Capítulo 8

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A audácia da resposta de Vargrik ressoava como um eco no silêncio da floresta. Sua voz profunda criava ondas sonoras, cuja força era suficiente para causar vibrações em meu corpo. Era raro um imortal mostrar tamanha ousadia diante de mim. Sua declaração, proferida com tamanha facilidade, estava repleta de convicções audaciosas que eu evidentemente não compartilhava.

No entanto, sua visão de propriedade contrastam drasticamente com a minha. A maneira como ele insistia na palavra "posse" fazia meu cenho se franzir em profundo desconforto.

— Quem lhe deu o direito de declarar que eu e Mei somos suas para reivindicar? — Retruquei, minha voz se enchendo de dissidência. Eu detestava tal tipo de afirmação, especialmente quando parecia que eu e Mei éramos as "possuídas" em questão.

O loiro, sem se perturbar, inclinou-se para frente, exibindo um sorriso astuto e manhoso. — Eis o ponto intrigante — suas palavras flutuando no ar com uma suavidade predatória, ao mesmo tempo sedutoras e carregadas de uma intensidade inescapável. — Você verá, eu não temo lutar pelo que anseio. Mesmo que o objeto de meu desejo ainda esteja inconsciente do desejo que despertou em mim.

O seu olhar deslocando-se para Mei, que se agarrava a mim como se temesse que eu pudesse evaporar a qualquer momento, a pobrezinha ainda não me soltara. Seus olhos inocentes, arregalados em choque, absorviam cada palavra que dávamos, cada expressão.  

— Quanto à sua pequenina — ele continuou com seriedade. — Jamais nutriria qualquer interesse inapropriado em uma criança. Mas, se ela é sua, se compartilha de seu sangue, então ela estará sob minha proteção. Porque o que é meu, eu defendo com a determinação do mais resiliente dos guerreiros e jamais permitirei que vocês se machuquem novamente, não sem antes lidar com o que quer que lhes queira mal primeiro.

A genuinidade de suas palavras atingiu-me como um soco direto no estômago. Algo dentro de mim tremia em resposta, um coquetel tumultuado de medo, confusão e um elemento indefinível que eu não conseguia articular. O que ele dizia era audacioso demais, direto, era como se ele não medisse as palavras que desejava dizer. Contudo, eu não poderia permitir que essa declaração estremecesse minha resolução.

— Dispensado — articulei, meus dedos realizando um gesto despreocupado que traía a aparência de indiferença, mesmo com a tensão que vibrava em cada fibra do meu ser. — Peço desculpas se de alguma forma pareci estar receptiva as suas atenções, mas eu lhe asseguro, sua proposta não encontra eco em mim. Procure outra pessoa que possa estar interessada, pois o que você oferece, por mais tentador que possa parecer para alguns, obviamente não me atrai. Entenda como uma recusa final, se quiser. 

— Você se recusa a ser minha? — Ele estava claramente insultado, unindo as sobrancelhas em um muxoxo de desagrado.

— Sim, eu me recuso — projetei minha voz de maneira confiante para preencher o silêncio palpável que se estendia entre nós. Não desviei o olhar do dele, permitindo que minhas palavras se infiltrasse em sua mente. Eu tinha plena consciência de que estava navegando por águas turbulentas, mas não havia espaço para hesitação em meu peito. — Como já lhe disse antes, há muito tempo que estou comprometida com outra pessoa. Tenho a certeza absoluta de que, mais cedo ou mais tarde, ele virá nos resgatar. Portanto, não importa o que você ofereça ou o quão persuasivo você possa ser, minha resposta permanecerá a mesma.

Apesar de não ter esperanças de que Drakramir ou qualquer outro Vetran surgisse da escuridão para me resgatar — principalmente considerando que eles não apareceram durante os dois longos anos que passei aprisionada — eu tinha confiança de que eles viriam pelas meninas. Elas eram valiosas, afinal. Soffar, antes de desaparecer misteriosamente, controlava inúmeros planetas habitados por seres poderosos, tanto mortais quanto imortais. Era um império formidável, uma força a ser reconhecida, um arsenal importante para o dominador de mundos. A tecnologia e as armas que governavam esses planetas eram avançadas e cobiçadas, e as meninas, com seu legado, eram as chaves para esse poder.

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