Capítulo 3

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Me embrenho pelos corredores da nave com uma resolução que até mesmo me surpreende, considerando o estado debilitado em que me encontro. Ainda estou me recuperando de um recente processo de ressuscitação; meu corpo é um aglomerado de dor e fragilidade. Mas não posso me dar ao luxo de parar. Mesmo que se mostre ser uma armadilha traiçoeira, eu não vou arriscar a vida das gêmeas. Eu não vou permitir que eles as toquem, que as atormentem. Elas não resistiriam ao gigante verde.

Na minha pressa, dou de cara com uma via sem saída e sou forçada a recuar, praguejando contra a complexidade da nave. Como diabos eu chegaria à seção Iv2? O silêncio e a ausência ao meu redor são desconcertantes - é como se a nave inteira estivesse desertificada.

O suor escorre pela minha espinha, minhas pernas se movimentam quase por vontade própria, apesar da dor e do esgotamento que me arrastam para baixo. Finalmente, me deparo com duas portas do corredor já abertas, como se estivessem à minha espera. 

Será que ela realmente falou a verdade? 

Será que tudo isso que está acontecendo não é algum teste mórbido para me torturar novamente?

Entro cambaleando, passo pelas portas, o meu olhar é imediatamente atraído para a placa de identificação na porta. Iv1, Ala de Triagem. 

Triagem?

Este deve ser o local onde eles processam os recém-chegados. Se as gêmeas estiverem aqui... talvez os outros também estejam. E talvez, apenas talvez, eu possa desviar o curso deste terrível pesadelo.

A porta de energia, habitualmente pulsante, está desativada, oferecendo uma entrada sem esforço. Ao cruzar o limiar da sala, um vislumbre de pele carmesim no chão faz meu coração saltar no peito. Com o peito apertado, reconheço a figura prostrada. Ela está vestindo o mesmo macacão branco e sem vida que eu.

Mazie! Meu Deus, é Mazie. Ela está viva!

Deveria sentir um alívio inundando meu ser, mas a urgência da situação me consome. Não tenho tempo para comemorar. 

Me abaixo ao lado dela, envolvendo seus pulsos delicados com as minhas mãos trêmulas e a puxo. É uma luta desajeitada, e seu corpo pesado mal se mexe. Merda! Estou fraca demais para arrastá-la pela nave.

Lembro-me das palavras da mulher: todos eles estavam em um sono profundo. Talvez eu não consiga carregar Maezie, mas posso tentar acordá-la. Sem tempo, repito mentalmente para mim mesma, enquanto dou vários tapas suaves em seu rosto, implorando para que ela acorde.

— O que?! – Ela reage, assustada, seus olhos percorrendo rapidamente pelo ambiente antes de pousarem sobre mim. Uma maldição escapa de seus lábios quando ela me encara com assombro. — Sunny? ... Sunny, é você? – Ela se ergue de uma vez, tentando tocar meu rosto num gesto de carinho.

Recuo rapidamente, batendo contra a parede fria e dura da sala de triagem. Uma dor aguda atravessa meu corpo e eu reprimo um gemido. Só de pensar em alguém encostando as mãos em mim, me faz lembrar deles... Do gigante verde me cortando e sorrindo... Me faz lembrar da dor.

Sacudo a cabeça em negação, não é hora de perder tempo com esses tipos de pensamentos. Preciso focar, precisamos sair daqui. Preciso encontrar as gêmeas e descobrir como tirá-las daqui.

— Não temos tempo! – As palavras saltam dos meus lábios, empurradas pelo medo e pela urgência. Tropeço de volta ao corredor, sem esperar pela resposta que ela poderia dar, minha respiração é irregular, entrecortada. — Precisamos encontrar as gêmeas... eles vão acordar logo. Mais alguém foi capturado com vocês? Os outros também foram aprisionados aqui? – A pergunta paira no ar, encharcada de receio.

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