Capítulo 9

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Enquanto Vargrik nos conduzia de volta pela trilha verdejante que havíamos traçado no escuro da noite, sua presença nos envolvia em um fluxo constante de perguntas. Após uma tentativa mal-sucedida de aproximação, que me fez saltar para trás quase por reflexo, ele manteve uma distância respeitável de nós. No entanto, isso não reprimiu a enxurrada de perguntas que parecia pronta para jorrar dele a cada segundo. Cada resposta que fornecíamos parecia apenas intensificar sua curiosidade, acendendo em seus olhos um brilho que me lembrava o de um explorador se aventurando em um território desconhecido pela primeira vez.

Uma de suas indagações mais insistentes era a respeito da minha natureza. Para ele, eu não emanava a aura convencional dos imortais, mas sim um vislumbre de eternidade que parecia mexer com suas concepções preestabelecidas.

Ao mencionar um 'cheiro' que eu supostamente exalava, uma ruga de perplexidade franziu minha testa. Eu não pude deixar de questionar mentalmente se, por algum motivo, estava fedendo. No entanto, ele foi veloz em esclarecer, garantindo que era um aroma peculiar e atrativo, um 'cheiro bom', como optou por chamar. Apesar da estranheza do comentário, havia algo provocante nessa observação.

Ao ser questionada sobre a minha existência entre as estrelas, a estrutura do meu dia-a-dia, se eu tinha uma família, eu optei por ser evasiva, dando respostas vagas e tentando desviar a conversa sempre que possível. No entanto, Vargrik era como uma nascente incessante de curiosidade, com perguntas fluindo sem fim. Além disso, eu não queria me lembrar... dele... do gigante e seus instrumentos de tortura perfurando minha pele, rasgando minha carne... A lembrança do pânico que me fazia suar frio... De alguma forma, estar aqui, com os pés descalços na terra e respirando o ar fresco deste planeta, não o ar viciado e reciclado da nave, tornava mais fácil afastar os pensamentos assustadores que ameaçavam invadir minha consciência. Era mais fácil ignorar a dor apertando meu peito ao apreciar a cor intensa da natureza deste mundo, que me lembrava tanto de casa, da fazenda onde nasci. Surpreendentemente, até as incessantes perguntas deste homem-fera eram menos incômodas do que eu esperava, na verdade, elas estavam ajudando a manter minha mente ocupada, afastando os pensamentos sombrios que poderiam me assolar. Os pensamentos que estavam a beira de me invadir por completo.

Quando questionou sobre o meu nome e ouviu minha resposta, notei uma centelha de fascínio em seus olhos. Foi nesse momento que Mei interveio, oferecendo a tradução de 'Sunny', em minha língua materna - um termo que, na verdade, não tinha equivalente em Primaeternum. Apesar disso, depois de ouvir a tradução, ele passou a me chamar de 'Ensolarada', uma interpretação livre que ganhou um toque terno em sua voz rouca. Por mais sutil que fosse a alteração, de alguma forma parecia adicionar grau de intimidade inesperado à nossa relação.

Mei, por outro lado, parecia encantada com a presença dele. Ele a incluía em todas as conversas, perguntando sobre sua vida, seus interesses, fazendo seus olhos cinzentos brilharem com cada nova questão.

Já amanhecia quando chegamos ao nosso destino. A transição da noite para o dia me fez questionar a duração das noites neste planeta. Em alguns mundos, as noites podem ser incrivelmente longas ou estranhamente breves. Aqui, entretanto, parecia haver um equilíbrio. No céu, a ascensão do sol era acompanhada por uma lua visível ao norte. A visão era deslumbrante - a lua noturna já era surpreendentemente grande, mas a lua que acompanhava o sol era ainda maior, tingida de um tom marrom que contrastava fortemente com o azul claro do céu azul. Uma paisagem que proporciona um fascinante espetáculo de cores e luzes.

— Venha, Ensolarada — a voz de Vargrik rasgou o véu de meus pensamentos. — Sua saúde é primordial e, para isso, a alimentação é vital. Como Caede está completamente engajada nos cuidados de Norah, pedirei a Yerik para cuidar do seu ferimento.

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