Capítulo 4

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As estrelas, intocadas e esplendorosas, cintilam em sarcasmo na vastidão do espaço sideral. Elas parecem flutuar e zombar enquanto são deixadas para trás em um rastro de luz pelo nosso vôo de velocidade insana. Estamos sendo arremessadas em um balé selvático pelo cosmos desconhecido, graças ao mapa interstelar que selecionei, um salto arriscado que está nos lançando além dos domínios estabelecidos.

Meus olhos se contraem, como se tentassem se blindar da vastidão incomensurável do espaço, do caos estelar que estamos cruzando. O medo de falhar, de não ter sido ágil ou perspicaz o suficiente para nos libertar, é subjugado pela adrenalina fervilhante da fuga, pelo fio de esperança de que conseguimos nos arrancar das garras daqueles monstros.

Ainda com os olhos apertados, minhas mãos tremem nos controles da nave, um pensamento atravessa meu cérebro cansado - nós conseguimos. Escapamos. Minha visão se turva ligeiramente novamente, a gravidade de tudo o que acabamos de passar caindo sobre mim como uma onda. Olho de esguelha para Maezie, que envolve as meninas em seus braços, que estão chorando silenciosamente enquanto me olham com uma mistura de terror e admiração.

A simples visão delas parece atingir meu coração, como uma flecha envenenada. A vontade de abraçá-las, de implorar seu perdão, consome cada fibra do meu ser. Ieda... a doce e pequena Ieda... Foi brutalmente morta no dia em que fui capturada... Será que a culpa de sua morte também recai sobre meus ombros? Assim como a de Mixa? Será que elas abrigam por mim o mesmo ódio que eu sinto por mim mesma?

Tento focar minha atenção no painel de controle à minha frente, com seu enxame de botões iluminados e símbolos desconhecidos, mas é inútil. As luzes do painel ficam embaçadas mais uma vez pelas minhas lágrimas não derramadas. Tento regular minha respiração, mas a tarefa parece cada vez mais impossível. E se eles nos capturassem novamente? E se eles torturassem cada uma delas... como fizeram comigo?

Eu insisto em manter a respiração sob controle, há muitas coisas que ainda precisam ser feitas. Não era hora de quebrar.

Assim que acesso o painel de controle, tento extrair o máximo de informações sobre a nave de fuga. Preciso encontrar algo, qualquer coisa, que possa ser útil. Eles poderiam estar nos seguindo agora mesmo. Minhas mãos começam a tremer só de pensar no que eles poderiam fazer com elas. Mazikeen e as meninas seriam um troféu para os reptilianos, eles desmontariam cada parte delas, cada pedacinho... Por todos os céus... As meninas não sobreviveriam.

Foco, Sunny!

Com sucesso, consigo o acesso a alguns dados vitais da nave: permissão concedida ao HC1, Ala 3, painel 47. Uma rápida verificação no painel me confirma o que eu temia - a nave tem três tipos diferentes de rastreadores. Sinto um suor frio se formando em minha testa, o nervosismo palpável em cada batimento do meu coração. Consigo sentir as lâminas entrando novamente em minha pele... Não, não, não pense nisso...

Preciso focar: os rastreadores! Os outros dois estão localizados na Ala 2, painéis 27 e 29.

Com um impulso, me levanto, ainda cambaleando. Preciso desligar esses malditos rastreadores! Se continuarem transmitindo o nosso sinal para aquela maldita nave de pesquisa, estamos ferradas. Começo a trilhar meu caminho para a Ala 2, quando percebo Mei parada em frente a uma porta. Ela está lá, imóvel, com seus olhos cinzentos assustados fixos em mim. Mal percebi que ela havia se desvencilhado de Maezie. Lá estava ela, com seus chifres dourados delicados refletindo a luz difusa da nave de fuga. A última vez que vi as gêmeas, elas tinham apenas 6 anos de idade e agora aparentavam ter uns 8 ou 9 anos.

— Halu ani Sunny... (Sunny do meu sangue) — ela murmura, emoção palpável em sua voz. Ela tenta se aproximar de mim, os braços abertos, prontos para me envolver num abraço. 

ENTRE AS ESTRELASOnde histórias criam vida. Descubra agora