Capítulo 9

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Eu não poderia dizer que dormi. Eu e Natasha nos empenhamos direito em matar a saudade um do outro. Não teve muita conversa, no entanto. Apesar de ela ter dito que me amava — ontem, no bar e depois enquanto transávamos —, eu não disse o mesmo. Não é que eu não retribuía o sentimento, mas estava esperando um momento especial pra dizer, não quando estávamos movidos pelos nossos desejos carnais de sentir o corpo um do outro.

Levantei cedo, enquanto ela ainda dormia. Deixei um beijo nos cabelos ruivos dela e ajeitei o cobertor para cobrir seu corpo desnudo, com todo cuidado para que ela não acordasse.

— Vem, Scooby. Vamos fazer o café. — ele me seguiu, acordando ainda. 

Deixei pra tomar banho depois, com medo de acordá-la, então iria fazer comida pra nós dois. Era um pouco estranho, confesso. Apesar disso, aos poucos, enquanto ia e vinha na cozinha, me lembrava como era a medida que usava pra dois, nos Estados Unidos, e não a medida pra um que aprendi no Brasil.

Abri a porta para que Scooby fizesse as necessidades dele, deixando um vento frio entrar. Coloquei o forno pra pré aquecer e assim que meu filhote não tão filhote assim entrou, fechei a porta, preparando a vasilha dele de ração.

— Está feliz com quem passou a noite aqui, garoto? Eu sei que não é a Cosmo, mas Natasha é pra mim o que Cosmo é pra você. — ele parou de comer e me olhou — Segredo meu e seu. — ri enquanto passava o café, olhava meus "bolinhos" no forno e me concentrava no que iria fazer em seguida — Ovos mexidos com bacon. O que acha? 

Quando olhei pra ele, Scooby não estava mais comendo. Muito pelo contrário, sua vasilha estava vazia e ele já tinha ido caçar o que fazer. Provavelmente, pegar seu osso de brinquedo pra morder enquanto esperava o segundo round do seu desjejum.

— Cachorro doido. — ri e abri a geladeira, tirando de lá tudo o que precisava e comecei a cozinhar, distraído. Até perceber, depois de muito tempo, que eu não estava sozinho. — Me espionando, Romanoff? — perguntei, olhando-a por cima do ombro. Eu não a tinha escutado chegar. Muito menos percebi que ela estava ali. Só tinha visto que estava porque vi uma sombra encostada no batente da cozinha.

— O que eu posso fazer se você é uma vista e tanto para se observar. — Natasha se aproximou, me abraçando por trás, enquanto apoiava o queixo nas minhas costas. Vestida com a mesma blusa que eu usei ontem, que provavelmente deixei jogada em algum lugar, como sempre faço, e que ficava linda nela. Obviamente, ela fica ainda mais linda sem a blusa.

— Não quero atrapalhar sua visão, por favor, continue olhando. — entrei na sua brincadeira, rindo pouco, acariciando sua mão enquanto mexia na panela com a outra — Dormiu bem? O pouco que conseguiu, é claro.

— Eu não durmo bem assim a muito tempo — era pra ter sido uma provocação simples, porque Deus e os vizinhos sabem que não dormimos, mas eu sei que o nosso passado nos rodaria por muito tempo ainda. Não é porque estamos bem e juntos que tudo automaticamente fica bem, é um processo e nosso seria lento, mas superado junto. — O que está fazendo?

— No forno tem umas bolinhas que eles chamam de pão de queijo e na panela o clássico ovos com bacon, pra você se sentir em casa estando em outro país. — respondi, deixando de lado o assunto da noite mal dormida. 

— Eu com certeza amo você. — ela riu e me soltou, se sentando no chão pra dar bom dia ao Scooby, que foi abanando o rabo. 

Não queria soar melancólico, mas essa é uma cena que eu sempre imaginei. Nós três assim, juntinhos, felizes. Cheios de coisas pra resolver, precisando ainda de muita sessão de terapia, mas nossos problemas estavam fora de casa; ali dentro era Natasha, eu e Scooby no nosso mundinho. 

You're Losing MeOnde histórias criam vida. Descubra agora