Capítulo 2

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Eu esperei.

Não derramei uma lágrima depois que saí da minha antiga casa, com as malas e tudo.

Esperei a hora de ir pro restaurante, até que o maitrê me ligou e eu cancelei a reserva; mas ainda assim, eu esperei.

Esperei quando fui pro aeroporto.

Quando minha família me viu cabisbaixo, triste, quieto e sem Natasha, não tive mais como esconder: não sabia se ela viria.

Mas ainda assim, eu esperava.

Eu esperei até chegar no avião. Mas quando a aeromoça disse que estávamos com destino pra Minas Gerais, no Brasil e recomendava que nós colocássemos o cinto, eu soube que ela não viria.

Não me permiti chorar. Não ali. Não naquele momento.

Chorei quando estava sozinho. Quando vi o apartamento mobiliado, pra duas pessoas, mas só tinha uma.

Meu choro não durou só naquele dia. Minha primeira semana, meu primeiro mês, durante todo o meu tempo de adaptação, eu chorei. Eu odiava estar sozinho. E odiava ser colocado em segundo plano por quem me amava.

O trabalho constante e pesado e a rotina exaustiva de gerenciar e coordenar pessoas, aprender a língua e me adaptar a um país diferente me distraia a maior parte do tempo, mas me provocava diversas alterações de humor e constante exclusão.

O problema não era o trabalho, quem estava lá comigo - porque todos, desde sempre, foram muito receptivos comigo -, não era a língua, não era o clima, não era o Brasil.

As minhas feridas abertas eram o problema e tudo o que eu carregava com elas.

Depois de cinco meses, eu decidi que precisava de ajuda profissional. Eu não podia lidar com minhas crises sozinho, a mercê de mim mesmo.

Por isso, procurei um psicólogo. Fui numa clínica na região sul da capital, onde eu trabalho, e marquei uma consulta. Ironicamente, o que eu tinha escolhido se chamava Steve. Achei estranho, não era um nome comum daqui, mas assim como eu, ele era de fora.

As semelhanças entre nós dois acabavam aí. Ele era casado, quatro filhos, calmo, centrado.

Eu, solteiro, nenhum filho, zero estabilidade emocional e lidava com um furacão interior todos os dias.

Mas ele me ajudava.

Primeiro com remédios pra dormir, depois pra indicar diversas atividades, que me ajudavam a aquietar minha mente e ensina-la, de novo, a dormir por conta própria.

Foi por causa da indicação dele que adotei um cachorro. Um vira lata caramelo, dócil, porte médio e que se sentia o dono da casa. Dei a ele o nome de Scooby.

Scooby me mantinha estável, na maior parte do tempo. Junto dele e do meu psicólogo, eu fui melhorando.

Minha família me visitava, às vezes, e me ajudavam bastante também, na medida do possível. A distância era grande e meu padrasto não era muito fã de aviões, então ele e minha mãe não vinham junto.

Os maiores frequentadores da minha casa acabavam sendo minha irmã, meus sobrinhos e meu cunhado.

Foi numa dessas vezes que eles vieram, seis meses depois que eu tinha me mudado, Wanda me aconselhou a bloquear tudo o que me lembrava de Natasha. Redes sociais, número, ainda que não fosse mais o mesmo, por causa do DDD. Até às minhas fotos ela me obrigou a mandar pro email dela. Segundo ela, era o meu processo de desintoxicação.

De todos que sabiam, Wanda era a única que se mostrava totalmente do meu lado, desde a parte de vir pro Brasil até o fato de Natasha não estar comigo.

You're Losing MeOnde histórias criam vida. Descubra agora