Capitulo 24

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                               Nove anos

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                               Nove anos

Alguns dias atrás fiz nove anos de idade.

Não teve festa. Nem amigos. Nem bolo.

Apenas muitos presentes.

Presentes repetidos, que a cada dia que passa perdem mais a graça pra mim.

Minha mãe não conseguiu vir me ver, me mandou um cartão junto com os presentes dizendo que ela precisava ajudar o papai no trabalho. Eu guardei o cartão na caixa de cartões, que esta a cada dia colecionando mais cartões com "Me desculpa" no início do que presentes.

Camille passou o meu aniversário todo comigo, comecei a perceber que ela tenta ao máximo estar sempre ao meu lado, sei que é pena porque a minha mãe esta sempre longe, mas eu gosto da companhia dela.

Já a perguntei se ela não tem um filho pra cuidar, já que esta sempre aqui comigo. Ela disse que não, que o tempo não facilitou pra ela ter filhos e que ela ama cuidar de mim de qualquer jeito.

Hoje eu tenho a minha consulta semanal com o meu psicológico, que os primeiros minutos são sempre as mesmas perguntas repetitivas e o resto puro silêncio enquanto ele anota algo em sua prancheta. Às vezes parece que ele só não sabe o que conversar comigo, já que me trata há anos e eu sempre respondo as mesmas coisas.

Estou nesse momento que sua calvície está maior, e ele fez a barba recentemente. E pelos movimentos de seu braço provavelmente esta desenhando alguma cisa enquanto espera a meia hora de consulta acabar.

Do lado de fora uma grande tempestade cai. Eu tinha medo de tempestades antes, até perceber que é bom não ter o silêncio de sempre nessa casa. Um grande raio cai lá fora o que faz o psicólogo finalmente olhar pra mim, talvez esperando uma reação de medo que ia desencadear em uma conversa. Mas eu só fiquei parado.

Ele tira os óculos do rosto e esfrega os olhos com a ponta dos dedos, parecendo cansado.

— Acho que devemos terminar a sessão mais cedo hoje por conta do...

Eu já tinha levantado e já estava andando para fora daquela sala.

Sei que foi uma atitude grosseira e que Camille me repreenderia, mas ela está de folga hoje e eu estou me sentindo mais entediado e sozinho do que os outros dias. As vezes até sinto falta de Saint.

Começo a descer pelas escadas para ir pro porão jogar algum vídeo game até a hora do almoço, e é quando uma porta lateral se abre e um vente fria e forte vem até mim, quase congelando o meu sangue. Respingos de chuva vinham para o meu rosto mesmo estando um pouco longe da porta.

É quando um menino entra na casa.

Ele está encharcado. Seus cabelos escuros e lisos escorrem pelo seu rosto. Sua pele é marrom e está manchada de lama, assim como seus pés descalços. Parece ter a minha idade e a de Saint.

Ele para na frente da porta que esta sendo mantida aberta pelo o vento forte que vem de fora. Ele me olha no topo da escada e instantaneamente um sorriso abre em seu rosto.

— Quer brincar?

Fico congelado onde estou, sem responder.

Quem era ele?

O menino não espera a minha resposta e volta para a o lado de fora onde a chuva está.

Desço os degraus lentamente, cada vez mais tendo uma visão do lado de fora, onde o menino corre em círculos batendo o pé em poças de lama. Parece divertido.

Todo mundo sempre me diz que o meu corpo é frágil e que não posso correr o risco de adoecer, então por que esse menino pode?

Eu quero sorrir igual ele esta sorrindo.

Eu quero ir pra chuva.

Então eu vou.

Assim que eu pisei pra fora parecia que pequena facas entravam na minha pele, e logo o meu casaco de camurça estava ensopado e pareia não ter mais volta, o menino notou a minha presença de longe e com uma velocidade incrível veio até mim pegar a minha mão e começar a me arrastar para o meio do jardim, onde tinha mais poças para brincar.

Ele pulou em cima de uma e espalhou lama para todo lado, inclusive pro meu rosto. Ele começou a rir alto apontando para mim, e um sorriso se abriu em mim e eu imitei ele, pulando em cima da lama e jogando para todo lado, e um pouco em seu rosto, o que fez uma gargalhada sair de mim, nós dois estávamos rindo e toda hora pulando. E eu nem podia acreditar que era tão divertido brincar na chuva.

— Eu amo água! – o menino gritou olhando para cima e rodando.

Copiei o mesmo que ele estava fazendo, sentindo a agua em mim e me perguntei se é isso que crianças normais fazem.

Se elas são sempre tão felizes assim.

Lords of Hell - Underwater Onde histórias criam vida. Descubra agora