Capítulo 1: Foi Pra Sempre Enquanto Durou

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Segunda temporada para vcs.
Cahferr Obrigada pelos comentários na primeira temporada...
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Já se passara um ano do acidente, e minha vida continuava exatamente a mesma. Cumpria as mesmas rotinas naquela cidade e nada mais fazia sentido, voltar para aquele apartamento frio, solitário, representava um sacrifício que eu não estava mais disposta a pagar.

Estava mais do que decidida a antecipar a defesa do meu doutorado e voltar para o Brasil o quanto antes. Permanecer em Londres, fingindo fortaleza depois da tragédia que outra vez assolou minha história, foi um erro. Precisava estar perto das pessoas que eu amava e que me amavam também.

Minha vida desde o fatídico 31 de maio de 2019, perdeu o sentido. Sempre que me lembro, desejo voltar no tempo e impedir que Natalie entrasse naquele vôo. Nossos últimos dois anos juntas foram conturbados, na maior parte do tempo estávamos separadas, pelos compromissos profissionais. Por isso, nossa rotina de viagens era constante, todo o tempo que podíamos, uma viajava para encontrar a outra, e foi justamente para ir ao meu encontro, que Natalie partiu do Rio para Paris, onde eu estava em um Congresso Internacional de Neurologia.

Era um domingo, por volta das 19h quando Natty me ligou, amorosa como sempre:

- Amor, estou embarcando, daqui a pouco vou desligar o celular, amanhã estarei pertinho de você pra matar essa saudade toda...

- Vou estar te esperando cedinho no Charles de Gaulle. Vou comprar aqueles brioches que você adora, bem quentinhos... Cheia de saudade meu amor...

- Mila estou levando tanto pão de queijo que sua tia mandou, que estou com medo de ser presa por tráfico...

Gargalhamos ao telefone.

- Amor, quando você estiver grávida, não tenha desejos mineiros em Londres... Vai ficar difícil atender e nosso filho vai acabar nascendo com cara de feijão tropeiro...

- ... mais seguro que eu passe a gravidez no Brasil amor... A comida daqui é um horror...

- Conversamos isso quando eu chegar aí, agora tenho que ir. Até daqui a pouco meu amor.

- Boa viagem, minha vida...

- Obrigada, tchauzinho.

- Ei!

- Oi, amor.

- Te amo.

- Também te amo, minha vida...

Essa foi a última vez que nos falamos. Natalie embarcou no vôo AF 447. O vôo da Air France que caiu no Oceano Atlântico, após uma pane elétrica, após atravessar uma área de tempestade. Ainda era noite quando fui ao aeroporto buscar Natalie, com um embrulho de padaria, com os brioches que ela adorava. Minha ansiedade por rever meu amor deu lugar a uma angústia inexplicável que me sufocava, quando cheguei ao saguão, a concentração de repórteres, e de pessoas apavoradas, algumas em desespero, anunciaram as piores horas de minha vida.

Busquei informações com os funcionários da Air France, e para meu desespero, afirmaram o desaparecimento da aeronave, desde a madrugada, às 23h no Brasil. Pelo susto da notícia, fiquei paralisada, o embrulho, deixei cair no chão, como se não tivesse forças para segurar nada, nem meu próprio corpo. Tive a sensação de desmaio, e fui amparada por um dos funcionários que me acomodou em uma poltrona, e nesse momento meu celular tocou, no display o número de minha sogra:

- Mila?

- Oi...

- Minha filha... Diga que Natalie não embarcou nesse vôo, pelo amor de Deus...

Sei que é amor - Ainda sei, é amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora