Capítulo 5

153 20 271
                                    

VARGRIK


Vargrik se movia como um espectro, o breu da floresta seu manto, a selvageria do mundo sua companheira constante. O eco do seu coração martelava em sintonia com a pulsante vida sombria do submundo da floresta, enquanto seu hálito se misturava com o sopro frio e cortante do vento.

A alvorada estava apenas no início, e a escuridão lutava para se agarrar a cada canto. O orvalho ainda pendia das folhas como lágrimas de sangue fresco, e o sol, reticente, apenas começava a despertar do seu sono profundo. Em sua forma de dente-de-sabre, ele era um monstro saído de um pesadelo antigo, uma entidade sombria nascida do sangue amaldiçoado de suas veias, permitindo-lhe assumir uma forma bestial.

Seus passos eram pesados, ressoando com um ritmo constante e ameaçador no chão coberto de musgo. A presa que procurava, o Morack, era um monstro em si, uma criatura tão colossal que sua pele era mais dura que a casca das árvores esquecidas que marcavam seu território.

Vargrik estudou essa besta por dias sem fim, observando cada movimento, aprendendo cada peculiaridade. A caça não era um ato de sobrevivência, mas um rito de passagem sangrento. A conexão entre caçador e presa era sagrada, uma dança mortal, um jogo brutal de poder e controle, uma disputa que se desenrolava sob a abóbada sem fim do céu.

O Morack era uma força inegável, um leviatã que personificava a força bruta da natureza. Seus olhos eram dois faróis de um entendimento selvagem, e suas presas afiadas eram como lanças de marfim mortíferas. Ele sabia que para abatê-lo, seria necessário mobilizar todos os seus instintos predatórios, toda a ferocidade que fluía em suas veias.

O rugido de Vargrik rasgou o silêncio matinal, ecoando entre as antigas árvores como um anúncio de morte iminente. O Morack, em sua lenta compreensão, mal teve tempo para reagir. E as garras dele encontraram sua pele dura, cada golpe enviando ondas de dor que ressoavam no corpo colossal do Morack. Em um último esforço desesperado, a fera balançou a cabeça maciça na direção de Vargrik, tentando se desvencilhar do predador. Mas a morte já estava à espreita.

Com um golpe certeiro e brutal, a fera bestial derrubou o titã. A batalha havia sido árdua, mas curta. A adrenalina ainda pulsava em suas veias, o eco da vitória preenchendo cada fibra de seu ser.

A selvageria dentro dele ainda rugia, insaciável, uma fera voraz clamando por mais. A adrenalina era intoxicante, fazendo com que a besta interna de Vargrik clamasse por outra caça, outra vida para ser silenciada sob suas garras e dentes. A necessidade primal de sentir a vida se esvair de outra presa se agitava dentro dele, alimentando a chama ardente da selvageria que nunca se extinguia.

Ele era o alfa da tribo Bjornskapt, gerado sob a influência da lua prateada da Grande Caçada Selvagem. Era a manifestação viva da essência do seu mundo ancestral - a sublime simbiose entre a forma bípede e a besta feroz que residia dentro dele.

Ofegante, o alfa se desfez de sua forma bestial, voltando a ser o homem de duas pernas. O ar gélido acariciou sua pele nua, provocando calafrios que percorreram sua espinha. Seus músculos clamavam em protesto após o esforço descomunal, mas o desconforto era um troféu de sua vitória. Ele passou a mão pela carapaça áspera do Morack, pensando no banquete que a carne da fera proporcionaria ao seu povo.

Ele sabia que seus guerreiros estavam em suas próprias caçadas e esperava ardentemente que Tharak, o infame maldito, tivesse o bom senso de abater uma presa digna. Esse moleque insuportável, havia se tornado uma verdadeira pedra em seu sapato. O jovem parecia mais interessado em satisfazer seus desejos carnais do que assumir suas responsabilidades tribais, jogando um fardo adicional sobre os ombros já sobrecarregados de Vargrik.

ENTRE AS ESTRELASOnde histórias criam vida. Descubra agora