Capítulo 4

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Resolvi deixar minha sala daquele jeito mesmo. Eu não queria que alguém arrumasse — mesmo ok sabendo que alguém iria —, mas também não queria fazer aquilo agora.

Eu precisava ir pra casa.

Mariana deu um pulo na cadeira quando me viu saindo da sala às pressas e logo veio em minha direção, mas pra evitar perguntas, eu já soltei pra ela:

— Não estou me sentindo muito bem. Vou pra casa. Se quiser ir pra casa também, pode ir.

Peguei o elevador e desci.

Fiz o caminho no automático. Depois de um tempo, acabei encontrando os atalhos de BH, o que facilitou na hora de escapar do trânsito e de chegar tarde em casa ou no trabalho.

Assim que cheguei, Scooby me recebeu e eu comecei a chorar. Ele ficou quietinho, do meu lado, às vezes me lambia, às vezes só me observava, mas o importante é que ele tinha ficado. Eu estava moído.

Depois de ficar com o rosto vermelho de tanto chorar, fui pra cozinha comer alguma coisa e depois tomei os remédios que eu já não tomava desde a minha última crise, três meses atrás. Quando eu achei que finalmente estava começando a pegar o jeito.

Natasha continuava linda; eu, ao contrário, parecia mais como um artigo fora de moda.

Ela ainda disse que me amava e que sentia minha falta. Mas como eu poderia acreditar nisso? Eu fui embora e ela não foi atrás.

Ela tinha qualquer acesso a mim, mas não fez nenhum contato. E as chances dela ter feito depois de ter estado bloqueada eram mínimas.

Estava claro pra mim que eu quebraria a cara. De novo.

— Sabe Scooby, eu não poderia te dar um nome melhor que esse. Eu sou o seu Salsicha, sabia? Vivo dopado, converso com você, te tenho de melhor amigo... E também não tenho nenhum amor. Em alguns episódios o Salsicha até tem, mas não é nada duradouro, você sabe. Até nosso sobrenome é igual. Rogers. — falei resmungando — Mas pelo menos eu tenho você, não é? — fiz um carinho em sua cabeça, que latiu pra mim — Quando a ciência descobrir como fazer implante de olhos, eu levarei você. Apesar que já te acho perfeito assim, desse jeitinho.

Scooby não tinha um dos olhos. Não sei como ele perdeu, mas sei que eu o amo muito mesmo assim. Ele tem um pouco de dificuldade de andar em lugares novos, então sempre quando estamos andando, eu opto por andar do lado esquerdo, pra que ele veja a rua movimentada.

— Ah, Scooby... Eu não tô bem não. Amanhã eu te levo pra passear, hoje não. Aí você encontra a Cosmo e vocês vão ver as estrelas... — Scooby gemeu, mas eu não soube se era por eu ter falado o nome da cachorra vizinha ou se era por eu estar começando a não falar nada com nada — Estou começando a ficar sonolento, Scooby. Vamos pra cama, vamos.

Levantei do chão e ele me seguiu. Cambaleando, cheguei até a cama e me joguei nela, sentindo o peso do meu cachorro do me lado.

— Scooby... Eu amo você. E eu amo a Natasha também. Resolve isso pra mim, por favor...

Droga de despertador. Por que eu usava essa coisa?

— Scooby Doo, meu filho... Desliga isso aí.

Ele latiu em resposta. Mas o despertador continuava tocando.

— Era só desligar o desperta... — peguei o celular. Não era o despertador. Era Wanda. — Oh, diabo.

Scooby latiu de novo, parecendo feliz.

— Alô?

Steve? Caramba, você está dopado?

Não sei, você está? — ela soltou um monte de palavrões do outro lado do telefone — Ei, olha a língua. Vou contar pro seu pai que você anda tendo esse tipo de linguajar. — gargalhei — Aí, minha cabeça.

You're Losing MeOnde histórias criam vida. Descubra agora