Capítulo 19

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Vargrik


No opressor claustro do calabouço, com o ar impregnado pela umidade secular que emanava das pedras ancestrais, ele encontrava-se aprisionado, acorrentado à parede com ferros forjados pelos mestres ferreiros de Tirilosh. As correntes, pesadas e gélidas, pendiam de grilhões robustos, circundando-o com um abraço inflexível. Suas mãos estavam seguramente imobilizadas atrás do corpo por algemas que desafiavam qualquer tentativa de escape, enquanto uma pesada coleira de ferro, saturada de magia negra, adornava seu pescoço.

Esta não era uma mera coleira; era um artefato maldito, projetado para suprimir e asfixiar a força vital que pulsava vorazmente dentro dele, impedindo-o de liberar a tempestade caótica de sua verdadeira forma.

Ainda assim, aprisionado e subjugado, o espírito feral que habitava seu interior não se acalmava. Dentro dele, a besta indomável lutava furiosamente, rasgando as trevas com garras que ninguém mais podia ver, mordendo o vácuo em sua incansável busca por liberdade. Um furor contido, vibrando violentamente contra suas amarras, proclamava que sua essência selvagem jamais seria completamente domada.

Despertar na atmosfera opressiva da cela o fez perceber que a completa ausência de luz indicava que um ou dois dias já poderiam ter se passado desde que fora dominado pelo veneno. Por um milagre, a morte ainda não o havia reclamado.

Lembranças de uma febre ardente martelavam em sua mente, recordações de um estado de paralisia que se infiltrou insidiosa por cada músculo, paralisando-o naquele leito de dor excruciante. Tentativas inúteis de abrir os olhos apenas reforçavam sua impotência, como se pesadas cortinas de ferro o forçasse de volta ao abismo de um sono febril e delirante. Naquele delírio, o frio tomava posse de seu corpo, um gelo penetrante que ameaçava roubar o último resquício de calor de sua existência. Embora lutasse com todas as forças, o calor tornava-se uma memória distante, um fio frágil de esperança que se esvaía cada vez mais, deixando-o à mercê de uma friagem que parecia eterna, um adversário tão cruel quanto o veneno que lhe corrompia o sangue.

Quando os efeitos debilitantes do veneno finalmente começaram a se dissipar, Vargrik sentiu uma onda de controle retornar ao seu corpo. Esse retorno desencadeou dentro dele uma fúria avassaladora. As amarras que confinavam seus braços atrás das costas não só restringiam sua mobilidade como também incitava ainda mais sua ira.

Para os Livfomørks, a liberdade era um bem mais precioso que a própria vida, e estar encarcerado dessa maneira era uma afronta que clamava por vingança e retaliação. Lutando contra a vertigem que ainda turvava sua visão, se ergueu, uma figura imponente mesmo em sua condição enfraquecida, e começou a inspecionar meticulosamente a cela, soltando uma série de maldições contra seus captores, contra a situação em que se encontrava e contra a própria sorte que o havia trazido até ali.

O silêncio opressivo da masmorra, sepulcral, permeava cada canto daquele lúgubre recinto.

Vargrik lançou um olhar avaliador para a cela oposta, onde um prisioneiro jazia esparramado pelo chão sujo. Vestido em trapos que pareciam ter se fundido à sua pele ao longo dos anos, exalava um cheiro de desespero e abandono. Era uma visão que gritava os horrores do esquecimento prolongado na escuridão profunda daquela masmorra.

Na cela adjacente à sua, a presença da fêmea vermelha, também acorrentada e inconsciente, evocava uma mistura complexa de emoções. Como ele, ela estava imobilizada por correntes, reduzida à condição de um animal desprezível. A visão dela despertou nele um turbilhão de sentimentos conflitantes.

Então, recordações vívidas do que realmente importava irromperam em sua mente com uma clareza atordoante. Ele relembrou o calor do sangue escorrendo por suas garras enquanto rasgava a garganta de seus adversários, um após o outro, seus corpos tombando ao chão com estrondos surdos. Seus olhos, porém, haviam se fixado no corpo desfalecido, quase etéreo, de sua Lehuna. Ele podia sentir o coração dela pulsando tão lentamente que parecia estar a ponto de cessar...

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⏰ Última atualização: Apr 24 ⏰

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