Capítulo 2: Refazendo Minha Rotina

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O meu trabalho era meu refúgio, por isso não adiei minha volta. Na sexta feira, me apresentei à Universidade para reassumir meu posto e as propostas especialmente na área de pesquisa e extensão choveram. Mas, meu compromisso com a pesquisa de Natalie era como uma missão sagrada, dessa forma, pedi apenas para voltar ao grupo de estudos, bem como coordenar a residência em neurologia e o convênio com neurocirurgia, a fim de continuar com as intervenções com o neurochip, que nos últimos anos, Natalie fez aperfeiçoamentos incríveis, e a nossa parceria com os doutorandos de neurociências possibilitou intervenções no tratamento de sequelas de aneurismas o que deu a nós visibilidade internacional na medicina.

O novo semestre recomeçaria em dois meses, e só então eu assumiria a coordenação, até lá, voltei para o Hospital das Clínicas para o atendimento no ambulatório de neurologia. Já fazia algum tempo que eu não tinha contato direto com pacientes. O período do doutorado foi puramente acadêmico, e na minha tese usei somente os dados dos pacientes já tratados pelo nosso grupo de estudos.

O reencontro com os funcionários do Hospital foi melancólico, mas agradável. Lucas e Carla, meus colegas na residência continuavam na equipe, e Eliza, a secretária fiel de Natalie se apresentou disposta a ser também minha secretária, me abraçou emocionada e eu não fiquei imune a tal emoção, revê-la me trouxe de volta tantos momentos em que ela foi fundamental para fazermos as pazes...

Harry praticamente teve um ataque epilético ao me ver entrando na urgência, agora chefiada por ele. Meu amigo se remexia todo, colocando a mão no peito com os olhos arregalados exclamou:

- Camila cara de remela! Devo estar alucinando! Por que minha amiga está na Europa e não voltaria sem me avisar antes...

- Deixa de drama bicha, vem cá me dar um abraço.

Fingindo indignação, ele fez uma expressão caricata, mas não tardou em ir de encontro aos meus braços abertos.

- Como assim chegou sem avisar?

- Decidi tudo rápido, mas o importante é que estou de volta.

- De volta mesmo? Sem esse papo de popstar internacional da medicina?

- Exagerado... Por enquanto, só quero reassumir meu lugar no Hospital e na Universidade.

- Ótimo! Isso pede uma super festa! Vou preparar tudo, ligo para aquela chata da Dinah e amanhã mesmo ela estará aqui, assim apresento meu marido as duas de uma vez só...

- Marido? Como assim? Own... Festa, não!

- Sim e sim. Marido sim e festa sim...

- Harry foi justamente por isso que não te avisei antes sobre minha chegada, não quero festas.

Disse irritada.

- Olha aqui dona Camila, você está parecendo uma morta-viva, tenho certeza que sua última balada foi a troca da guarda real em Buckingham... Vou reunir alguns amigos, na minha casa nova e você vai estar lá, se não quiser que eu me transforme em seu inimigo de morte!

Não tinha como dizer não ao Harry, ele sabia ser persuasivo, apesar da minha indisposição para sair de casa, rever Dinah e outros amigos não era uma má ideia, antes uma festinha em casa do que uma balada típica do Harry.

No sábado à noite segui para casa de Harry, Dinah já estava lá, e o Harry como sempre caprichou nos detalhes da decoração, a música, bem, tinha que ter o "tuque tuque" típico do gosto musical gay do meu amigo, e a população da classe de homens sarados e com trejeitos afeminados ou não no espaço representava uma explosão demográfica gay.

Alguns casais de meninas espalhados e eu me sentindo a última das lésbicas virgens passeando entre elas, até ouvir o grito agudo conhecido:

- Milaaaaaaaaa!!!

Sei que é amor - Ainda sei, é amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora