Destravei o carro com a chave, de longe. Era a última vez que andaria por aquele estacionamento, que estaria trabalhando aqui, na Barnes and Noble, com sede em Nova York.
Em setembro do ano passado, a presidente da empresa decidiu abrir uma nova filial. Todo mundo pensou que seria nos Estados Unidos, talvez na Califórnia ou Flórida, por serem no mesmo país, só que do outro lado de onde fica a sede.
A surpresa foi consideravelmente grande quando descobrimos que a filial seria no Brasil.
A seleção começou a todo vapor. Nos foi dito que escolheriam três, no máximo, para irem até lá e começarem a movimentar a produção lá. Se tudo ocorresse como planejado, os três seriam escolhidos em novembro e teriam até julho do outro ano para se preparem. No final, só um foi escolhido.
Eu me inscrevi só por fazer mesmo. Não esperava ser um dos escolhidos.
Ironicamente, eu fui. E hoje foi meu último dia não só na empresa, mas na América do Norte.
Brasil, aqui vou eu!
Enquanto entrava no carro e ligava o rádio, comecei a pensar nas conexões que tenho com o maior país da América Latina. Cheguei a conclusão que é nenhuma.
Ninguém que eu conheço mora lá. Ninguém que eu conheço já foi pra lá. Não tinha nenhuma familiaridade com a língua e nem com a cultura, até nove meses atrás. Nem o estado que eu iria eu tinha noção de como é, porque me falaram que eles poderiam pintar uma imagem pra mim que poderia ser totalmente diferente de como realmente é.
Mas, eu estava animado. Quer dizer, ainda estou.
O salário vai ser maior do que o que eu ganho aqui, mas em compensação, o trabalho também. É um país estranho, de língua estranha, de clima totalmente diferente do meu, mas eu estou animado.
Eu poderia estar triste ou um pouco inseguro por não conhecer ninguém lá, mas eu não estava.
Eu não tinha motivos pra estar, afinal, minha noiva vai comigo. E se ela está comigo, eu não preciso de mais nada.
Deixaríamos muita coisa pra trás, mas o importante é ficarmos juntos e não como ficamos, certo?
E existem aviões, então não é como se nunca mais fôssemos ver nossas famílias e amigos daqui.
Saí do carro assobiando uma música qualquer e acionei o alarme. Meu caminho tinha sido longo, mas a minha felicidade e ansiedade fez parecer ser curto.
No nosso último dia aqui, eu vou levar a minha noiva - eu adoro dizer isso -, pra almoçar no nosso restaurante preferido. Do outro lado da cidade, teríamos que sair mais cedo, mas não me importava. Eu tinha uma reserva, e tinha pedido ao gerente pra fazer tudo ser especial. Não iria pedi-la em casamento, até porque fiz isso um ano atrás, mas queria que fosse mais uma memória especial naquele lugar que é especial pra nós.
Subi de elevador até o terceiro andar, onde moramos. Eu estou tão feliz! Hoje está sendo um dia tão bom que poderia vivê-lo diversas vezes.
Abri a porta com um sorriso no rosto, parando finalmente de assobiar músicas aleatórias. Joguei a chave de qualquer jeito no sofá assim que entrei. Eu poderia procurá-la depois.
- Nat? Cheguei! Você não vai acreditar, eles fizeram uma festa surpresa pra mim, de despedida. - tirei a blusa, dando pra ela o mesmo destino das chaves, mas não me importava. Comecei a andar até o quarto enquanto pensava se tiraria primeiro os tênis ou a calça - Até o ridículo do Anthony comemorou, só não sei se ele estava feliz porque vou sair ou porque goste de mim, mas acho que é... O que está fazendo?
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You're Losing Me
Cerita PendekSteve Rogers já tomou muitos baques da vida, mas ele nunca esperou adicionar o da noiva a conta. Ex noiva, aliás. Por causa da proposta de emprego, Steve vai para o Brasil, onde tenta recomeçar sua vida sem as sombras do passado que o perseguiam dia...