Capítulo 14

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MAZIKEEN


À medida que a cápsula de fuga havia rasgado o véu da atmosfera, cada segundo aproximava-se mais de seu destino terreno, a tensão dentro do recinto crescia até se tornar quase tangível. O ar estava saturado de uma mistura de medo e determinação, cada solavanco e vibração da descida desesperada amplificava a atmosfera carregada de adrenalina.

O metal ao redor delas não apenas rangeu e gritou em protesto - ele praticamente lamentava, como se estivesse em agonia, sofrendo sob as inclementes forças da gravidade que as arrastavam para uma colisão inevitável com o solo.

Mazikeen, com sua determinação férrea, agarrou-a mais firmemente, seus braços envolvendo a menina em um abraço que significava ser tanto um consolo quanto uma couraça contra o iminente cataclismo.

No ápice tenso e crítico do impacto, a cápsula espacial tremeu violentamente e emitiu um guincho estridente, sofrendo sob a imensa força da colisão, uma força tão avassaladora que parecia desafiar as próprias leis da física. A desaceleração foi súbita e brutal, como se todo o universo tivesse conspirado para frear seu ímpeto no espaço de um segundo, lançando suas ocupantes com violência contra os limites dos cintos de segurança, que se esticaram ao máximo, cortando-lhes a pele e restringindo-lhes a respiração. Os braços de Mazikeen, tensos e fortes, tentavam inútilmente oferecer algum consolo e proteção contra o inevitável.

Foi nesse instante caótico, que o infortúnio atingiu.

Apesar dos esforços desesperados dela para formar um escudo protetor em torno de Feifei, a força implacável sobre o delicado braço da menina ultrapassou a capacidade de resistência dos ossos e tecidos, mesmo com o colete de proteção em seu corpo frágil.

Num momento de agonia silenciosa, sufocada pelo ensurdecedor tumulto metálico ao redor, o braço da menina cedeu sob o peso da catástrofe, fraturando-se dolorosamente. Presa nos braços da sua guardiã, a garotinha emitiu um grito abafado, sua expressão de dor aguda rasgando o véu da balbúrdia, um grito desesperado que mal conseguia sobrepor-se a desordem da cápsula.

Paralelamente, a sua protetora encarou seu próprio abismo pessoal.

Uma barra de suporte, arrancada de sua fixação pela dureza do impacto, navegou com brutalidade através do labirinto de metal retorcido e espaço confinado, encontrando seu caminho até a perna de Maezie com uma exatidão aterradora. O metal frio e impessoal não mostrou misericórdia ao rasgar a carne e triturar o osso, prendendo-a com violência ao que restava de seu assento, uma âncora excruciante de metal cravada em sua carne, amarrando-a irrevogavelmente aos destroços.

Enquanto a poeira começava a assentar ao redor delas, o ar foi preenchido com o odor acre de metal queimado e circuitos elétricos fritando, testemunhas mudas do desastre que havia ocorrido. Um silêncio sufocante e opressivo lentamente se infiltrou, substituindo o rugido anterior do caos.

—Dói muito...— soluçou Feifei, as palavras tremendo enquanto cortavam a quietação que as envolvia. —M-meu braço, Maezie, dói demais...

Esforçando-se para manter a compostura perante a vulnerabilidade expressa na voz da garotinha, tentou infundir uma camada de tranquilidade em sua resposta, apesar da tormenta de preocupação que rugia em seu interior.

—Shh, shh, vai ficar tudo bem... — Sua voz, embora pretendesse ser firme, vacilou ligeiramente, a urgência e o receio se entrelaçando subtilmente nas palavras, como se tentasse se esconder atrás de uma fachada de calma.

Enquanto delicadamente reajustava a posição da pequenina em seus braços, buscando aliviar o mínimo que fosse sua dor, Mazikeen foi confrontada com a visão aterradora da fratura exposta no braço da menina. A pele, dilacerada de forma grotesca, dava passagem ao branco pálido dos ossos, destacando-se assustadoramente contra o vermelho intenso do sangue que começava a formar uma pequena poça ao seu redor. Uma maldição, carregada de horror escapou por entre seus lábios trêmulos, um juramento sombrio e involuntário que se materializou em uma expressão de impotência.

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