Capítulo 6

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Nem Scooby estava perto de mim.

Eu ficava insuportável quando estava triste. Além de querer ficar sozinho.

Ele estava na porta, olhando. Às vezes entrava no quarto, dava uma ronda, subia na cama, percebia que eu estava vivo e saia. Mas depois voltava de novo. Essa era a minha breve análise de como Scooby interpretava meu momento de sofrimento.

Eu planejava ficar daquele jeito até a noite. Teria dado certo, se não fosse meu psicólogo e seu incrível senso de saber quando me ligar.

Quer me contar o que aconteceu?

Ele devia ter um sexto sentido que devia ter aperfeiçoado na faculdade. Diversas vezes, ele sabia que eu estava mal; não precisava dizer. Ele sabia.

— Você não veio na consulta hoje. Foi quando tive certeza que alguma coisa tinha acontecido.

Ele completou quando fiquei calado. Apesar disso, ainda acreditava que ele tinha um ótimo radar pra saber quando eu não estava bem.

— Eu não lembrei que tinha. Droga. — passei a mão pelos olhos, me reprimindo por ter faltado; eu odiava não ir na terapia.

— Você nunca esquece, Steve. Isso só me leva a acreditar que você estava se divertindo e esqueceu de vir, o que acontece quando sua irmã está no Brasil ou que você tomou seus antidepressivos e remédios pra dormir ontem a noite que te deixaram desnorteado. Qual das duas é?

— Minha irmã não está aqui. Tomei meus remédios noite passada, mas achei que o efeito tivesse passado.

— Pode ter passado a maior parte, mas não tudo. — ele suspirou, do outro lado da linha — Já passamos da fase de perguntar se você quer me contar o que aconteceu e não precisa dizer que vai me atrapalhar porque minha esposa acabou de sair com os meninos pra casa da irmã.

— Na verdade, eu preciso mesmo conversar que não me importaria se sua esposa ouvisse. — ri sem graça e ele ficou calado, ouvindo.

Então eu contei. Disse que Natasha estava aqui, sendo minha vizinha. Contei que tive crise, de novo. Que tudo o que tinha acontecido entre a gente ainda me perturbava. Que ela queria me reconquistar. Só não chorei porque tinha esgotado todo o meu estoque, mas isso não serviu pra anular a vontade que eu fiquei.

— Steve, lembra que eu disse que um dia você teria que enfrentar seu passado?

— Você dizia que ela viria? Que eu a veria de novo?

— Não. Eu não tenho como prever o futuro apesar de você achar que mexo com esse tipo de coisa. — ele riu de leve — Eu digo que um dia você teria que enfrentá-lo cara a cara. Eu tive, você sabe. O seu vai ser com a sua ex literalmente na sua frente, igual foi comigo e chegou a hora de você decidir como vai agir. Você ainda a ama, não é?

— Pra caramba. Mas dói.

— Você superaria seu passado pra ficar com ela?

— Eu não sei, ela me magoou muito.

— Steve, não pensa só no que ela fez. Estou falando de tudo o que você passou. Você abriria mão de tentar entender o porquê de algumas coisas terem acontecido com você pra ama-la de novo e se deixar ser amado por ela?

— Ela foi o amor da minha vida. — confessei. Sabia que precisava falar isso pra alguém, expôr meus sentimentos, de verdade, como nunca tinha feito.

— Mas ela vai continuar sendo? ele ficou em silêncio do outro lado da linha e eu também. Não sabia o que dizer. — Você não precisa falar nada agora e nem decidir se ela vai continuar tendo essa posição no seu coração. Mas, sabe do que você precisa? Conversar com ela. Vocês dois, na verdade. Você me fala muito dela, de que ela é uma mulher dependente apenas dela mesma, que é como uma rocha, decidida, forte, inteligente. Isso tudo foi você quem me disse, Steve. Então, pensa comigo: por que uma mulher tão decidida como a Natasha, tão imponete como ela é, viria até o Brasil, ficar longe da família, dos amigos, da vida que ela conhecia, pra esfregar na sua cara que ela superou, quando te diz que o propósito dela aqui é te conquistar? 

You're Losing MeOnde histórias criam vida. Descubra agora