Capítulo XIV

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AVISO: Alerta de gatilhos para este capítulo.

(Pov Melina)

Era segunda e eu estava enfurnada dentro do meu quarto. Hanna estava na escola e eu resolvi faltar a minha.

Não estava nem um pouco afim de olhar para a cara do Tom. Não sabia se tinha exagerado, mas de qualquer forma eu não quero saber de mais nada. Não parava de pensar nele em nenhum minuto sequer ainda assim, tentava me convencer de que não sentia absolutamente nada por ele e que isso tudo não passou de uma perda de tempo enorme.

Eu fui uma idiota, agi como se tivesse um parafuso a menos. Só sei que a insegurança e o medo tomou conta de mim naquele momento, fiquei completamente cega e perdi toda a minha racionalidade. Não entendia o porquê, mas ver Tom conversando com outra garota parecia mais do que uma traição. Não tínhamos um relacionamento, mas nós dois tínhamos alguma coisa afinal...

Eu devia estar encarando o teto do meu quarto há horas, sem fazer nada deitada na minha cama. Talvez estivesse esperando Tom jogar pedras na minha janela e aparecer para falar comigo, o que era errado da minha parte. Eu sou orgulhosa e sei que ele também é.

O tempo ia passando e eu sentia que a qualquer momento eu iria surtar. Vai saber se eu estava certa ou não, mas a falta que eu sentia dele parecia querer me consumir.

Resolvi sair um pouco de casa e ir até o lugar que sempre vou para fugir. O dia estava muito bonito, do jeito que eu gostava. Tinha sol mas não estava um calor infernal, o clima era bom.

Quando cheguei, me deitei numa sombra e acendi um cigarro, observando qualquer pássaro ou algo que prendesse a minha atenção.

— Que é, me seguiu? — Tom apareceu ali de pé, enquanto olhava para baixo, em minha direção.

— Merda. — Me assustei e comecei a tossir por conta da fumaça. — Achei que estivesse na escola.

— Não fui, não queria ver a sua cara. — Ele se afastou.

— Nem eu a sua. — Me sentei. — Mas beleza, vou ir embora.

— Eu que deveria ir, o canto é seu.

— Meu nome não tá escrito em nenhum lugar por aqui.

— Sabia que pela primeira vez na minha vida, esperei alguém correr atrás de mim? — Tom parou na minha frente outra vez, com seus braços cruzados. — Eu esperei porque não fiz nada de errado e falei para mim mesmo que faria dar certo dessa vez.

— E o que quer, que eu peça desculpas? — Me
levanto, ficando de pé. — Quer um prêmio de honestidade?

— Quero que reconheça o erro, só isso. — Ele se aproxima. — Não precisava agir daquela maneira infantil.

— Você também não foi muito maduro.

— Mas eu não fiz nada de errado.

— Ok.

— Porra cara, tu só pode tá zoando comigo. — O rapaz ri incrédulo. — Eu ainda quis me aproximar!

— É só se afastar, simples! Não preciso da sua pena, Kaulitz.

— Quer saber de uma coisa? — Ele vem mais para perto. — Tu vai se ferrar sozinha, sua doida!

— Tom... — Meus olhos enchem de lágrimas. — Se ferra você. — Me virei e sai andando dali dando as costas para ele, tentando esconder o choro.

— Melina, espera!


...

Sou a pessoa mais burra do mundo, mas o que eu poderia fazer? Não estou acostumada com nada de bom na minha vida, sempre estrago tudo mesmo se tiver a mínima chance de dar um pouquinho certo.

Talvez eu merecesse ficar mesmo sozinha e me ferrar, sei que esse é o meu futuro. Não consegui pedir umas simples desculpas, só fodi mais ainda a situação.

Voltei para casa o mais rápido que pude, não queria que Tom me visse chorando ou tentasse falar comigo novamente. Se conversamos agora é capaz de piorar, se ainda tiver como.

Meu pai havia chegado e como sempre, já estava completamente bêbado. Ele me olhou com raiva quando viu que pelas minhas roupas, eu não fui para a escola.

— Aonde estava? — Perguntou. — E não foi estudar por qual motivo?

— Não estou me sentindo bem. — Respondi indo até a cozinha buscar um copo d'água. — Sai para caminhar um pouco.

— Mentirosa! — O homem foi até mim. — Sei que estava com aquele bandido! Sabe o que andam falando dele por aí?

— E daí se eu estava? — Aumentei o tom de voz, me alterando. — Eu já sou bem grandinha e sei o que estou fazendo da minha vida!

— Agora você tá se achando porque o namoradinho tem uma arma, não é? — Meu pai bate na minha mão, derrubando o copo, fazendo o vidro se espalhar pelo chão de toda a cozinha. — Acha que vou tolerar filha minha namorar marginal?

— Desde quando se importa comigo? Você só se importa em encher a cara!

— Quem manda em você sou eu. — Ele me dá um tapa no rosto e me derruba, fazendo com que eu caia em cima dos vidros. — Cadê o seu defensor para apontar uma arma para mim agora?

— Por favor... para. — Me senti mais fraca quando os cacos rasgaram a minha pele.

— Anda tão estressada gritando comigo! — Meu pai tira o cinto. — Tanto estresse assim só pode ser falta de um homem de verdade!

— O que está f-f-fazendo? — Meu corpo inteiro treme de pavor.

— Vou te ensinar a ser mulher, já não é grandinha? — Ele se apoia em mim e passa a mão na minha perna, me fazendo temer pelo que estava para acontecer. — Agora vou calar essa sua boca!

— Que merda é essa, Richard?! — A voz da minha mãe estronda na cozinha. — É a sua filha, doente!

Eu não tinha nenhuma reação, não conseguia me mexer. Meu corpo não me obedecia e eu parecia já não ter mais nenhum sentido ativo. Aquilo realmente iria acontecer se minha mãe não tivesse chegado?

A mulher me ajuda a levantar depois de eu escutar mais gritos e barulho de coisas sendo arremessadas e quebradas. Tudo em mim doía, tinha sangue nas minhas roupas e nas minhas pernas.

Pela primeira vez senti afeto vindo da minha mãe quando ela me levou até o banheiro e tirou cada caco de vidro que ainda cortava a minha pele. Eu não falava, não me mexia, simplesmente não tinha força para fazer absolutamente nada.

Por que eu era tão machucada desse jeito? E todas essas feridas sempre vem de pessoas que deveriam me amar, não acabar comigo. Eu deveria ter amor de um pai, de uma mãe... Por que tanta coisa ruim acontece assim? Será que sou tão ruim que mereço todo esse ódio?

Eu temo pela minha vida na minha própria casa, isso não é certo. Um pai não deveria abusar da própria filha... que sensação horrível. Eu queria morrer, não aguentava mais tanto sofrimento.

A única pessoa que é capaz de me manter aqui é a Hanna... e o Tom. Vivo por eles.

Mas não sei até quando vou aguentar.


*notinha da autora*

sim eu sei que sempre acabo abordando temas pesados, mas eu sei que precisamos falar sobre eles. tem mais coisa para rolar na fic, não se vcs forem sensíveis a esse tipo de conteúdo eu recomendo que não leiam.

amo vcs!!

Intoxicação - Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora