincar e apenas fica me observando de longe, mas ele não olha para mim como os outros. Ele não olha para a fenda nos meus lábios, apenas para os meus olhos e nada mais.

Minha rotina continua sendo a mesma, só que agora com uma pessoa a mais nela. Não que ele fique o tempo todo comigo, na verdade, não sei pra onde ele vai quando tenho as consultas, só sei que ele tem aulas comigo e me deixa feliz.

Camille tem medo dele, sei disso pela a forma como ela o olha e como se retrai toda vez que ele aparece misteriosamente atrás de mim, ou dela. Agora é ela que me procura para eu dormir com ela, e sinto que eu quem estou a protegendo, não ao contrário.

O Natal foi dois dias atrás e mamãe não veio dessa vez, disse que teria uma viagem super importante com papai e não poderia vir para cá, mas que estava aliviada de eu ter um amigo para brincar e passar o tempo. Em compensação ela mandou tantos brinquedos que Camille ligou para uma loja comprar outro baú para guarda-los.

Saint também recebeu presentes dos seus pais, não tanto quanto eu ganhei, mas ele recebeu uma carta de seu pai. Eu não recebi nenhuma do meu.

Depois da minha consulta com o médico do coração – que disse que ter uma companhia iria melhorar os meus dias – eu desci para o quintal onde normalmente eu Saint brincávamos, mas por conta do tempo frio eu sempre tento o arrastar para dentro da casa, Camille também, mas ele parece gostar do tempo frio e da paisagem branca que parece ter sido polvilhada com farinha e açúcar.

Ele estava perto de uma árvore desenhando algo na neve com um graveto.

Me encolhi mais no meu cachecol feito à mão que ganhei de Camille nesse Natal, de todos os presentes que ganhei esse com certeza tinha sido o meu favorito.

Fui até Saint, amassando a neve embaixo dos meus sapatos. Parei ao lado do meu amigo e o observei circular algo no chão. Uma rosa. Era isso o que ele desenhava.

— Por que uma rosa? – perguntei curioso.

Ele não me olhou ou respondeu. Por mais que ele ainda não tenha falado comigo – sei que não é mudo pois já o vi cochichar no telefone com sua mãe – eu ainda tento fazer ele falar ou ter uma conversa comigo. Tem sido um longo mês com isso.

Ele desenhou algo escorrendo da rosa perfeita, a borrando.

— O que é isso?

Nada.

Ele soltou o graveto finalmente, porém continuo olhando seu desenho com seus olhos castanho claros que ficavam cinzas pelo o reflexo da neve em seus olhos.

— Quer ir brincar agora? – tentei de novo e dessa vez ele inclinou a cabeça para mim e assentiu.

Sorri.

Ele podia não falar, mas ainda brincava comigo.

— Que tal brincarmos de pique e pega? – ofereci e recebi outro balançar de cabeça. – Tá com você então.

Dou um leve empurrão em seu ombro e comecei a correr para longe, esperando que ele corresse atrás de mim.

Escutei seus passos atrás de mim e rir ao correr mais. Meu médico dizia que era bom me exercitar e brincar o máximo que eu podia, mas ele não alertava sobre a queimação em meu pulmão que sentia sempre que passava muito tempo me movimentando.

Passei da caixa de areia que estava coberta de neve e olhei para trás vendo que Saint tinha parado de repente. Franzi o cenho mas continuei correndo até que senti algo bater na minha cabeça tão forte que caí no chão e foi como se tudo tivesse apagado ao meu redor.

[...]

Pisquei os meus olhos algumas vezes vendo a neve e um pouco a cima a mansão. O frio na minha bochecha incomodava e ardia e todo meu corpo estava congelado e imobilizado. Uma dor aguda aparece na ponta da minha cabeça e eu gemi um pouco antes de me virar meu rosto para cima esperando olhar para o céu cinza, mas o que eu achei foi Saint segurando uma pedra nas mãos.

Me assustei e me impulsionei para trás.

Ele me encarava com a pedra em sua mão como tinha me encarando um monte de outras vezes antes, mas agora parecia diferente. Eu via algo que não tinha visto antes, talvez a coisa que fazia Camille se arrepiar na presença dele.

Eu me arrepiei agora.

Ele não se moveu um músculo, nem me ajudou a levantar só ficou parado enquanto algo quente corria na minha testa. Agora olhando para frente eu vi o balanço que insisti tanto para ter, devo ter batido nele quando corria sem olhar para onde eu ia.

— Oh mon Dieu! – me virei na direção do grito, onde Camille estava parada na porta dos fundos com dois mantos nas mãos. – Qu'est-il arrivé?

Me voltei para Saint e vi que a pedra tinha sumido das suas mãos assim como o olhar de antes que agora estava concentrado em Camille agora.

Algo vermelho entra no meu campo de visão então percebo que estou sangrando, as gotas vermelhas caindo e manchando o branco puro da neve com uma parte de mim. Saint também percebeu e encarou a o meu sangue na neve por alguns segundos antes de seu rosto se contorcer em algo que eu não reconheci de imediato, só quando Camille me pegou nos braços e começou a correr comigo para dentro que vi.

Um sorriso.

Ele estava sorrindo para o meu sangue.

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