ENTRE AS ESTRELAS

Capítulo 16

— VOCÊ FEZ O QUÊ?

Maezikeen me lança um olhar de incredulidade, caminhando de um lado para o outro após eu relatar nossa odisséia até ali, omitindo deliberadamente a parte sobre "Lehuna" e o pacto com Vargrik. Sabia que ela não veria isso com bons olhos, mas, afinal, ele se mostrou um aliado inesperado e muito bem-vindo, protegendo-me sem hesitar e comprometendo-se a procurar por elas.

Claro, havia a questão dele querer se provar para mim, mas isso não diminuía seu gesto.

— Sunny, você realmente confiou Mei à mercê dessas criaturas dentuças? — Falou em Soffariano, marcada por um tom de ceticismo. Enquanto me lançava um olhar repleto de censura, esfregando vigorosamente os cabelos negros com o Torotoro, a espuma peculiar das sementes nativas misturando-se com a água gélida. A expressão em seu rosto não apenas transmitia surpresa, mas também uma preocupação profunda definindo os vincos entre as suas sobrancelhas.

— Caede prometeu cuidar dela até nosso retorno. Ele também deixou claro que ela estaria segura até voltarmos, e, sinceramente, acredito nele.

— Acredita? E se esses lunáticos mudarem de ideia e decidirem arruinar nossas vidas na próxima mudança de humor que aparecer? Eles podem facilmente usar Mei como peão para alcançarem o que querem. E, até agora, nem a sombra da Feifei nos foi mostrada.

— Vargrik está resolvendo essa questão com Brianna nesse exato momento — retorqui, tentando manter a calma.

— Está "resolvendo", né? Deus sabe o que realmente estão tramando... E que história é essa de 'Ela é minha'? Hein? Por que diabos você estava impregnada com o odor daquele loiro? Ele por acaso te forçou a algo? — A expressão de Maezie se endureceu, todas as sementes de Torotoro sendo esmagadas em suas mãos quando um turbilhão de teorias conspiratórias formava-se em sua mente.

— NÃO... Ele não me forçou a nada. Houve um leve interesse da parte dele, só isso... Mas juro que não fizemos nada do que você está pensando. — apressei-me em esclarecer, buscando aplacar seus pensamentos antes que ela pudesse julgá-lo de forma errada. Sabia que não poderia mentir pra ela, senão, seus instintos demoníacos entrariam em alerta máximo e a bomba seria lançada em todas as direções.

— Um leve interesse? O que vi lá fora não me pareceu nada leve. Ele praticamente proclamava aos quatro ventos que você era dele, e não num tom de 'que legal, uma alienígena fofinha que aterrissou em nosso mundo, vamos fazer amizade com ela'. Você sabe muito bem o peso disso. Se ele te obrigou a algo, fale agora. Estou pronta para fazer aquele desgraçado flor de palmiqueira pag...

— Está tudo bem — interrompi, cortando-a antes que ela desatasse a tecer maldições tão poderosas que afetariam até as futuras linhagens do pobre alfa. A língua de Mazikeen era notoriamente cortante, e não me chocaria no mínimo se ela fosse capaz de conjurar todos os insultos conhecidos, organizando-os em uma lista tão extensa que poderia muito bem esticar-se até a lua - e ultrapassá-la. — Ele apenas me ofereceu ajuda, sem me forçar a nada em nenhum momento. Como já te expliquei, fui eu quem insistiu para acompanhá-lo até aqui e tudo que ocorreu durante nossa jornada até este ponto, você já está a par.

Ao entrarmos nos portões, Brianna prontamente arrastou Vargrik para negociações, enquanto fomos encaminhadas por dois jovens, mas não sem antes curarem a mordida profunda no braço de Maezie e logo nos deixaram em uma caverna subterrânea, adornada por águas que brotavam das pedras como se fossem veias da terra.

Enquanto avançávamos, curiosos nos observavam, fixando os olhos em Maezikeen como se ela fosse uma criatura mítica recém-descoberta de um portal mal feito. Isso não apenas me irritou, como também inflamava o espírito combativo dela; em resposta, ela desafiadoramente mostrava o dedo do meio àqueles que a encaravam intensamente, uma clara indicação de que esse gesto também era universalmente ofensivo entre esse povo, pois eles rapidamente fechavam a cara e seguiam o seus caminhos ainda mais irritados.